Por Clara Guimarães
São Paulo, 20/1/2023 – Uma mudança na meta de inflação pelo Conselho Monetária Nacional aumentaria a percepção de risco fiscal e contribuiria para a elevação da inflação no Brasil, afirmou o economista da BlueLine Asset Management, Flávio Serrano, à Mover.
“Dado que uma meta de inflação mais alta cria a ideia de que seria possível cortar os juros, as expectativas podem se ajustar também, impedindo mudança de política monetária e permitindo que o nível da inflação suba”, afirmou Serrano.
A discussão sobre a meta de inflação do Brasil virou foco nesta semana após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificá-la como “exagerada” em entrevista ao canal GloboNews. Para ele, a atual meta de 3,25%, com margem de 1,5 pontos-base para cima ou para baixo, impede o crescimento do Brasil.
No entanto, Serrano explica que a alteração da meta apenas “gera a falsa percepção de permitir mais crescimento”, mas, no médio prazo, não mudaria efetivamente esses números. “Só gera mais inflação, não muda crescimento e torna a tarefa de desindexar a economia mais difícil”.
O economista discorda do argumento de que, diante do cenário de fragilidade fiscal brasileiro, a redução da meta a 3,25% em 2003 foi equivocada e que, por isso, deveria ser reavaliada. “Ela está em linha com a inflação de países emergentes. Se não perseguirmos uma inflação mais baixa, nunca conseguiremos desconstruir os mecanismos de indexação que impedem a queda da inflação mais rapidamente no Brasil”, disse.
O economista-chefe da Monte Bravo Investimentos, Luciano Costa, afirmou que uma alteração para cima da meta de inflação pelo Conselho Monetário Nacional seria um “trade-off”, ou relação custo x benefício que não vale a pena do ponto de vista econômico devido ao impacto em investimentos e consumo.
“A opção parece ser politicamente atraente, mas na questão de economia ela pode ter o efeito oposto ao desejado na medida que os impactos vão se generalizando”, explicou Costa, classificando como um “trade-off que não vale a pena do ponto de vista de política econômica”.
Segundo ele, a elevação da meta de inflação – atualmente em 3,25%, com margem de 1,5 pontos-base para cima ou para baixo – levaria o equilíbrio de médio-prazo da economia para um nível pior.
“Boa parte da transmissão desse evento seria na parte mais longa da curva de juro, o que aumentaria o custo de financiamento das dívidas e o custo para as empresas, gerando alguma queda de investimentos”, disse o economista-chefe, chamando atenção para as consequências inflacionárias.
Costa avalia que a mudança ocasionaria em uma dificuldade ainda maior para o Banco Central ancorar a inflação no médio-prazo diante da elevação das expectativas.
“A gente tem um impacto para o mercado bem claro, da curva mais positivamente inclinada e com juro real mais alto na média. Para economia, resultaria em menos crescimento e mais inflação, o que impacta negativamente o investimento e o consumo. O resultado seria um equilíbrio que parece ser pior”, afirmou.