BC fica em foco após Haddad citar até corte em programas sociais

No exterior, o dia é de cautela com queda nos futuros de índice acionários de Nova York

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Por: Patrícia Lara

O mercado local deve operar nesta terça-feira à espera de sinalizações sobre a taxa básica de juros, com duas participações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em eventos abertos. Os comentários ocorrem após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmar ontem que o governo buscará corrigir distorções no sistema tributário brasileiro para ampliar arrecadação. Ele defendeu apoio da sociedade aos ajustes para evitar corte em programas sociais, enquanto afirmou que tenta construir com a autoridade monetária uma relação de confiança para concorrer aos mesmos objetivos.

O presidente do BC participará de bate papo sobre desafios da política monetária no Brazil Investment Forum, organizado pelo Bradesco BBI, às 9h00. Sua participação terá transmissão ao vivo pelo YouTube. Ele profere ainda palestra em evento promovido pela Esfera Brasil, em São Paulo, às 12h00.

No exterior, o dia é de cautela com queda nos futuros de índice acionários de Nova York e desempenho misto nas bolsas europeias com as incertezas sobre as perspectivas econômicas, enquanto investidores aguardam dados do mercado de trabalho nos Estados Unidos para ajustar as expectativas sobre a política monetária americana.

Ontem, a presidente do Federal Reserve de Cleveland, Loretta Mester, disse que vê a política monetária americana se mexendo “um pouco mais em território restritivo este ano, com a taxa dos Fed Funds movendo-se acima de 5% e a taxa real permanecendo em território positivo por algum tempo” para assegurar um caminho descendente sustentado da inflação para 2% e manter as expectativas de preços ancoradas.

As taxas de juros dos títulos da dívida americana subiam nesta manhã, puxadas pelos vencimentos mais curtos. A taxa do título para um ano avançava 12 pontos-base, a 4,603%, perto das 7h00. O Índice Dólar DXY, que mede a variação da moeda americana ante principais divisas pares, também se aprecia nesta manhã.

Em contraste com a decisão da Austrália ontem de manter a taxa de juros do país inalterada, a vizinha Nova Zelândia anunciou hoje um aumento inesperado de 0,50 ponto percentual da sua taxa básica para 5,25%, o patamar mais alto desde dezembro de 2008. A decisão superou o consenso que era de alta de 0,25 pp. O BC citou que a inflação ao consumidor segue persistentemente elevada e a taxa de emprego continua acima do patamar máximo sustentado.

O dia reserva a divulgação do relatório de emprego no setor privado ADP nos EUA, às 9h15, antes do relatório Payroll na sexta-feira. Também serão divulgados índices de atividade de gerentes de compras, os PMIs, em vários países, incluindo o dado composto, que engloba os setores industrial e de serviços, e do setor de serviços e manufatureiro do Brasil, às 10h00, e nos EUA, às 10h45. À noite, a China anuncia os PMIs composto e de serviços Caixin.

Esta manhã é marcada por vários dados positivos na Zona do Euro. Na Alemanha, as encomendas às indústrias do país tiveram um crescimento surpreendente de 4,8% em fevereiro, o que corresponde ao melhor desempenho desde junho de 2021. Na Espanha, o PMI de serviços subiu para 59,4 em março, ante 56,7 registrados no mês anterior e muito acima do consenso de 57,5. A produção industrial francesa também superou as expectativas, com alta de 1,2% em fevereiro, em recuperação da queda de 1,4% registrada em janeiro.

No mercado de commodities, o contrato futuro de petróleo Brent é negociado com leve queda de preço, revertendo alta inicial observada nesta quarta-feira. Ainda sob efeito do corte da oferta por algumas nações da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados, a Opep+, o mercado recebeu ontem dados mostrando que os estoques da commodity nos EUA caíram cerca de 4,3 milhões de barris na semana encerrada em 31 de março, de acordo com fontes do mercado citando dados do American Petroleum Institute. Já o minério de ferro não tem referência de preços da Bolsa de Dalian nesta manhã, devido a um feriado na China.

