Clima de incerteza antecede decisões do Fed e do BC brasileiro

No Brasil, o novo arcabouço fiscal segue em discussão e frustra a expectativa de que a proposta poderia sair antes do Copom

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Por Patrícia Lara

O clima favorável prevalece no exterior com a expectativa de que a turbulência bancária pode ter sido contida, ainda que os investidores sigam em alerta para quaisquer sinais de novas dificuldades. O dia traz a primeira etapa da reunião de dois dias do banco central americano, que termina amanhã. Os traders precificam majoritariamente a chance de aumento de 0,25 ponto porcentual da taxa de juros nos Estados Unidos. No Brasil, o novo arcabouço fiscal segue em discussão e frustra a expectativa de que a proposta poderia sair antes do encontro do Comitê de Política Monetária do BC, que também começa hoje com encerramento amanhã. A reunião deve culminar com a manutenção da taxa básica Selic em 13,75%.

As bolsas europeias operam com ganhos de mais de 1% e os futuros de Nova York têm altas mais amenas. O mercado amanhece no aguardo da decisão do Comitê Federal de Mercado Aberto, conhecido como FOMC, apostando em uma probabilidade de 82% de aumento de 0,25 ponto percentual da taxa básica de juros americana, segundo a ferramenta FedWatch da Chicago Mercantile Exchange. Na véspera, a aposta nesse desfecho era de 73,8%.

Nesse cenário, o Índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda americana ante uma cesta de divisas pares, opera perto da estabilidade, em torno de 103,30 pontos. Os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA sobem em toda a extensão da curva.

No mercado de commodities, o contrato futuro do petróleo Brent ensaia uma estabilização da queda de preço observada na véspera após certo alívio sobre se o risco bancário pode contaminar todo o mercado. Já os contratos futuros do minério de ferro estenderam as perdas de ontem, diante das perspectivas de nova intervenção do governo chinês após o último alerta de autoridades sobre atividade especulativa e contínuas restrições nas principais cidades que concentram a produção siderúrgica. O contrato futuro de minério de ferro para maio mais negociado na Dalian Commodity Exchange caiu 2,22% no fechamento da sessão desta terça-feira, a 879 iuanes, ou algo em torno de US$ 127,80, a tonelada, após recuar 2,48% no dia anterior.

Os desdobramentos após a compra do Credit Suisse pelo UBS continuam no radar com a reputação em xeque da Suíça como lugar seguro para guardar dinheiro. O acordo de aquisição, anunciado no domingo, fez com que o valor de títulos adicionais de nível 1 do Credit Suisse, ou AT1, no valor de cerca de US$17 bilhões no total, fosse reduzido a zero para aumentar o capital principal da instituição. Os títulos AT1 foram introduzidos na Europa após a crise financeira global de 2008 para servir como amortecedores em caso de quebra de bancos. Eles são projetados para impor perdas permanentes aos detentores dos papéis ou serem convertidos em patrimônio se os índices de capital de um banco caírem abaixo de um nível pré-determinado.

Outro desdobramento da aquisição é que a agência de avaliação de risco Moody´s rebaixou a perspectiva para a nota de crédito do UBS para negativa, na sequência de movimento similar feito ontem pela Standard&Poors. Ainda assim, as ações do UBS subiam 3,75% na Bolsa suíça SIX, prolongando os ganhos da véspera.

De volta ao Brasil, o governo federal retrocedeu e aumentará a taxa de juros do consignado do Instituto Nacional de Seguro Social, segundo os jornais. Uma reunião com os bancos para discutir o assunto acontecerá na sexta-feira. O novo percentual ainda não está definido, mas deve ficar entre 1,9% e 2%. A postura representa um retrocesso parcial da decisão do Conselho Nacional da Previdência Social, que determinou a redução da taxa máxima de juros do empréstimo consignado para beneficiários na semana passada, o que desagradou os bancos.

Enquanto aguarda a Super Quarta, a agenda do dia de hoje é leve. A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, discursará em evento do Bank for International Settlements (BIS), às 09h30. Nos EUA, saem vendas de casas usadas de fevereiro, às 11h00. Aqui, o Tesouro faz leilão de Letras Financeiras do Tesouro e de Notas do Tesouro Nacional – série B

MERCADOS GLOBAIS

O futuro do petróleo Brent para entrega em maio era negociado em alta de 0,87%, a US$74,51 o barril.

O Bitcoin subia 1,30% nas últimas 24 horas, a US$28.337; o Ethereum ganhava 1,41% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

O índice EWZ, que replica as ações brasileiras no exterior, subia 0,99% no pré-mercado americano. O movimento ocorre após o Ibovespa fechar no patamar dos 100 mil pontos – o que não ocorria em mais de oito meses – com investidores aguardando com cautela o anúncio do novo arcabouço fiscal e a decisão do Copom.

