Corte de produção da Opep+ puxa preço do petróleo e desafia inflação

Analistas avaliam o impacto da queda de produção nos cenários de inflação e atividade global e as implicações para a política monetária

Unsplash
Unsplash

Por: Patrícia Lara

Os contratos futuros do petróleo disparam e colocam novo desafio neste início do segundo trimestre, após a Arábia Saudita e outras nações da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep) anunciarem cortes inesperados de cerca de 1,16 milhão de barris por dia da produção no último domingo. A decisão levava o contrato do Brent a uma alta de 5%, a US$ 83,96 o barril, perto das 7h15, após a commodity avançar até 8% mais cedo.

Os cortes de oferta entram em vigor em maio, em resposta ao recuo dos preços do petróleo no mês passado, diante do receio com a demanda após a crise gerada pelo colapso com o Silicon Valley Bank, nos Estados Unidos, e o socorro forçado ao Credit Suisse.

A alta dos preços do petróleo impulsiona ações ligadas à commodity na Europa. O índice que reúne empresas de energia subia 3,9%, enquanto o Stoxx 600, que é mais amplo, tinha ganho limitado de 0,11%, perto das 7h05. Em Nova York, os futuros operavam sem direção definida, com o do Dow Jones em alta de 0,32% e os do S&P 500 e do Nasdaq em quedas de 0,13% e 0,64%, respectivamente.

Com o corte de produção de petróleo, o Goldman Sachs elevou a previsão para o preço do Brent no fim do ano em US$5,00, para US$95 o barril, enquanto ajustou a projeção para o fim de 2024 em US$3,00, a US$100, em nota divulgada ontem, segundo a Reuters.

Analistas avaliam o impacto da queda de produção nos cenários de inflação e atividade global e as implicações para a política monetária, em um momento em que o mercado ampliava a possibilidade de interrupção do corte de juros na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto, do Federal Reserve, o Banco Central americano. O efeito de longo prazo de mais uma redução na produção de petróleo pode ajudar a elevar os preços no mercado internacional, aumentando as previsões inflacionárias, com reflexo nas taxas de juros de vários países. A medida gerou reação do governo americano. “Não achamos que os cortes sejam aconselháveis neste momento, dada a incerteza do mercado, e deixamos isso claro”, disse um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, segundo a Reuters.

Nesta manhã, o juro dos títulos da dívida dos Estados Unidos subia. Já o Índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda americana ante demais divisas pares, oscilava perto da estabilidade, ao redor de 102,60 pontos.

A decisão da Opep+ também pode trazer cautela adicional ao Banco Central brasileiro. E coloca as ações da Petrobras e das “junior oils” em foco na Bolsa brasileira. As ações ordinárias e preferenciais da Petrobras tiveram uma queda acumulada de 7,86% e 7,09%, respectivamente, em março, ante a perda de 2,9% do Ibovespa. O índice principal da bolsa encerrou a sexta-feira em queda de 1,77%, devolvendo parte dos ganhos da quinta-feira, quando os ativos locais reagiram com otimismo ao anúncio do novo arcabouço fiscal.

Hoje, o impacto das propostas anunciadas para conter a piora das contas públicas pode se refletir nas expectativas dos agentes do mercado medidas pela pesquisa Focus, que sai às 8h25. O levantamento também deve ecoar o tom da ata do Comitê de Política Monetária do BC, divulgada na semana passada, e que manteve a sinalização de que a autoridade monetária via pouco espaço para reduzir a taxa básica Selic no curto prazo. Hoje, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, tem encontro agendado com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), às 15h00, na sede da pasta.

A agenda desta segunda-feira traz ainda a divulgação de Índices de Gerentes de Compras Industrial de março do Brasil, às 10h00, e liquidação de Letras do Tesouro Nacional, títulos prefixados pelo Tesouro, no valor de R$44,4 bilhões. Nos EUA, também sai o PMI industrial às 10h45 e a diretora do Fed Lisa Cook discursará em evento promovido pela Universidade de Michigan no fim do dia.

MERCADOS GLOBAIS

O contrato de ouro para entrega em junho cedia 0,09%, a US$1.984,70 a onça-troy.

O minério de ferro encerrou a sessão na Bolsa chinesa de Dalian em queda de 2,04%, a 890,50 iuanes, ou o equivalente a US$129,17 a tonelada, com preocupações sobre intervenção do governo nos preços. Rumores circularam no mercado indicando que a Comissão Nacional de Desenvolvimento da China se reuniu com empresas que negociam futuros para discutir os preços do minério de ferro, segundo a Reuters.

