Por Bruno Andrade
A inflação brasileira está menor que a dos EUA pelo sétimo mês consecutivo, mostram dados comparativos, vistos nesta quarta-feira (12), entre o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e o Consumer Price Index (CPI). Este é o maior período já registrado em que o aumento de preços no Brasil é menor que o dos EUA.
Em março, o IPCA soma 4,65% em 12 meses, já o CPI avança 5%.
Segundo o economista-chefe do TC Matrix, Fabrício Henrique Silvestre, o melhor desempenho da inflação brasileira na comparação com o indicador americano foi ocasionado pelas deflações do terceiro trimestre de 2022.
“Isso só aconteceu por causa das medidas fiscais que desoneraram combustíveis e energia elétrica”, afirmou. O ato aconteceu após a inflação assombrar o primeiro semestre do último ano do governo Bolsonaro, quando chegou ao patamar de 12,1% no acumulado de 12 meses até abril de 2022.
Na época, a alta era puxada pela disparada do petróleo no mercado internacional. “A medida contribuiu para as quedas de preços nos meses de julho, agosto e setembro, de 0,68%, 0,36% e 0,29%, respectivamente”, explicou.
Já para a economista-chefe da Coface da América Latina, Patrícia Krause, o aperto monetário mais forte e antecipado contribuiu para um melhor controle da inflação no Brasil.
“O Banco Central brasileiro entendeu antes que o processo inflacionário não era transitório e começou a subir juros em março de 2021, enquanto o Fed começou a fazer isso só em 2022”, disse.
No entanto, eles concordam que o corte de juros no Brasil em 2023 depende muito da aprovação de um arcabouço fiscal crível.
Um dos motivos para esse ceticismo de parte dos analistas, é que mesmo com a redução da inflação nos últimos meses, ela não deve ficar dentro da meta no término do ano. De acordo com Silvestre, o acumulado percentual de 12 meses deve voltar a subir após o segundo semestre.
“A partir deste momento o efeito das deflações acumuladas entre julho e setembro de 2023 começam a sair do percentual acumulado em 12 meses, o que levará a inflação acumulada em 12 meses subir para 6,21% até setembro de 2023 nas nossas contas”, disse.
Com a inflação fora da meta, o Banco Central ficará entre a cruz e a espada, e uma decisão de corte de juros precisaria de algum gatilho.
Segundo o analista da Top Gain Research, Leonardo Santana, o principal ponto impulsionador para esse corte de juros seria uma melhora na tensão fiscal. “O suposto arcabouço fiscal apresentado por Fernando Haddad não foi muito atrativo para o mercado” disse. “Não há um projeto sólido, apenas algumas apresentações em PowePoint”, criticou..
Segundo o analista, o problema é que o governo não delegou na proposta de onde viria o dinheiro para atingir as metas fiscais. Todavia, ele comenta que se o governo conseguir ajustar os “buracos” do arcabouço fiscal, há uma pequena possibilidade de queda dos juros em breve.
“Se o Haddad conseguir, de forma efetiva, mostrar que consegue aumentar a receita em R$150 bilhões, e o projeto passar de forma célere no Congresso, o corte de juros está próximo”, disse.