Por: Clara Guimarães
Os contratos futuros de juros longos fecharam em alta nesta quarta-feira no Brasil, enquanto os curtos recuaram, após os sinais de interferência do governo sobre o patamar da taxa de juros no Brasil e as medidas na área de combustíveis anunciadas ontem pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).
Ao fim da sessão regular, o DI com vencimento em Jan/25 recuava 3 pontos-base, a 12,655%. Já os vencimentos de longo prazo subiram, com o DI para Jan/27 avançando 4,5 pontos-base, a 13,015%; o de Jan/29, 7 pontos-base, a 13,41%; e o de Jan/31, 8 pontos-base, a 13,56%. Por volta das 16h30, o dólar futuro recuava 0,91% na B3, aR$5,224.
Ontem, em coletiva de imprensa, Haddad fez declarações que aumentaram o temor de interferência do governo no Banco Central, voltando a criticar o patamar elevado da taxa de juros e argumentando que ela impede o crescimento econômico do país. O ministro, no entanto, disse que as medidas anunciadas pela pasta auxiliarão na melhora das contas públicas e culminarão no início do ciclo de queda dos juros.
Em entrevista ao vivo ao UOL nesta quarta-feira, Haddad citou, em outras palavras, que a ata da última reunião de juros do Comitê de Política Monetária mostrou que a reoneração dos combustíveis no médio e longo prazo não é inflacionária, mas colabora com o corte da taxa Selic.
Fontes de mercado ouvidas pela Mover afirmaram que a “pressão” do governo sobre a política de juros adotada pelo BC, sob o comando de Roberto Campos Neto, será algo corriqueiro já que o atual presidente da autoridade monetária não é indicação da atual presidência da República.
Analistas consultados pela Mover também citaram que a preocupação com os efeitos colaterais das medidas anunciadas ontem por Haddad, como a taxação das exportações de petróleo bruto, contribuíram para a virada das taxas de juros longas.
“Além do impacto para petroleiras, o imposto sobre exportação abre precedente negativo, inclusive para outros setores, de que para o governo conseguir ‘dinheiro fácil’ vai poder taxar ‘a torto e a direito’ todo e qualquer setor”, disse o chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, Idean Alves.
No exterior, os rendimentos do Treasury de dez anos operavam em alta de 8,4 pontos-base, a 3,998%, perto das 16h50, com investidores avaliando declarações mais duras de diretores do Federal Reserve. Hoje, o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, disse estar aberto à possibilidade de um aumento maior da taxa de juros americana, “seja de 25 ou 50 pontos-base”.