Dólar e juros futuros caem após decisão do CMN

Decisão aconteceu após forte pressão petista

Pixabay
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Por Fabricio Julião e Erick Matheus Nery

As taxas de contratos dos juros futuros e o dólar tinham queda nos primeiros negócios desta sexta-feira. O movimento segue as baixas da curva dos DIs no pós-mercado do dia anterior e do dólar futuro, após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciar a mudança do sistema de metas de inflação ano-calendário para a meta contínua, mas com manutenção da meta em 3%.

Por volta de 9h20, os DIs com vencimento em jan/24 e jan/25 caíam 3,5 ponto-base, a 12,88% e 10,82%. Já os DIs para jan/27 e jan/31 recuavam, respectivamente, 6,0 pbs e 7,0 pbs, a 10,25% e 10,67%.

Agentes financeiros também digerem a divulgação das estatístiscas fiscais pelo Banco Central. A autarquia anunciou que o setor público registrou déficit primário de R$50,2 bilhões em maio, ante déficit de R$33,0 bilhões no mesmo mês de 2022. Em relação ao resultado nominal, o BC apontou um déficit de R$119,22 bilhões em maio, resultado bem abaixo do consenso de mercado, que apontava para um déficit de R$59,69 bilhões.

O dólar à vista operava em queda de 0,27% perto das 9h20, a R$4,8450, enquanto o dólar futuro caía 0,43% no mesmo horário, a R$4,869. A moeda americana ensaiou operar em alta nos primeiros negócios do dia, mas o movimento da abertura logo se inverteu e o real passou a se valorizar, seguindo o desempenho de depreciação do dólar no exterior.

O Ibovespa futuro subia 0,31%, aos 121.135 pontos, seguindo o bom humor dos índices acionários futuros americanos e o desempenho das commodities melhor do que nos dias anteriores.

Em meio a uma semana de fortes perdas, a maior parte dos contratos futuros das commodities subia nesta manhã. O petróleo Brent futuro tinha alta de 0,16%, a US$74,63 o barril. O minério de ferro, por outro lado, era negociado em queda de 1,69% em Qingdao, na China, a US$110,75 a tonelada, segundo traders.

Entenda a nova decisão do CMN

A decisão do CMN aconteceu após pressão do Partido dos Trabalhadores (PT), exercida ferozmente por seis meses seguidos. A partir de 2025, o sistema será o que petistas e fatias do setor produtivo desejavam.

Será abolido o sistema atual, que obriga o BC a cumprir as metas em anos gregorianos, com meses definidos. Agora o regime será de meta contínua. Com a mudança, o BC também passa a perseguir a meta no prazo de dois, não mais um ano. Em resumo, o BC terá mais prazo para cumprir sua função, não podendo usar mais o argumento do “tempo exíguo” para manter os juros em patamares elevados.

A mudança foi antecipada pelo Faria Lima Journal (FLJ) no começo de maio, quando as pressões e até ofensas vindas do presidente Lula, de ministros e parlamentares petistas contra Roberto Campos Neto acumularam seu ápice. O novo sistema passa a vigorar a partir de 2025. Não ficou claro como será a frequência da comunicação do BC com o ministro da Fazenda no novo modelo.

O argumento usado por Haddad foi o de que a inflação pode ser influenciada por fatores sazonais, como as variações nos preços de alimentos e combustíveis, que podem não estar alinhados com o ano calendário.

A ideia foi sugerida a Haddad pelo economista Armínio Fraga, apurou o FLJ. Autor do primeiro sistema de metas de inflação do Brasil, Armínio argumentou que apenas Turquia, Tailândia e o Brasil aplicam regimes de metas anuais, um sistema, segundo ele, defasado.

Embora técnicos do BC divirjam do argumento do governo, por acreditarem que a inflação atual não tenha origem sazonal, mas forte componente fiscal, pode-se argumentar que a mudança resolveria até o problema do presidente do BC, que ainda não atingiu o centro da meta desde que assumiu, em fevereiro de 2019.

O novo sistema de metas de inflação com referência móvel faz com que a meta seja definida para um período móvel de 24 meses, em vez de um ano-calendário. Isso permitiria que a meta fosse ajustada de forma mais flexível, levando em conta as variações sazonais e outras mudanças na economia.

‍A meta de inflação é um sistema em que o Banco Central estabelece uma meta para a inflação e utiliza instrumentos de política monetária para alcançá-la. Atualmente, a meta é definida em termos de variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o ano-calendário.