ão Paulo, 31/7/2024 – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira manter a taxa básica de juros, a Selic, em 10,50% ao ano, em decisão unânime e em linha com o previsto, pontuando que o cenário global incerto e o doméstico marcado por resiliência na atividade e outros fatores, como expectativas desancoradas, demandam “acompanhamento diligente” e “ainda maior” cautela” do colegiado.
O colegiado também reiterou que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente, em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno da meta.
Desde junho, o Copom interrompeu o processo de alívio monetário produzido entre agosto de 2023 e maio deste ano. Também desde o mês passado, o pano de fundo para os mercados locais se tornou mais complexo, com uma deterioração do câmbio, desancoragem contínua das expectativas inflacionárias, temores fiscais e uma resiliência observada no mercado de trabalho.
Na decisão desta noite, o Copom reescreveu trecho do comunicado para pontuar que a percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O Copom voltou a repetir que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros.
Para Manuel Lamas, economista-chefe da Acura, o mercado financeiro deve reagir bem à decisão e ao comunicado do Copom, que não veio tão duro quanto esperado, apesar do enfraquecimento do processo desinflacionário. Ele vê a Selic em nível elevado até a ancoragem das expectativas de inflação, mas não acredita em aumento na Selic, por avaliar que a política monetária já está em patamar restritivo.
RISCOS E PROJEÇÕES
Esse cenário e as sinalizações do Copom apontam para manutenção da Selic no patamar atual por mais duas ou três reuniões, avaliou o economista-chefe da Way Investimentos, Alexandre Espírito Santo, que notou piora no balanço de riscos internos do BC.
O Copom incluiu em seu balanço de riscos, que seguiu simétrico, a desancoragem das expectativas inflacionárias por período mais prolongado e uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada como fatores altistas para o cenário inflacionário. Ainda assim, o Copom pontuou que permanecem fatores de risco em ambas as direções, assim como feito em junho.
O Copom também voltou a repetir que uma maior resiliência na inflação de serviços é outro risco altista para os preços. Entre os riscos de baixa, permanecem uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada e desinflação global mais forte do que o esperado.
A mediana das projeções de economistas coletadas no mais recente Focus mostrou alta de 16 pontos-base para o IPCA ao fim de 2025 – horizonte relevante – a 3,96%, ante 3,80% observados no Focus antes do Copom de junho. O colegiado também incluiu, pela primeira vez, projeções para a inflação do ano de 2026, que ganharão relevância crescente nas próximas reuniões.
Em suas projeções no cenário de referência, o Copom elevou a estimativa de inflação ao fim de 2024 a 4,2%, ante 4,0% estimados em junho. Para 2025, as estimativas avançaram a 3,6%, ante 3,4%. Pela primeira vez, o Copom também incluiu projeções para o ano de 2026, passando a ver IPCA de 3,4% no primeiro trimestre no cenário de referência.
Em cenário alternativo, no qual a Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante, o IPCA encerraria o ano de 2024 em 4,2%, ante 4,0% em junho. Em 2025, iria a 3,4%, ante 3,1%, e em 2026 iria a 3,2%.
A projeção para a inflação de preços administrados em 2024 foi revisada a 5,0%, ante 4,4%. Já para 2025, manteve-se em 4,0%. Em seu cenário de referência, o Copom considera a taxa de câmbio partindo de R$5,55/US$, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC).
Já em ambos os cenários, os preços do petróleo seguem aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passam a aumentar 2% ao ano posteriormente, além da adoção de hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e dezembro de 2025.
Também de acordo com o Copom, o conjunto de indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo maior do que o esperado. A desinflação medida pelo IPCA cheio tem arrefecido, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.
No exterior, o Copom citou que o ambiente externo se mantém adverso, em função da incerteza sobre os impactos e a extensão da flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e sobre as dinâmicas de atividade e de inflação em diversos países. Segundo o colegiado, o cenário externo segue exigindo cautela por parte de emergentes.
(GP | Edição: Luciano Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)