Copom mantém Selic em 13,75% e alerta para "conjuntura incerta" sobre fiscal

Decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central vem em linha com as expectativas do mercado

Agência Brasil
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Por: Gabriel Ponte e Felipe Corleta

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil decidiu manter a taxa básica de juros Selic no nível atual nesta quarta-feira, em linha com o consenso, e alertou para uma conjuntura “particularmente incerta” no quadro fiscal, que requer maior atenção na condução da política monetária.

O Copom manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano, conforme a expectativa de todos os 16 bancos e casas de análises consultados pela Mover. A decisão foi unânime.

O quadro fiscal incerto mencionado pelo Copom está ligado às incertezas em relação ao arcabouço fiscal brasileiro, diante da iminência do fim da principal regra fiscal vigente no país: o Teto de Gastos. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), prometeu apresentar um novo conjunto de regras que regerão os gastos públicos em abril.

O contexto fiscal também é marcado pela aprovação da Proposta de Emenda à Constituição da Transição, que permitiu a ampliação de gastos públicos de até R$175 bilhões neste ano. A proposta foi aprovada para que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pudesse cumprir propostas de campanha como a manutenção do programa Bolsa Família.

O colegiado afirmou que esses fatores elevam o custo de desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Em comunicado, o Copom reforçou a posição vigilante e informou que avalia se a estratégia de manter a taxa Selic no nível atual por um período mais prolongado do que o previsto no cenário de referência será capaz de assegurar a convergência da inflação. O comitê mencionou que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste, caso o processo de desinflação não transcorra como o esperado.

O Copom elevou a projeção de inflação para 2023, de 5,0% para 5,60%, e para 2024, de 3,0% para 3,40%. Ambas as estimativas do BC ficaram abaixo da mediana das expectativas de agentes do mercado publicadas no último boletim Focus, de 5,70% para 2023, e de 3,90% para 2024.

O Copom ressaltou que em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta, o comitê citou a persistência das pressões inflacionárias globais, e a “ainda elevada incerteza” sobre o futuro do arcabouço fiscal do país, assim como estímulos fiscais que impliquem na sustentação da demanda agregada. Entre os riscos de baixa, o Copom ressaltou a eventual queda adicional dos preços das commodities, a desaceleração da atividade econômica global mais acentuada e a manutenção de cortes de impostos projetados para serem revertidos neste ano pelo governo federal.

“Há duas questões importantes na comunicação. A primeira, uma preocupação com as expectativas de inflação, que estão divergindo, e a segunda é o fato que, neste cenário, é provável que o BC mantenha o juro parado por mais tempo”, afirmou o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani.

“Houve um recado bem claro (do comunicado do Copom ao Poder Executivo) falando: ‘sem um arcabouço fiscal claro, e sem confiança de quais serão as metas, fica difícil fazer o processo de desinflação’”, afirmou o economista-chefe da Reach Capital, Igor Barenboim, à TC Rádio.