BC tenta suavizar o ciclo de juros "o máximo possível", diz Campos Neto

Campos Neto voltou a dizer que o custo de não combater a inflação é "muito maior"

Agência Brasil
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Por: Gabriel Ponte

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira que a autoridade monetária tenta suavizar o ciclo de aperto monetário “o máximo possível”, de forma que o impacto sobre a atividade econômica seja “o mínimo”.

De acordo com Campos Neto, apesar de os juros já se encontrarem em patamar elevado, é preciso haver credibilidade para que seus efeitos se propaguem pela curva de juros. O presidente do BC participou de almoço com empresários de diversos setores da economia local promovido pelo Grupo Esfera Brasil. 

Campos voltou a repetir que o arcabouço fiscal apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), elimina o risco de cauda de explosão da trajetória da dívida pública como proporção do Produto Interno Bruto (PIB).  

Campos disse observar uma “ansiedade” entre agentes quanto ao tema de despesas obrigatórias no país, e pontuou que o governo está fazendo um “esforço grande”. O presidente do BC também reforçou que a autoridade monetária possui um sistema de metas, no qual acredita muito. 

Segundo ele, a dificuldade de o país cortar despesas é estrutural, em movimento que exime o atual governo do tópico. Segundo ele, 46% das despesas já possuem crescimento anual entre 1,6% e 1,7% acima da inflação “encomendado”. 

O presidente do BC voltou a repetir que não há relação mecânica entre os juros e o arcabouço fiscal, apesar da influência sobre as expectativas. Campos também alertou para “ruídos”. 

“É muito importante entender que o ruído atrapalha o canal de expectativas. Ele atrapalha tanto o canal de expectativas de política monetária, como o de política fiscal. Se falo que vou fazer um plano fiscal, e pessoas do governo começam a criticar o plano, esse canal de expectativas fica interrompido. Não consigo trazer o benefício da promessa a valor presente como gostaria.”

CUSTO DE NÃO COMBATER INFLAÇÃO

O presidente do BC voltou a defender também que, apesar dos efeitos de curto prazo do aperto monetário sobre a atividade, o custo de não combater a inflação é “muito maior”. Campos ouviu críticas, pelos presentes no evento, sobre a inviabilidade de realizar investimentos com os atuais juros. 

“Nenhum Banco Central quer ter juros altos, claro que queremos juros baixos”, complementou. Citou dados recentes que apontam para o aumento de desigualdade na Argentina atrelado ao aumento da inflação. 

Ele reconheceu que a taxa de juros real local é “muito alta, a mais alta do mundo”, mas que o Banco Central tem de ser parte para solucionar o problema, juntamente com o Ministério da Fazenda e do Congresso Nacional. 

Também de acordo com Campos, soluções de crédito subsidiado no curto prazo são “meritórias”, mas no longo prazo, caso haja subsídio a todos, os juros serão mais altos. 

PRÓXIMA DECISÃO DO COPOM

Questionado sobre a decisão de juros da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), Campos Neto afirmou que o BC irá trabalhar para fazer com que a inflação vá para a meta com o mínimo custo possível para a sociedade. 

Campos também pontuou que a comunicação é um “desafio que aumentou”, em meio a algumas narrativas apresentadas.

AUTONOMIA DO BC 

De acordo com Campos, o Banco Central encontra-se em um ciclo independente do político, e a tendência é que o poder do governo sobre a autarquia seja cada vez menor. “Eu também terei cada vez menos poder em relação ao BC, isso é saudável”, assinalou.