Os contratos de juros futuros na B3 devem seguir sustentados diante da expectativa de que a taxa Selic seguirá estática em 13,75%. A ponta longa fica a reboque dos movimentos do dólar e das taxas externas.

DESTAQUES

O presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou a parlamentares ontem que as discussões do novo marco fiscal devem continuar depois do retorno da viagem à China do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), previsto para o dia 1º de abril. (Uol)

Após os encontros com Pacheco e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ontem o Ministério da Fazenda ganhou o apoio da cúpula do Congresso para a proposta que está sendo finalizada de um novo arcabouço fiscal. A proposta inclui, entre outros pontos, uma intenção de zerar o déficit primário já em 2024. (G1)

Os detentores de títulos de bancos europeus avaliam uma ação judicial depois que a aquisição do Credit Suisse pelo rival UBS no domingo eliminou o valor de dívidas mais arriscadas, o que contribuiu para um clima febril em relação à solidez dos bancos. (Reuters)

O Credit Suisse comunicou aos funcionários que manterá as bonificações e aumentos salariais planejados para este ano, mesmo depois do anúncio no fim de semana de que o banco precisou ser socorrido pelo UBS, em um negócio de US$3,23 bilhões. (Financial Times).

Os dirigentes do Federal Reserve, o BC americano, discutem nesta semana a continuidade do aperto de juros na economia dos Estados Unidos em meio a um dilema: de um lado, precisam lidar com o cenário de inflação persistentemente alta no país, e, de outro, com a mais grave crise bancária desde 2008, após a falência de bancos regionais americanos e da compra do Credit Suisse pelo UBS. (Mover)

O presidente-executivo do JPMorgan, Jamie Dimon, está conduzindo discussões com chefes-executivos de outros grandes bancos sobre novos esforços para estabilizar o First Republic Bank. Os debates estão centrados em como o setor poderia providenciar um investimento que aumentaria o capital do banco. (The Wall Street Journal)

A confiança do investidor alemão caiu mais do que o esperado, encerrando uma série de seis meses de recuperação do sentimento econômico após o início da turbulência no setor bancário. O indicador de expectativas dos investidores do ZEW Institute para a maior economia da Europa caiu para 13 pontos, abaixo dos 28,1 pontos registrados em fevereiro. Economistas consultados esperavam uma queda para 16,4 pontos. (Reuters)

A Americanas apresentou seu plano de recuperação judicial, que prevê aporte de R$10 bilhões de seus três principais sócios: Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira. O plano inclui ainda vendas de ativos como uma aeronave da empresa avaliada em mais de R$40 milhões. A companhia também sugere a venda da unidade de negócios Hortifruti Natural da Terra e da participação no Grupo Uni.Co, que inclui empresas como a Imaginarium. (Jornais)

O grupo francês Pernod Ricard, dono de marcas de destilados célebres como Chivas Regal e Martell Cognac, fez uma nova investida com a compra de fatia majoritária na Skrewball, que fabrica whisky com sabor de manteiga de amendoim. (Financial Times)

AGENDA

Christine Lagarde (Banco Central Europeu) – A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, discursará em participação gravada para evento do Bank for International Settlements (BIS). Horário: 09h30.

Leilão do Tesouro (Brasil) – O Tesouro Nacional realizará o leilão de Letras Financeiras do Tesouro (LFT) e notas do Tesouro Nacional – Série B (NTN-B). Horário: 10h30.

Variação de Vendas de Casas (Estados Unidos) – A Associação Nacional de Corretores Imobiliários dos EUA divulgará a variação de vendas de casas usadas nos EUA referente ao mês de fevereiro. Divulgação: 11h00. Anterior: -0,7%. Consenso: +5,0%.

Leilão de Treasuries (Estados Unidos) – O Tesouro dos EUA realizará leilão de Treasuries de 20 anos. Horário: 14h00.

API (Estados Unidos) – O American Petroleum Institute divulgará os estoques americanos de petróleo na semana encerrada em 17 de março. Divulgação: 17h30. Anterior: +1,15 milhão de barris.

Copom (Brasil) – O Comitê de Política Monetária do Banco Central iniciará seu primeiro dia de reunião de juros.

FOMC (EUA) – O Comitê Federal de Mercado Aberto iniciará seu primeiro dia de reunião de juros.

Balanços (Brasil) – Copasa, Copel, JBS, Santos Brasil e Vibra Energia divulgarão seus resultados trimestrais após o fechamento dos mercados.

Balanços (EUA) – A Nike divulgará seus resultados trimestrais após o fechamento dos mercados