Emergentes entram no foco de gestores globais, com conjuntura e "valuations" atrativos

Tendência deve seguir pelos próximos meses

Unsplash
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Por Gabriel Ponte

Gestores globais tem voltado a olhar os mercados emergentes com mais interesse, diante do início do afrouxamento monetário nesses países e pelos “valuations” (preços) atrativos de seus ativos frente a economias desenvolvidas. Essa tendência deve prosseguir, segundo especialistas ouvidos pela Mover, a depender de alguns fatores, entre eles o enfraquecimento do dólar e o fortalecimento das commodities, se novos estímulos à economia da China forem realmente realizados.

Desde o início do ano, o índice Dólar DXY, que mede o desempenho da moeda americana ante uma cesta de divisas pares, acumula perda superior a 1,80% e recua 11,5% ante as máximas em mais de duas décadas, tocadas em setembro de 2022. Entre as moedas emergentes, o real tem o segundo melhor desempenho no ano ante o dólar em uma cesta de divisas globais, com valorização de 11,2% no ano, atrás apenas do peso mexicano, que sobe 16%.

Para o diretor-presidente da Schroders Brasil, Daniel Celano, o principal pilar a ser observado para os mercados emergentes é a trajetória do dólar. Nesse caso, entram em jogo as discussões sobre o futuro da política monetária do Federal Reserve no segundo semestre, a situação da oferta de crédito nos Estados Unidos após o colapso de bancos regionais do país em março e os temores de uma recessão na economia americana. “O grande vetor é se a tendência é de fortalecimento ou enfraquecimento do dólar. Quando houver uma sinalização mais clara, isso facilitará a vida de emergentes”, disse.

Não apenas as moedas, mas também ativos de bolsa tiveram bom retorno entre emergentes em 2023. No acumulado do ano, o EWZ, fundo que replica o desempenho de ações brasileiras na Bolsa de Nova York (Nyse), sobe mais de 20%, acima do MSCI World, índice que mede o desempenho de empresas globais e que já subiu 17,8%. O EEM, fundo com exposição a empresas de mercados emergentes, está mais atrás, com alta de 7,89% no período.

Celano disse que a Schroders passou a estar “overweight” – isto é, com alocação acima da média – no mercado de ações brasileiro já em março, em um momento no qual muitos gestores endossaram tese “short”, ou vendida. O México foi outro país citado entre os de boa oportunidade, na esteira da realocação da produção para mais próximo dos mercados consumidores, fenômeno classificado como “nearshoring”.

Os estrategistas do Bank of America Securities indicaram, em junho, a compra de ativos emergentes e de commodities, como o petróleo Brent, que irão se beneficiar com um dólar ameno no mundo. De forma mais incisiva, os estrategistas da BlackRock também recomendaram a compra de ativos emergentes, mencionando uma conjuntura macroeconômica mais atrativa nesses países e preços favoráveis. A BlackRock cita nominalmente o caso do Brasil, cuja decisão de juros amanhã deve trazer o início do ciclo de cortes, segundo a previsão do mercado – na América Latina, o Chile deu largada ao movimento com um passo mais agressivo do que o esperado pelo mercado, ao reduzir sua taxa de juros em 100 pontos-base, a 10,25%.

O Goldman Sachs, em relatório, vai na mesma linha, ao observar que o alívio inflacionário na economia americana deve diminuir o ímpeto do dólar, favorecendo os mercados emergentes. “Nossos estrategistas de mercados emergentes acreditam que, além das moedas mais resilientes ao dólar, tal narrativa deve claramente beneficiar moedas como o real e o peso colombiano”, disse a equipe do banco.

Esta reportagem foi publicada primeiro no Scoop, às 11H12, exclusivamente aos assinantes do TC. Para receber conteúdos como esse em primeira mão, assine um dos planos do TC.