Ibovespa entra em correção após corte da Selic

Índice depende de pautas econômicas e commodities para novo "rali"

Vinicius Martins
Vinicius Martins

Por Luca Boni

Após registrar altas à espera do início do ciclo de cortes de juros no Brasil, o Ibovespa entrou em um movimento de correção que o levou à marca de 13 quedas consecutivas até ontem – a pior sequência desde a criação do índice, em 1968. Agora, especialistas acreditam que um novo rali só deve se sustentar com o andamento de pautas econômicas no Congresso e com a retomada das commodities, além do controle da inflação em economias desenvolvidas.

Desde janeiro, o Ibovespa sobe 5,15% e vinha em movimento ascendente até 26 de julho, quando tocou a máxima de fechamento do ano, em 122.560 pontos, no maior patamar em quase dois anos. No pano de fundo, estava a elevação da nota de crédito soberana do Brasil pela agência de classificação de risco Fitch – um reconhecimento da melhoria fiscal do país.

No entanto, consolidado o primeiro corte de juros pelo Banco Central em três anos, o Ibovespa passou a entrar em território de correção. Entre 2 de agosto, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC reduziu a Selic em 0,50 ponto percentual, até hoje, o índice já caiu 4,8%.

Segundo o head de renda variável da A7 Capital, Andre Fernandes, as recentes quedas do Ibovespa sinalizam que o mercado já estava precificando uma redução de juros um pouco mais agressiva. Após a decisão do BC e informações mais contundentes de que o ritmo dos cortes não deve mudar, “o mercado entrou em um modo de realização de lucros”.

De agora em diante, para Fernandes, as atenções de investidores se voltam para os cenários político e econômico, já que pautas importantes – como o arcabouço fiscal, e as Reformas Administrativa e Tributária – ainda estão no Congresso. “Essas pautas precisam ter seguimento para eliminar as incertezas [dos investidores]. Caso isso ocorra, o Ibovespa pode voltar a andar”.

Outro ponto importante para o aumento da demanda pela bolsa brasileira, segundo Fernandes, é a retomada dos preços das commodities, já que exportadoras e empresas ligadas a matérias-primas têm grande peso no Ibovespa. Recentemente, o petróleo chegou a se recuperar, mas as commodities metálicas como o minério de ferro seguem em tendência de baixa. “Elas ainda não se recuperaram por conta da lenta retomada da economia chinesa, que é a principal consumidora”, disse Fernandes.

As quedas recentes do Ibovespa também são resultado da saída do capital estrangeiro – no acumulado de agosto, investidores do exterior retiraram mais de R$8 bilhões da bolsa, segundo dados da B3. Para analistas, eles também preferiram embolsar lucros após os cortes da Selic e reforçaram sua cautela devido à deterioração da recuperação econômica da China – principalmente para países emergentes mais dependentes do gigante asiático, caso do Brasil.

Do ponto de vista técnico, o Ibovespa testou uma forte região de resistência nos 120 mil pontos e não conseguiu se manter acima deste nível de preço para destravar novas altas. Segundo o analista técnico da Conecta Investimentos, Bruno Mazzoni, o índice agora encontra um suporte relevante na região dos 113.700 pontos e, para voltar a ter um viés de alta, é preciso operar acima dos 125.360 pontos.