São Paulo, 02/12/2024 – O diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, descartou nesta segunda-feira tomar medidas atípicas para controlar o câmbio e disse que não haverá ideologia nas decisões sobre taxa de juros.
Galípolo, cujo posto, dentre outras atribuições, é responsável pela área da autuarquia que decide sobre eventuais intervenções no mercado de câmbio, falou em participação em evento da XP com investidores em São Paulo.
As declarações de Galípolo vieram pouco após o Partido dos Trabalhadores (PT), do presidente Lula, publicar em redes sociais montagem que qualifica o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, como “milionário que deixou o dólar atingir alta histórica de R$6,00″.
Ao abordar justamente o tema do câmbio, respondendo sobre a possibilidade de intervenções para controlar o dólar, cuja apreciação ante o real tem ajudado a ampliar a desancorarem observada nas expectativas de inflação, Galípolo reiterou que o BC só atua no mercado quando identifica “disfuncionalidades”.
“Essa é uma discussão que às vezes vai surgir. Tem US$370 bi de reservas, por que não ´segura no peito´ (a cotação do dólar)? Quem está no mercado e está assistindo sabe que não é assim que funciona”, afirmou. “O câmbio flutuante é um dos pilares”.
Após um ciclo de redução de juros interrompido em junho por preocupações com a inflação e expectativas, o BC voltou a subir a Selic em setembro, com altas de 25 e 50 pontos-base desde então, citando também o câmbio depreciado e a atividade e mercado de trabalho aquecidos. Todas decisões de elevação foram unanimidade no BC, inclusive com voto dos quatro diretores já indicados pelo governo Lula, de total de nove membros votantes.
‘SEM IDEOLOGIA’
Questionado no evento da XP sobre eventuais mudanças na política monetária após a mudança no comando do BC e a posse de de mais três nomes indicados por Lula na semana passada, que tornarão a ala “governista” do BC dominante, Galípolo disse não projetar mudanças radicais.
“Seria um grande avanço se no Brasil cada vez mais a política monetária for cada vez mais uma resposta ao que é o arcabouço legal e institucional da política monetária brasileira, e menos às idiossincrasias de cada uma das pessoas indicadas ou coisa do tipo”, afirmou Galípolo, citando em seguida uma frase adaptada do ex-presidente do Fed, Ben Bernake.
“Não existem ateus em trincheiras e nem ideólogos em Bancos Centrais do Brasil”, brincou Galípolo. “Não dá para você ter essas posições”, acrescentou.
O futuro chefe do BC referia-se a uma fala de Bernanke, durante a crise de 2008, quando o futuro Prêmio Nobel de Economia afirmou, ao anunciar o resgate do grupo de seguros AIG, que “não existem ateus nas trincheiras ou ideólogos em crises financeiras”, ao defender um plano de resgate da economia de US$700 bilhões.
´COMBINAR COM OS RUSSOS´
Talvez falte combinar com os “russos”, como dizia Mané Garrincha. Quase ao mesmo tempo em que Galípolo falava no evento da XP, a presidente do PT, Gleisi Hoffman, publicava mensagem no “X” em que acusou o BC de “estrangular” a economia “com a maior taxa de juros reais do planeta”, reiterando postura crítica à autoridade monetária.
Na semana passada, Gleisi publicou também no “X” que “BC de Campos Neto não fez nada para conter a especulação desencadeada desde ontem que já levou o dólar a R$6″, cobrando que seria “obrigação da autoridade monetária intervir no mercado contra a especulação”, com “leilões de swap, exigência de depósitos à vista e outros instrumentos que existem para isso”.
“É um crime contra o país”, disse Gleisi, em 28 de novembro, sobre a falta de atuação no câmbio, decidida já hoje pela diretoria de Galípolo no BC. No dia seguinte, em evento, Galíplo revelou que tinha conversado sobre câmbio com Campos Neto, defendendo novamente atuação só em caso de “disfuncionalidades”.