Fed deve desacelerar ritmo de alta dos juros americanos, com comunicado em foco

O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), órgão decisório de juros no Fed, inicia sua reunião de dois dias nesta terça-feira e deve divulgar a decisão amanhã

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Por: Gabriel Ponte

O Federal Reserve deverá reduzir novamente o ritmo de alta dos juros americanos na decisão desta quarta-feira, para um aperto de 25 pontos-base, à medida que aumentam as evidências de que a inflação e a atividade econômica perdem força nos Estados Unidos.

O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), órgão decisório de juros no Fed, inicia sua reunião de dois dias nesta terça-feira e deve divulgar a decisão amanhã, por volta das 16h00. O presidente da autarquia, Jerome Powell, deve falar em coletiva de imprensa às 16h30.

A linguagem que o banco central americano utilizará em seu comunicado sobre os próximos passos da política monetária será a discussão que chamará atenção de analistas, banqueiros e investidores. Desde março de 2022, quando elevou os juros pela primeira vez no atual ciclo, o Fed vem informando aos mercados serem apropriadas “altas contínuas” dos juros no país.

Uma alta de 25 pontos-base amanhã levaria a taxa-alvo Fed Funds para o intervalo entre 4,50% e 4,75%, apenas 0,50 ponto percentual abaixo do intervalo considerado “suficientemente restritivo” para controlar a inflação, de 5,0% a 5,25%, segundo a mediana dos dirigentes do Fed no “Dot-Plot” de dezembro. As discussões do FOMC sobre quantas altas ainda serão necessárias também deverão envolver projeções de desaceleração da economia americana neste ano.

O aperto promovido desde março começa a produzir efeitos: o núcleo do Índice de Preços de Gastos com Consumo nos EUA (PCE), indicador de inflação acompanhado de perto pelo Fed para as decisões de política monetária, avançou 4,4% em dezembro de 2022 na leitura anual, ante alta de 4,7% em novembro.

Ainda que a inflação americana esteja desacelerando, o Payroll de dezembro mostrou que a taxa de desemprego atingiu 3,50%, mínima em mais de 50 anos. Com o mercado de trabalho aquecido, é possível que Powell mantenha um tom conservador com foco no cumprimento da meta de inflação. Outros indicadores que tendem a antecipar recessões mais rápido que os dados de emprego, mostram uma forte desaceleração da maior economia do mundo.

“Esperamos que Powell continue a enfatizar que um ritmo mais lento de alta dos juros não sinaliza que o trabalho do Fed acabou. Acreditamos que o comunicado da decisão também continuará a citar que ‘aumentos contínuos’ da taxa-alvo Fed Funds serão apropriados”, escreveu o economista para os EUA do Bank of America, Michael Gapen, em relatório.

O UBS também prevê que Powell manterá a postura dura na coletiva de imprensa que se seguirá à decisão do FOMC, para afastar a potencial leitura de reversão do ciclo de alta. “Esperamos que a essência da orientação futura do Fed seja mantida no comunicado, em particular com o Fed ‘antecipando que altas contínuas dos juros serão apropriadas’”, afirmou o economista-chefe para os EUA, Jonathan Pingle.

Para Mark Sobel, diretor para os Estados Unidos no Fórum Monetário e de Instituições Financeiras, o Fed preferirá errar pelo lado de elevar mais os juros, do que fazer menos. Segundo ele, o banco central deverá manter cautela ante ceder rapidamente à versão do ciclo de alta, movimento que pode prejudicar a sua credibilidade perante os investidores.

“Powell prefere ser lembrado pela história como um Paul Volcker, não outro Arthur Burns”, complementou Sobel. Volcker promoveu um choque de juros nos EUA nos anos 80. Já Burns deixou o cargo de presidente do Fed sem conseguir controlar a inflação.