Política Monetária

Fed deve manter juros, mas sinalizando que processo de desinflação foi retomado

Reuters News Brasil
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São Paulo, 30/7/2024 – O Federal Reserve deverá manter os juros inalterados no atual patamar de 5,25% a 5,50% na decisão desta quarta-feira, pela oitava vez consecutiva, mas devendo sinalizar que o progresso no processo de desinflação foi retomado, abrindo espaço, segundo projeções de mercado, para um alívio monetário nos próximos meses.  

O foco de operadores e analistas estará no comunicado sobre a decisão e nas falas do chair do Fed, Jerome Powell, em coletiva de imprensa, de olho em quaisquer pistas sobre quando exatamente poderia ocorrer um primeiro corte nas Fed Funds. O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) iniciou sua reunião de dois dias nesta terça, e divulgará a decisão na quarta-feira, por volta das 15h00. Powell inicia coletiva de imprensa às 15h30.  

Analistas entendem que a confiança contínua na desinflação e um esfriamento gradual no mercado de trabalho abrem espaço para o FOMC iniciar adiante o alívio da taxa-alvo Fed Funds, dado seu duplo de mandato, de promover o pleno emprego e preços estáveis na economia norte-americana.  

COM OU SEM SINAIS? 

Pesquisa da Bloomberg com economistas entre 22 e 24 de julho apontou que a maioria dos entrevistados (51%) crê que o FOMC usará o comunicado da decisão e a coletiva de imprensa de Powell para preparar terreno para um corte de 25 pbs em setembro. Uma menor parte, de 27%, não crê em sinalização em julho.  

O Bank of America também não crê o Fed esteja disposto a sinalizar já amanhã que um corte em setembro seria um “negócio fechado”. “Esse foi o tom geral que a maioria dos membros do FOMC fez em comentários públicos, de que os dados de inflação têm sido encorajadores, embora fossem necessárias mais provas antes que a normalização do juro pudesse começar”, escreveu o economista para os EUA do BofA, Michael Gapen.  

Apesar de alguns economistas acreditarem que o Fed não deve sinalizar como certo o início do ciclo de afrouxamento monetário em setembro, os derivativos negociados na Chicago Mercantile Exchange (CME) apontam que 87,7% do mercado aposta que haverá corte na magnitude de 25 pontos-base nessa reunião.  

CORTE MAIOR 

O que chama a atenção nas projeções sinalizadas pelos dados da CME é uma minoria dos operadores, de 12,3%, que aposta em um corte de maior magnitude em setembro, de 50 pontos-base. Ou seja, no momento, previsões para manutenção da taxa-alvo Fed Funds não estão mais na mesa. 

Dado que parcela majoritária dos investidores projeta um corte de 25 pbs em setembro, o Fed não precisa se “inclinar” para um alívio na ocasião, de acordo com Gapen, do BofA. Ele lembra que Powell também teria outra oportunidade de validar ou afastar a precificação do mercado sobre cortes no simpósio econômico de Jackson Hole, em agosto. O BofA mantém projeção para início de cortes em dezembro.   

Na coletiva de imprensa que se segue à decisão, às 15h30, Powell deverá ser questionado sobre riscos de uma desaceleração econômica mais acentuada. Em aparições anteriores, o chair do Fed já tinha pontuado que uma “fraqueza inesperada” no mercado de trabalho poderia antecipar o início da flexibilização monetária por parte do Fed.  

INFLAÇÃO E EMPREGO 

A trajetória de desinflação na economia norte-americana ao longo do segundo trimestre – em linha com um aumento na taxa de desemprego – colocou os dois objetivos do Fed em seu duplo mandato mais em equilíbrio. No início deste mês, Powell pontuou em aparição pública que o mercado de trabalho já não era mais uma “fonte” de amplas pressões inflacionárias para a economia como outrora, tendo alcançado um estado de equilíbrio.  

Exatamente um ano após o FOMC lançar mão de sua última alta de juro no atual ciclo, em julho de 2023, o mercado de trabalho vem esfriando, enquanto os preços recuam. O núcleo do PCE – métrica favorita do Fed – recuou a 2,6% em junho ante 4,3% um ano antes. Em compensação, a taxa de desemprego avançou a 4,1% em junho, ante 3,7% ao fim de 2023.  

O CEO do Goldman Sachs, David Solomon, pontuou nesta terça que as chances de um a dois cortes de juros pelo Fed neste ano parecem cada vez mais prováveis. Em entrevista à CNBC, Solomon justificou o racional por mudanças no comportamento do consumidor, com o cenário econômico atual permanecendo “relativamente benigno”. Ele mostrou incertezas, por outro lado, com a trajetória econômica nos próximos 12 a 18 meses.  

(GP + LB | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)