Guerra entre Israel e Hamas pode levar petróleo para US$150

Alta das commodities pode ser oportuna para o Brasil, dizem analistas

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Por: Fabricio Julião

A guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas deve causar fortes oscilações nos preços das commodities, em especial nos do petróleo, caso o Irã se envolva oficialmente no conflito – o país engloba em seu território o Estreito de Ormuz, por onde passa um terço da produção mundial da commodity. Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, caso esta via de transporte seja interrompida, a redução da oferta poderá levar o barril de petróleo dos atuais US$89,54 para acima de US$150.

Ainda não se sabe o nível do envolvimento do Irã na ofensiva do Hamas ocorrida em 7 de outubro, que provocou a reação do governo do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. O regime iraniano é um conhecido financiador do grupo extremista de Gaza, e o grande temor do mercado recai sobre sua entrada em definitivo na guerra.

O vice-ministro de petróleo do Irã, Mohammad Hadi Nejad-Hosseinian, afirmou recentemente que a guerra pode levar o preço do barril de petróleo para acima de US$100. Desde 7 de outubro, quando o Hamas atacou Israel, até o fechamento de ontem, o Brent futuro já avançou 5,73% na bolsa de Chicago.

Segundo o CEO da Tarraco Commodities Solutions, Gilberto Cardoso, a entrada oficial do Irã no conflito provocaria uma reação em cadeia de disparada de preços nas commodities no curto prazo.

“As commodities energéticas serão as primeiras impactadas, e os preços globais de gasolina, diesel e gás devem subir. Commodities minerais e metálicas também teriam alta em um primeiro momento, pois os custos de energia, produção e transporte sobem. Nesse cenário, o avanço dos preços de fertilizantes provocaria ainda a alta dos alimentos”, afirmou ele, em entrevista à Mover.

Cardoso não trabalha com este cenário, mas afirmou que caso ele ocorra o rali das commodities não seria sustentável no decorrer do tempo. “Se isso acontecer, os bancos centrais podem postergar o fim das altas de juros para conter a inflação no curto prazo, o que promoveria menor crescimento global e menor demanda dos países, levando à queda dos preços no médio e longo prazo”, acrescentou.

A possibilidade de entrada do Irã no conflito depende de movimentações geopolíticas e da própria decorrência da guerra, segundo o professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Rodrigo Amaral. Para ele, o posicionamento dos Estados Unidos de responder imediatamente a intimidações em apoio a Israel será fundamental para a contenção dos ânimos.

“Para o Irã não interessa escalar o conflito, porque o país tem estabilidade política e econômica. Apesar de o ministro das relações do país ter sinalizado a possibilidade de ações militares, essa probabilidade diminui à medida que os EUA se tornam cada vez mais ativos no conflito diplomaticamente”, declarou.

IMPACTOS NO BRASIL

Alguns especialistas ouvidos pela Mover ressaltaram que o Brasil pode ser favorecido em um cenário internacional de disparada do petróleo. Para Cardoso, da PUC-SP, o país seria impactado positivamente em receitas e na balança comercial, por se tratar de um grande exportador da commodity, mesmo com o custo maior de importação de fertilizantes.

Já na visão de Pires, do CBIE, o aumento global dos preços dos combustíveis deve ser enfrentado como um problema pelo governo brasileiro, principalmente após o fim do Preço de Paridade de Importação (PPI) anunciado em maio pela Petrobras. O especialista disse acreditar que haverá represamento de preços.

A Petrobras é a única empresa de petróleo do mundo que torce para o preço do barril não subir. Acredito que se a cotação ultrapassar os US$150, o acionista da empresa será lesado. Não acho que o governo vai aumentar os combustíveis na mesma medida da paridade internacional”, afirmou Pires, que chegou a ser indicado para assumir a presidência da companhia no ano passado pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL).

O professor de geoeconomia internacional da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo, Leonardo Trevisan, destacou que a atuação do Brasil até o momento é benéfica para estreitar relações comerciais com os países envolvidos na guerra. Segundo ele, o conflito pode harmonizar ainda mais a relação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o presidente americano Joe Biden.

“O Brasil tem conseguido manter uma posição equilibrada e de diálogo com os dois lados. A diplomacia brasileira sempre foi assim, pacificadora, e a posição tomada neste conflito é muito semelhante à norte-americana, aproximando mais Lula e Biden após o encontro dos dois”, afirmou o professor.

Apesar de Lula ter sido criticado por não culpar nominalmente o Hamas pelos ataques a Israel no início do conflito, Trevisan, da ESPM-SP, disse que o posicionamento do governo com Israel facilitou a retirada de brasileiros presos na região da Faixa de Gaza.

“A relação com Israel é amistosa, assim como com a Palestina, e isso possibilitou conversas com os dois lados. Já a Colômbia adotou publicamente um posicionamento contrário à nação judaica, em que já é possível ver os reveses diplomáticos”, concluiu.

Na semana passada, o presidente colombiano Gustavo Petro comparou o bloqueio total de Israel a Gaza a uma ação nazista. Em resposta, o governo israelense suspendeu as exportações de material de defesa para a Colômbia.