Por Beatriz Lauerti
A crise envolvendo o Silicon Valley Bank, que faliu e foi fechado na manhã de sexta-feira, 10, pelo regulador financeiro da Califórnia, é um caso particular e o impacto no Brasil deve ser macro, segundo o sócio e economista-chefe da Reach Capital, Igor Barenboim.
O banco, que fornecia serviços financeiros em sua maioria para empresas do setor de tecnologia, sofreu uma corrida bancária decorrente do descompasso entre o valor de seus ativos e os ascendentes juros americanos.
Quando o banco central americano, Federal Reserve, precisou subir as taxas para controlar a inflação, os preços dos títulos caíram. Além disso, os empréstimos ficaram mais caros para as empresas, que começaram a sacar os depósitos mantidos pelo SVB para financiar suas operações e crescimento.
O SVB anunciou a venda de títulos com prejuízo e para contornar o problema financeiro, informou que venderia US$2,25 bilhões em novas ações.
“O passivo dos bancos continuava o mesmo mas o valor dos ativos diminuiu. Isso resulta em uma redução de capital, o que vai fazer com que os bancos tenham que reduzir ou suspender empréstimos”, explicou Barenboim.
“Os mais afetados serão países em que os bancos tinham ativos mais longos, países mais desenvolvidos. O Brasil é um pouco mais isolado disso, o impacto é mais macro”, completou.
Os juros precisam cair nos Estados Unidos diante do problema de liquidez bancária, o que ajuda empresas brasileiras, porém a aversão ao risco aumenta, e investidores colocam menos dinheiro em países emergentes, apontou o economista.
Os clientes retiraram o dinheiro do banco e fizeram resgates em grande quantidade com receio da quebra da instituição e da crise anunciada. As ações do SVB despencaram mais de 60% na quinta-feira, e a instabilidade afetou papéis de outros bancos, com temor dos investidores sobre a possibilidade da crise se alastrar globalmente como ocorreu em 2008.
As negociações dos ativos do SVB foram interrompidas na sexta-feira, quando o banco foi fechado pelos agentes reguladores da Califórnia.
Os reguladores dos Estados Unidos prometeram garantir os depósitos de todos os clientes da instituição financeira, para evitar mais corridas aos bancos e ajudar as empresas de tecnologia a continuar financiando suas atividades.
Caso ocorresse algo parecido no Brasil, Barenboim afirmou que o Fundo Garantidor de Crédito (FGC,) mecanismo nacional de proteção semelhante ao seguro de depósitos americano, o Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), possivelmente não conseguiria cobrir os danos, como foi feito nos EUA.