Apesar da compra do Credit Suisse pelo UBS, risco sistêmico mundial permanece

Contexto afetará decisão de juros no Brasil e nos EUA

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Por Patrícia Lara

O acordo histórico de compra do Credit Suisse pelo UBS, anunciado ontem, e a ação coordenada pelo Federal Reserve com outros bancos centrais para elevar liquidez em dólar no sistema financeiro não extinguem totalmente a incerteza nos mercados. O clima é instável no exterior na abertura desta semana de decisões sobre taxa de juros nos Estados Unidos e no Brasil. As ações do Credit Suisse derretiam 60% e as do UBS recuavam perto de 9% na manhã desta segunda-feira na Bolsa da Suíça, contaminando outros papéis de bancos. Os mercados acionários europeus e futuros dos índices acionários americanos tinham variações limitadas, mas ensaiavam sair das mínimas observadas mais cedo.

No Brasil, a reação ao clima externo é combinada com o adiamento do anúncio do novo arcabouço fiscal para conter a piora das contas públicas. Novas conversas sobre o tema estão previstas para hoje, segundo os jornais.

O fim de semana foi frenético. Ontem, o UBS informou que concordou em comprar o Credit Suisse por US$3,23 bilhões em ações, e concordou em assumir até US$5,4 bilhões em perdas, em um esforço conjunto liderado por autoridades suíças para estancar uma crise de confiança nos mercados globais. Em comunicado, as autoridades suíças informaram que o acordo de aquisição envolve a oferta de 100 bilhões de francos suíços – equivalente a US$108 bilhões – pelo banco central suíço em assistência de liquidez para o UBS e para o Credit Suisse.

Já o Federal Reserve, o BC americano, e as autoridades monetárias do Canadá, Inglaterra, Japão, Zona do Euro e Suíça anunciaram uma ação coordenada para melhorar a liquidez com a oferta de linhas de swap em dólar. As operações diárias de swap começam hoje e devem durar até o fim de abril.

Sob efeito dos eventos do fim de semana, diminuiu a chance de o Fed elevar novamente a taxa básica de juros no encontro desta quarta-feira para combater as pressões inflacionárias. As apostas nos derivativos indicam uma probabilidade de 39,5% de a taxa de juros americana seguir estável entre 4,50% e 4,75% na reunião de juros do Fed desta semana, ante 38% na sexta-feira. A aposta em alta de 0,25 ponto percentual ainda é majoritária, mas recuou de 62% na sexta-feira para 60% nesta manhã, segundo dados da Chicago Mercantile Exchange.

O rendimento dos títulos de curto prazo da dívida dos EUA subia 0,05 ponto percentual, a 4,265%, nesta manhã, mas as taxas longas caíam, à medida que aumenta a probabilidade de uma recessão global. O índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda americana ante divisas pares, operava perto da estabilidade.

Nas commodities, o risco de retração da demanda traz perda 2,93% para o contrato futuro do petróleo Brent, cotado a US$70,83 o barril nesta manhã. O preço do minério de ferro encerrou a sessão na China em queda de 2,48%, penalizado ainda por novo alerta do órgão de planejamento chinês afirmando que voltará a observar medidas para conter os preços irrealistas do metal.

Na política local, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), para que aprofunde a proposta de arcabouço fiscal, enquanto alas do Partido dos Trabalhadores pressionam por mais gastos, segundo os jornais. A presidente da sigla, Gleisi Hoffmann, defendeu, no sábado, no Twitter, que a política fiscal seja contracíclica e expansionista neste momento de desaceleração da economia.

Na agenda do dia, a pesquisa Focus será uma peça importante para o BC avaliar as expectativas dos economistas sobre as variáveis econômicas. O boletim será o último antes da decisão de juros do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira. A pesquisa foi concluída antes dos desdobramentos do fim de semana. Também antes dos últimos eventos no exterior, analistas avaliaram que a taxa Selic, hoje em 13,75% ao ano, só deve começar a cair no segundo semestre, segundo consulta a 20 economistas feita pela Mover até sexta-feira.

MERCADOS GLOBAIS

O índice VIX, que mede a volatilidade implícita para as opções do índice S&P500, operava em alta de 5,10%, a 26,73 pontos.

O futuro do petróleo Brent para entrega em maio cedia 2,86%, a US$70,89 o barril.

O contrato de ouro para entrega em abril subia 0,90%, a US$1.991,20 a onça-troy.

O Bitcoin apontava variação positiva de 0,04% nas últimas 24 horas, a US$28.303; o Ethereum cedia 0,27% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

O índice EWZ, que replica as ações brasileiras no exterior, cedia 0,38% no pré-mercado americano.

Os contratos de juros futuros na B3 devem ficar a reboque do exterior, após recuo de mais de 10 pontos-base na sexta-feira.

DESTAQUES

Para permitir que o UBS assumisse o Credit Suisse, o governo da Suíça também fornecerá uma garantia de perdas de no máximo 9 bilhões de francos (US$9,6 bilhões) para uma parte específica do portfólio do negócio. A garantia, entretanto, só será ativada caso haja perdas nessa carteira. (Mover)

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, congratularam no domingo a aquisição do Credit Suisse pelo UBS. Em comunicado conjunto, as autoridades também afirmaram que as posições de capital e de liquidez dos bancos americanos são “fortes”, e que o sistema financeiro é “resiliente”. (Mover)

“Saúdo a ação rápida e as decisões tomadas pelas autoridades suíças. Elas são fundamentais para restaurar as condições de mercado ordenadas e garantir a estabilidade financeira”, disse a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, em comunicado publicado no site do BCE ontem. Lagarde reiterou que o setor bancário da Zona do Euro é resiliente, com fortes posições de capital e liquidez. (Mover)

Os reguladores de Hong Kong rejeitaram os temores de que a turbulência bancária na Europa e nos EUA desencadeasse uma crise financeira mais ampla.

“Não estamos vendo nada disso”, disse Julia Leung, diretora-executiva da Securities and Futures Commission nesta segunda-feira. (Financial Times)

O presidente da China, Xi Jinping, aterrissou hoje em Moscou. Durante visita de três dias, Xi e o presidente russo, Vladimir Putin, vão discutir o aprofundamento da cooperação econômica e política entre os países, bem como a guerra na Ucrânia. (CNBC)

Fábricas da GM, Hyundai e Stellantis no Brasil interromperam suas produções a partir de hoje devido à queda nas vendas de alguns modelos de carros e deram férias coletivas para os funcionários. (Agências)

AGENDA

Boletim Focus (Brasil) – O Banco Central divulgará o boletim Focus semanal. Divulgação: 08h25.

Christine Lagarde (Banco Central Europeu) – A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, discursará no Parlamento Europeu. Horário: 11h00.

Agenda política (Brasil) – O presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participam do lançamento do Programa “Mais Saúde para o Brasil”. Horário: 11h00.

Balança Comercial semanal (Brasil) – O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços divulgará a balança comercial semanal. Horário: 15h00.

Balanços (Brasil) – Iochpe-Maxion e Itaúsa divulgarão seus resultados trimestrais após o fechamento dos mercados.