Brasília, 17/3/2025 – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve elevar a Selic nesta semana em 100 pontos-base, para 14,25%, de forma unânime, no segundo dos dois apertos seguidos de 1 ponto percentual contratados em guidance aprovado ainda na gestão do ex-presidente Roberto Campos Neto, enquanto indica redução do ritmo de alta para a reunião de maio, com analistas apostando também em diminuição nas projeções de inflação do BC.
O Copom inicia sua reunião de juros de dois dias a partir de amanhã, informando a decisão na quarta-feira, a partir das 18h30. De acordo com o estrategista-chefe da Warren Rena, Sérgio Goldenstein, o Copom deve apontar a redução do ritmo de ajuste dos juros adiante em razão do patamar “bastante contracionista” da Selic, indicativos mais fortes de moderação da atividade econômica e apreciação do câmbio.
Quando o Copom contratou duas altas de 100 pontos-base cada, em dezembro, a atividade econômica reportava surpresas altistas, as expectativas de inflação disparavam, a inflação corrente acelerava e o real depreciava, notou o JPMorgan. Mas agora, na visão do banco, um comprometimento prévio do colegiado com a trajetória de juros locais “parece ter perdido apoio” entre diretores.
“BC deve caracterizar as próximas decisões, e magnitude total do ciclo, como sendo ditadas pelo firme compromisso em alcançar a meta de inflação”, complementou o banco, em relatório assinado por Cassiana Fernandez, Vinicius Moreira e Mirella Sampaio.
O “guidance” aprovado pelo BC há duas reuniões, sob gestão de Campos Neto, foi descrito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como “uma arapuca” para o novo chefe da autoridade monetária, Gabriel Galípolo, que assumiu este ano, levantando expectativas no mercado sobre como ele se comportará ao final desse compromisso.
Em carta a cotistas, a gestora Genoa disse ver “imitada disposição” do BC em elevar Selic “muito acima” de 15%, citando “aparente menor preocupação” da autarquia com o nível de desancoragem das expectativas inflacionárias.
CENÁRIO MACRO
Desde janeiro, o real vem se apreciando ante o dólar, na esteira um enfraquecimento global da moeda americana, de temores envolvendo a atividade econômica dos Estados Unidos e, localmente, do arrefecimento do prêmio de risco sobre ativos, com a queda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em pesquisas eleitorais.
Também no mesmo intervalo de tempo, dados locais reforçaram tese de agentes de que a atividade econômica pode enfrentar uma desaceleração mais acentuada do que esperado. “Vale ressaltar que, na última reunião, esse fator foi introduzido como risco baixista”, pontuou Goldenstein, da Warren, em relatório. Ele nota leitura abaixo do consenso do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre, com contração do consumo das famílias, após crescimento robusto anterior.
“Os ajustes subsequentes da Selic são mais uma sintonia fina, que permitem ao Comitê acompanhar a evolução do cenário interno e externo, minimizando o risco de exagerar na dose de aperto monetário e acarretar um efeito contracionista sobre a atividade acima do desejável”, complementou Goldenstein, citando também “maior flexibilidade” à condução dos juros com essa estratégia.
O JPMorgan pontuou, porém, que os próprios membros do Copom disseram haver incerteza sobre se os dados que indicam desaceleração da atividade representam desvio significativo ante cenário-base do colegiado, de moderação econômica gradual. “Essa desaceleração econômica antecipada foi caracterizada na última ata do Copom como condição necessária para convergência da inflação à meta.”
Segundo o BTG, o ambiente ainda se mostra “altamente desafiador” para a convergência da inflação ao centro da meta, de 3,0%, o que deve levar o colegiado a indicar que uma redução do ritmo de aperto, em maio, é “apropriada”, embora sem se comprometer definitivamente com essa trajetória, o que deixa espaço aberto para eventuais ajustes a depender dos desenvolvimentos econômicos.
PROJEÇÕES DE INFLAÇÃO
O Itaú BBA antevê revisão baixista para as projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência, situação esta que, caso confirmada, resultaria no primeiro recuo em mais de um ano, lembra o JPMorgan. O BBA aponta que a projeção para inflação ao fim de 2025 deve recuar a 5,0%, ante 5,2% estimados pelo Copom em janeiro. Já para o horizonte relevante, que engloba o terceiro trimestre de 2026, a projeção de inflação deve recuar a 3,9%, ante 4,0%.
“Essa reunião acontecerá em meio à discussão sobre potenciais pontos de inflexão que podem ter implicações relevantes para a dinâmica de preços e o balanço de riscos em torno da inflação, e que dizem respeito justamente aos fatores que o comitê afirmou que monitoraria à frente: atividade econômica, câmbio e expectativas de inflação”, escreveu o time do BBA.
BALANÇO DE RISCOS
Instituições do mercado consultadas pela Mover também apostam em reescrita do balanço de riscos nesta semana, voltando a incorporar os riscos baixistas oriundos do cenário externo, que foram retirados em janeiro. Na ocasião, Copom mudou a ênfase do balanço, focando nos riscos baixistas oriundos da atividade local.
“Desde então, não só os dados no Brasil continuaram a desapontar, mas as chances de uma recessão econômica global avançaram”, lembrou o JP Morgan, apostando que os riscos externos baixistas voltarão a ser descritos no balanço, com três fatores altistas e três baixistas a serem incorporados.
O próprio JP entende que as chances de uma revisão do viés altista no balanço de riscos, para “simétrico”, são as maiores desde que ele passou a ser descrito como “assimétrico”, em setembro. “Mas pensamos que o BC irá manter a assimetria altista por ora em razão do aprofundamento da desancoragem das expectativas, além das leituras recentes de alta da inflação.”
(GP | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)