MERCADOS GLOBAIS

O contrato de ouro para entrega em junho avançava 0,16%, a US$2.023 a onça-troy.

O Bitcoin subia 1,25% nas últimas 24 horas, a US$28.617; o Ethereum tinha alta de 2,09% no mesmo período.

MERCADOS LOCAIS

O índice EWZ, ETF que replica as ações brasileiras no exterior, subia 0,70% no pré-mercado americano.

Os contratos de juros futuros na B3 devem se ajustar a potenciais sinais do BC e ao rumo das taxas de juros no exterior.

DESTAQUES

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), defendeu ontem a correção de distorções tributárias como forma de não cortar programas sociais e anunciou que novas medidas de recomposição de receitas devem somar R$115 bilhões. A fala aconteceu durante participação virtual do ministro em evento do Bradesco BBI, que acontece em São Paulo até amanhã. (Mover)

Haddad disse que está acompanhando o debate sobre a meta de inflação com “muita humildade”, citando discussões sobre se uma mudança da meta ancora ou desancora a inflação. O ministro disse que tratou do tema com Campos Neto. O ministro afirmou que é importante verificar se as metas foram bem calibradas e avaliar se é o caso de fazer uma meta contínua. “Só Brasil e Turquia fazem meta de ano calendário”, disse. “Não queremos antecipar isso [a meta] a não ser na reunião [do Conselho Monetário Nacional] que vai determinar isso”, declarou. (Mover)

O Governo federal prevê assinar hoje dois decretos com ao menos oito pontos que alteram a regulamentação do novo Marco Legal do Saneamento, sendo uma das medidas a possibilidade de prestação de serviços por empresas estatais sem licitação. (Valor)

O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) afirmou ontem que o governo estuda um benefício para pequenas empresas que exportam produtos. A ideia é oferecer créditos em tributos para incentivar a venda a outros países. Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, falou sobre o plano do governo após uma reunião com o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo. (O Globo)

O ex-presidente dos EUA Donald Trump fez ontem um discurso para apoiadores em Mar-a-Lago, sua mansão na Flórida, no qual disse que o único crime que cometeu foi ter “tentado proteger o país daqueles que querem destruí-lo”. Em dia histórico, Trump se entregou ontem à Justiça de Manhattan e ouviu acusações criminais. Ele disse ser inocente de 34 acusações ligadas ao pagamento de suborno à ex-atriz pornô Stormy Daniels para não falar sobre uma relação que tiveram em 2016. (Agências)

A recuperação da atividade na Zona do Euro se acelerou em março com demanda por serviços. O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) Composto da região subiu de 52 pontos em fevereiro para 53,7 pontos em março, atingindo o maior nível em dez meses, segundo pesquisa final divulgada nesta quarta-feira pela S&P Global. O número definitivo de março, porém, ficou abaixo da leitura preliminar, de 54,1 pontos. (Reuters)

O presidente do JPMorgan Chase, Jamie Dimon, afirmou ontem que a crise bancária nos Estados Unidos não acabou e que seu impacto ainda será sentido pelos próximos anos. Ele escreveu os comentários em carta anual endereçada aos cotistas do banco. De acordo com Dimon, “nuvens de tempestade” continuam a ameaçar a economia americana, com o sistema bancário sob estresse. (Mover)

Os planos de demissão em massa associados ao UBS, caso confirmados, seriam os maiores globalmente nos últimos seis meses. De acordo com publicações especializadas suíças, o UBS estuda cortar até 36 mil trabalhadores da sua força de trabalho, semanas após o banco suíço adquirir o Credit Suisse – e em meio ao aperto monetário promovido em escala global. (Bloomberg)

O Fundo Monetário Internacional atualiza seu relatório Perspectivas Econômicas Mundiais nesta terça-feira, às 10h30 (horário de Brasília). Em janeiro, a projeção para o Produto Interno Bruto global foi revisada para 2,9% e a do Brasil, para 1,2% em 2023. (Agências)