Por Fabricio Julião
A desaceleração dos núcleos da prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo,o IPCA-15, em março é um sinal relevante para a política monetária, ainda que o dado amplo tenha desacelerado menos que o esperado, para 0,69%, ligeiramente acima do consenso das projeções de 0,65%.
Segundo o especialista em renda fixa e sócio da Quantzed Ricardo Jorge, a “prévia da inflação” trouxe indícios de arrefecimento nos preços gerais, o que sustenta a posição do Banco Central de combate à inflação e abre caminho para um corte na Selic adiante.
“Os núcleos servem como indicadores gerais de determinados grupos, e uma desaceleração nos traz a informação de que o nível de preços está cedendo em várias categorias diferentes”, afirmou.
A média dos núcleos do IPCA-15 teve variação negativa de 0,25 ponto percentual de fevereiro para março. Em fevereiro, a média dos núcleos estava em 0,68%, enquanto em março o número passou a 0,43%.
Segundo a TC Matrix, que analisou um número maior de cestas, a diferença é ainda mais significativa. A variação média dos núcleos foi de 0,73% em fevereiro e passou para 0,46% em março, resultando em uma queda de 0,27 p.p.
“O Copom utiliza o IPCA como principal indicador para avaliar a evolução de preços, então à medida que começamos a ver melhora nos núcleos, pode ser que o Banco Central tenha espaço para afrouxar a política monetária”, acrescentou Jorge.
As taxas de contratos futuros passaram a cair acentuadamente após a divulgação do IPCA-15 e depois de terem fechado em alta significativa na véspera. Movimento também responde à queda acentuada das taxas dos títulos no exterior. Por volta das 11h45, o DI com vencimento em Jan/25 cedia 15 pontos-base, a 11,95%, enquanto o com vencimento em Jan/27 recuava 10 pontos-base, a 12,25%.
Já no exterior, o juro projetado pelo título do Tesouro dos EUA de 2 anos cedia 14 pontos-base, a 3,697%, diante da apreensão com a situação dos bancos. Para o sócio e gestor de fundos multimercado da XP Asset Management, Bruno Marques, isso explica também a queda dos juros futuros no cenário local.
“A queda das taxas tem muito mais a ver com o que está acontecendo lá fora, com as taxas de juros fechando bastante, o mercado querendo antecipar uma piora mais forte do crédito que talvez faça o Fed rever a política monetária”, disse Marques. Ele citou ainda a composição benigna dos núcleos do IPCA-15 como fator adicional.
Na véspera, o mercado de juros reagiu em forte alta a críticas ampliadas ao Banco Central após comunicado visto como duro emitido pelo Comitê de Política Monetária na quarta-feira, o que esvaziou a expectativa de corte da Selic na reunião de maio.