Por: Gabriel Ponte
O otimismo do investidor estrangeiro com o Brasil se sobrepôs aos ruídos políticos e econômicos locais e foi o grande impulsionador dos mercados em janeiro, avaliou Luís Otávio Leal, economista-chefe do Banco Alfa, em entrevista à Mover nesta terça-feira.
Na visão de Leal, os mercados locais viraram o ano “descontados”, após uma firme deterioração dos ativos no fim de 2022, o que tem atraído o investidor estrangeiro. O Ibovespa, por exemplo, chegou a testar mínima mensal próxima dos 100 mil pontos em meados de dezembro, enquanto o dólar futuro superou nível de R$5,50 no início de janeiro.
Agora, esse fluxo externo explica a valorização de 3,37% do Ibovespa em janeiro, a maior valorização mensal desde outubro. Já os contratos de dólar futuro negociados na B3 acumularam queda de 4,61%, a maior para o período desde maio.
“No curto prazo, o preço está convidativo. Enquanto a relação risco/retorno valer a pena, o estrangeiro não estará preocupado com a idiossincrasia brasileira”, complementou Leal. Para ele, observada sob diversos múltiplos, a bolsa local se mostra atrativa, com boas oportunidades.
Até o dia 27, o investidor estrangeiro já realizou o aporte de R$10,9 bilhões na bolsa brasileira, segundo dados da B3. No acumulado do mês, em uma cesta de 22 divisas observada pela Mover ante o dólar americano, o real registrou a segunda melhor performance, atrás apenas do rublo russo.
Para Leal, o mercado de câmbio encontra-se “largado” no momento, com apenas uma ponta: a compradora, via ingresso do estrangeiro. “Acho que é mais do que carrego positivo. No caso do dólar, é o custo do carregamento de uma posição ante o real. Grosso modo, tem que esperar que o real se desvalorize ao menos 1% ao mês, pelo menos, para você empatar com o custo de carregar essa posição”, explicou.
Ele alerta, entretanto, que a conjuntura atual para os mercados locais é “perigosa”. “O local não vê com tanto otimismo os preços, e a gente fica na dependência do fluxo. Você não sabe até onde o risco retorno vai valer a pena para manter esse fluxo.”
Segundo o economista, há dificuldade em estimar qual gatilho desencadearia uma eventual saída do estrangeiro dos mercados. “E no momento que sair, vai ficar o investidor local, que está pessimista. Você não pode ficar contra o fluxo, mas se você se empolgar, a situação pode ficar delicada.”
Ainda assim, o panorama positivo dos mercados locais não esconde totalmente os ruídos produzidos em janeiro pelo novo governo, de acordo com Leal. Seus cálculos apontam que o juro real – taxa de juro descontada a inflação projetada – gira em torno de 6,40% no momento, ante 5,30% no período pré-eleitoral.
“Eu diria que os mercados nos quais o gringo é mais ativo, como a bolsa, têm uma performance boa. Agora onde a participação principal é do local, como os mercados futuros, o risco-país está aparecendo, refletindo a confusão de janeiro.”