Por Luca Boni e Fabricio Julião
O Ibovespa seguia operando em queda, pressionado pelas ações da Vale (VALE3) e da Petrobras (PETR4). O sentimento de maior cautela e busca por proteção contra o risco predomina sobre o mercado após o rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos pela Fitch. Por aqui, a expectativa é pela decisão do novo patamar da taxa de juros pelo Banco Central, que será divulgada após o fechamento do mercado.
Por volta das 12h10, o Ibovespa recuava 1,17% aos 119.832 pontos. O volume de negócios projetado para hoje é de R$14,6 bilhões, abaixo da média de 50 pregões.
No cenário local, a expectativa é para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), e o mercado é unânime ao precificar que haverá corte na taxa básica de juros – o primeiro em três anos. A maior divergência dos agentes financeiros está em relação à magnitude da redução.
Segundo o TC Consenso, a maior parte dos 22 economistas consultados pela Mover acredita em um corte de 25 pontos-base. Outros, entretanto, esperam que o BC seja mais agressivo e diminua a Selic em 50 pbs. Pelas opções do Copom negociadas na B3, a chance de corte de 50 pbs está em 52%, enquanto 44% esperam redução de 25 pbs.
Entre as ações de destaque para as ON da Vale recuam 1,50% e são as maiores detratoras do Ibovespa. Os papéis da mineradora cedem em linha com o minério de ferro, que se desvalorizou na última madrugada na China.
As ON e PN da Petrobras caem 2,23% e 2,32%, respectivamente, também pressionando o índice. Apesar da nova política de distribuição de dividendos não ter trazido grande impasse na visão de agentes de mercado, a estatal ainda enfrenta o aumento dos receios dos investidores em relação à sua política de preços e ao risco de ingerência política.
As ON da Cielo, da Magazine Luiza e da CSN caíam 7,87%, 4,08% e 3,65%, respectivamente, figurando entre as maiores quedas percentuais do Ibovespa nesta sessão.
As ações da Cielo despencavam, após a companhia divulgar seus resultados do segundo trimestre e reportar uma alta de 11,5% em seu lucro líquido frente ao mesmo período do ano anterior. Analistas do Itaú BBA, porém, consideraram o resultado fraco e ressaltaram que as preocupações sobre volumes e dinâmica de custos aumentaram.
Na ponta oposta, entre as maiores contribuidoras por pontos, as ON da Ambev, da JBS e da Eneva avançavam 0,87%, 2,26% e 0,82%, na sequência.
EXTERIOR
Em Wall Street, as bolsas operavam em queda em uma sessão com maior aversão ao risco nos mercados globais após o rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos pela Fitch. Investidores também reagem à divulgação do relatório de empregos privados ADP que mostrou uma desaceleração na comparação mensal, mas ainda assim, superou o consenso.
Perto das 12h10, o Dow Jones, o S&P500 e o Nasdaq 100 recuavam 0,77%, 1,12% e 1,94% respectivamente. Os rendimentos dos títulos do Tesouro americano de dez anos operavam em alta de 8,7 pontos-base, a 4,112%, e os de dois anos – mais sensíveis à política monetária – avançavam 2,3 pontos-base, a 4,929%.
Ontem à noite, a agência de classificação de risco Fitch rebaixou a nota de crédito dos EUA de “AAA” para “A+”, com perspectiva estável, apontando para uma esperada deterioração dos resultados fiscais e dos fundamentos da maior economia do mundo nos próximos três anos. A Fitch também destacou o crescente aumento da dívida do governo geral.
O rebaixamento do rating dos EUA não acontecia desde 2011 e na noite de ontem, a secretaria do Tesouro, Janet Yellen, disse que a decisão da Fitch se baseou em “dados desatualizados”, ressaltando que a economia americana se recuperou rapidamente da recessão deflagrada pela Covid-19.
“Os investidores podem usar esse rebaixamento da Fitch como um motivo para obter alguns lucros, mas achamos que provavelmente foi uma parte natural do ciclo do mercado”, disse Mona Mahajan, estrategista sênior de investimentos da Edward Jones, em entrevista à CNBC.
Divulgado mais cedo, o relatório de empregos privados da ADP mostrou a criação de 324 mil vagas de trabalho em julho, acima do consenso de 189 mil. Na comparativo mensal, o indicador mostrou uma desaceleração ante junho.
JUROS
As taxas dos contratos de juros futuros operavam sem direção definida nesta quarta-feira. Agentes financeiros hesitam nesta última sessão de negociações antes da decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que será divulgada hoje após o fechamento do mercado.
Por volta das 12h10, os DIs com vencimentos em Jan/24 e Jan/25 subiam 2,0 pontos-base e 1,0 pb, respectivamente, a 12,64% e 10,68%. Já as taxas dos contratos para Jan/27 e Jan/31 caíam 3,0 pbs, a 10,13% e 10,71%, nessa ordem.
A curva dos DIs teve leve queda generalizada logo na abertura, às 9h, em ajuste à alta do dia anterior. Logo em seguida, os vértices acabaram ficando menos pressionados – principalmente os curtos – em meio às apostas de agentes financeiros sobre o nível da taxa Selic que será escolhido pelo Banco Central.
“Após Lira adiar a votação do marco fiscal, o humor do mercado mudou um pouco com uma pressão maior na compra dos vértices mais curtos. Esse movimento está dividindo ainda mais a curva dos DIs, com os longos em queda”, afirmou o especialista em renda fixa da Quantzed Ricardo Jorge.
“O dia tende a ser volátil por conta da decisão de hoje, pois o corte de juros não está 100% precificado. Pelo contrário, está bem dividido. As ‘apostas’ estão entre corte de 25 pbs e de 50 pbs e, independente do resultado, acho que haverá um reajuste na curva”, acrescentou.
CÂMBIO
O dólar apreciava diante do real pelo segundo dia consecutivo nesta quarta-feira. A taxa de câmbio era impactada pelo alastramento da aversão ao risco no mundo, após o rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos pela Fitch Ratings.
Perto de 12h10, o dólar à vista subia 0,51%, a R$4,8180, enquanto o dólar futuro avançava 0,48%, a R$4,844.
O real chegou a abrir a sessão em alta diante da moeda mais negociada do mundo, mas foi perdendo fôlego ao longo da manhã. Nesta quarta-feira, nenhuma moeda valorizava perante o dólar americano dentro de uma cesta de 22 divisas acompanhadas pela Mover.
O Índice DXY, que mede a força do dólar em relação a outros pares fortes e com bastante liquidez, avançava 0,77%, aos 102.735 pontos.