São Paulo, 19/9/2024 – Os vértices da curva de juros disparavam mais de 27 pontos-base nesta quinta-feira, em reação ao comunicado da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), com operadores pressionando o colegiado por novas altas da Selic e aceleração do ritmo de aperto, enquanto agentes de mercado também citavam preocupações fiscais embutidas no encarecimento do custo de crédito.
De acordo com o economista André Perfeito, a avaliação do mercado nesta manhã pode ser interpretada como “manicômio.” Em entrevista ao Manhã TC News, Perfeito defendeu que o Banco Central deveria ter mantido a Selic em 10,50% ou a elevado em 50 pontos-base, sinalizando manutenção nas próximas reuniões.
Na véspera, o Copom subiu a Selic em 25 pbs, a 10,75% ao ano, mas com comunicado duro – com reconhecimento de balanço de riscos assimétrico e hiato do produto rodando no campo positivo – o que abriu a porta, na visão de agentes, para aceleração do ritmo de altas se as expectativas não forem ancoradas.
Por volta das 12h10 a taxa DI para janeiro de 2026 disparava 27 pontos-base, a 12,02%, para janeiro de 2029 saltava 13 pbs, a 12,09%. Já a taxa para janeiro de 2031 subia 10 pbs, a 12,10%. “Não faz sentido algum a curva de juro estar subindo desse jeito, o que o pessoal acha, que vamos levar a Selic para 12,5%, para 13%?”, questionou Perfeito.
Para ele, o mercado agora pede mais prêmio na cauda longa, precificando uma deterioração do cenário fiscal no futuro, em razão de uma taxa de juros mais alta por mais tempo, que havia sido demandada pelos próprios operadores.
Perfeito avaliou que, com perspectiva de o Federal Reserve poder cortar mais 50 pontos-base adiante, e alívio em outras condições, como arrecadação recorde e potencial redução dos preços da gasolina pela Petrobras, o BC teria errado na decisão de ontem. “Não era nem para ter subido, subiu só 25 pontos-base e deixaram muito aberta a avenida para subir mais. Esses 25 pontos-base vão custar muito mais”.
“O mercado está vendo uma alta de 50 pontos-base, outra de 50 pontos-base. Eu não, eu acho que vai ser mais uma de 25 ponto-base”, disse Perfeito, confessando estar um pouco “indignado” com o quadro. “Meu receio é o mercado perder dinheiro de novo. E pior, o ‘gringo’ está vindo, vão raspar a mesa de novo”.
O economista também fez críticas técnicas à decisão do Copom de ontem. “Justificar alta de juros por conta do hiato do produto positivo foi um erro, parece uma justificativa técnica, mas não é”, afirmou.
No comunicado, o Copom não forneceu guidance, pontuando que as próximas decisões e a magnitude do ciclo iniciado “serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação”. Na avaliação do colegiado, a inflação medida pelo IPCA cheio, assim como medidas de inflação subjacente, se situou acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.
O colegiado também avaliou haver assimetria altistas em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação, e reconheceu o hiato do Produto Interno Bruto (PIB) rodando no campo positivo, diante de um dinamismo maior do que o esperado de indicadores da atividade econômica e do mercado de trabalho.
Em seu cenário de referência, o colegiado elevou as estimativas para a inflação em 2024, 2025 e primeiro trimestre de 2026, a 4,3%, 3,7% e 3,5%, respectivamente – aproximando-se da mediana de projeções do mercado no mais recente Boletim Focus.
De acordo com o contribuidor do TC, Alexandre Cabral, a alta de juros foi principalmente para que a autarquia honrasse as últimas falas do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo – indicado à presidência do BC em 2025 – com o intuito de construir credibilidade em torno do seu nome. “O mercado está pedindo de forma exageradíssima novas altas na Selic”, avaliou Cabral.
(LB | Edição: Luciano Costa e Gabriel Ponte | Comentários: equipemover@tc.com.br)