O Bitcoin subia 0,47% nas últimas 24 horas, a US$28.416,00; o Ethereum ganhava 0,76% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

O índice EWZ, ETF que replica as ações brasileiras no exterior, cedia 0,47% no pré-mercado americano.

Os contratos de juros futuros na B3 podem acompanhar o rumo de alta das taxas externas.

DESTAQUES

Os presidentes da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e do Banco Central, Roberto Campos Neto, podem se encontrar em breve em um evento no Senado para debater política de juros e crescimento econômico, segundo a coluna Radar. Lula teria manifestado a intenção em encontro recente com o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD). (Veja)

O Ibovespa fechou a sexta-feira em queda de 1,77%, revertendo os ganhos da sessão de quinta-feira e retornando para o patamar dos 101 mil pontos. Na semana, o índice fechou em alta de 3,09%. Já no mês, o Ibovespa acumulou queda de 2,91%, mas ainda distante da mínima tocada em meados de março, de 96.996 pontos. No trimestre, o índice recuou 7,16%. (Mover)

A decisão de algumas nações da Opep+ de reduzir a oferta de petróleo engrossa a intenção da Rússia de reduzir a sua produção de petróleo em 500 mil barris por dia até o fim do ano, o que faz com que a diminuição total da oferta de petróleo atinja 1,6 milhão de barris por dia. (CNBC)

O comitê de monitoramento conjunto da Opep+ deve se reunir hoje em Viena, mas apenas para chancelar a decisão de cortes anunciada, segundo delegados do bloco informaram em condições de anonimato. (CNBC)

A aposta em uma alta adicional de 0,25 ponto percentual da taxa básica de juros nos EUA subiu para 59,9% nesta manhã, mostra a ferramenta FedWatch com base nas negociações com derivativos, da Chicago Mercantile Exchange. Na sexta-feira, as apostas nessa chance eram de 48,4%. A probabilidade de a taxa seguir estável está entre 4,75% e 5% caiu para 40,1%, de 51,6% na sexta-feira. (Mover)

O presidente do Fed de Nova York, John Williams, afirmou na sexta-feira que o desempenho das condições financeiras será um indicador chave para sua decisão na próxima reunião do FOMC, em maio. Ele disse que as perspectivas econômicas são incertas, e as decisões políticas serão guiadas via dados. (CNBC)

Os mercados acionários norte-americanos mostraram sua resiliência no primeiro trimestre de 2023, apesar da recente turbulência financeira, com o Nasdaq registrando o melhor desempenho trimestral desde junho de 2020. Também no período, o setor tecnológico listado na NYSE liderou os ganhos, enquanto o financeiro puxou as perdas, diante da falência de dois bancos regionais norte-americanos e a compra do Credit Suisse pelo UBS. (The Wall Street Journal)

O Índice de Gerentes de Compras Industrial de março da Zona do Euro ficou em 47,3 pontos em março, ante uma estimativa preliminar de 47,1 pontos, e após 48,5 pontos registrados no mês anterior. Na Alemanha, o índice foi revisado para 44,7 pontos em março, ante uma estimativa preliminar de 44,4 pontos. (Mover)

AGENDA

Boletim Focus (Brasil) – O Banco Central brasileiro divulgará o Boletim Focus semanal. Divulgação: 08h25.

PMI Industrial (Brasil) – A S&P Global divulgará o Índice de Gerentes de Compras Industrial de março. Divulgação: 10h00. Anterior: 49,2. Consenso: 45,0.

PMI Industrial (Estados Unidos) – A S&P Global divulgará o Índice de Gerentes de Compras Industrial de março. Divulgação: 10h45. Anterior: 47,3. Consenso: 49,3.

Gastos com Construção (EUA) – O US Census Bureau divulgará os gastos com construção de fevereiro. Divulgação: 11h00. Anterior: -0,1%. Consenso: 0%.

Balança Comercial (Brasil) – O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços divulgará a balança comercial brasileira de março. Divulgação: 15h00. Anterior: +US$2,8 bilhões. Consenso: +US$7,6 bilhões.

Lisa Cook (Federal Reserve) – A diretora do Fed Lisa Cook discursará em evento promovido pela Universidade de Michigan. Horário: 17h15.

Tesouro (Brasil) – O Tesouro Nacional fará liquidação financeira de títulos prefixados, no montante de R$44,4 bilhões. Horário: não definido.