BCE mantém ritmo agressivo de alta de juros e Lagarde reforça foco na meta

A taxa básica de juros na Zona do Euro subiu de 3,00% para 3,50%

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Por Felipe Corleta

O Banco Central Europeu manteve sua postura agressiva no combate à inflação nesta quinta-feira, elevando os juros em 50 pontos-base e dando continuidade ao maior ciclo de aperto monetário da Zona do Euro desde a unificação monetária em 1999.

O BCE, no entanto, retirou a indicação futura de que continuará apertando os juros, deixando a sua próxima decisão “dependente dos dados econômicos, das dinâmicas da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária”.

A presidente do BCE, Christine Lagarde, disse que a transmissão da política monetária iniciou-se através do canal de crédito. Ela disse que “não recuou na determinação do combate da inflação” e afirmou que não vê um “trade-off” entre estabilidade de preços e estabilidade financeira.

Lagarde apontou que “caso o cenário base persista, ainda há um longo caminho a se percorrer com as taxas de juros”. “Projeta‑se que a inflação permaneça demasiado elevada durante demasiado tempo”, afirma o comunicado da decisão de juros do BCE.

A taxa básica de juros na Zona do Euro subiu de 3,00% para 3,50%. A taxa permanente de depósito subiu de 2,50% para 3,00%, enquanto a taxa de facilidade de cedência passou de 3,25% para 3,75%.

Lagarde pontuou que a decisão do BCE de hoje não levou em conta os desdobramentos recentes, que, segundo ela “reduziram expressivamente as taxas de juros praticadas pelo mercado”. Desde a última quinta-feira, os juros futuros de dois anos dos títulos públicos alemães caíram de 3,35% para 2,41%.

“O Conselho do BCE está acompanhando de perto as atuais tensões no mercado e está preparado para responder conforme necessário, no sentido de preservar a estabilidade de preços e a estabilidade financeira na área do euro”, diz o comunicado do BCE.

Lagarde disse que o conselho poderá usar da “criatividade” se houver uma crise de liquidez. Ela, no entanto, afirmou que o sistema bancário europeu possui posições confortáveis de capital e liquidez. A presidente do BCE também descartou realizar injeções de liquidez no modelo recente utilizado pelo Fed, de compra de títulos dos bancos seguindo marcações ao par, ou “na curva”, ao invés dos preços de mercado desses ativos.

Perguntada se vê um paralelo entre a crise bancária recente, disparada pela quebra do Silicon Valley Bank nos Estados Unidos, e a grande crise financeira de 2008, Lagarde dsse que “o setor bancário está muito, muito mais forte do que em 2008”. “Não vemos na Europa ocorrências como as da Califórnia”, disse.

O vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, disse que vê pouca exposição do sistema europeu ao caso do Credit Suisse, cujas ações vêm sofrendo na esteira de uma onda de desconfiança dos mercados sobre a solvência dos bancos.

Após a decisão e as falas de Lagarde, perto das 12h00, o euro se valorizava 0,20% ante o dólar americano, cotado a US$1,06. O índice Stoxx 600, que segue as 600 ações mais líquidas do continente, subia 0,90% e o fundo de índice EXV1, que replica o desempenho das ações dos bancos europeus operava estável, mas registrando perdas semanais de 10,5%.