Banco do Brasil (BBSA3): Ação sobe 28%; investidor deve comprar?

Risco político segue no radar do mercado

Facebook/Banco do Brasil
Facebook/Banco do Brasil

Por Ana Luiza Serrão

As ações ordinárias do Banco do Brasil (BBSA3) acumulam alta de 28,25% na B3 neste ano, em meio a resultados operacionais fortes e à visão do mercado de que a instituição financeira estatal tem um perfil de cliente de menor risco diante do cenário macroeconômico desafiador em 2023.

Analistas ouvidos pela Mover ressaltaram a combinação de escolhas técnicas para a diretoria do banco, que reduziram temores de interferência política, embora possíveis intervenções do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a empresa ou o setor bancário em geral sigam como um sinal de alerta no radar.

Com a bolsa brasileira recuando cerca de 5% no acumulado deste ano, as ações do segundo maior banco da América Latina são consideradas menos sujeitas ao risco de inadimplência que as dos principais rivais, devido ao perfil dos clientes, afirmou à Mover o chefe de análise da Eleven Financial, Carlos Daltozo, que recomenda a “compra” dos papéis.

“Foi um dos bancos menos impactados com a questão da Americanas, por exemplo. Em momentos de elevada inadimplência, a gente está vivendo um círculo de deterioração da qualidade das carteiras, e o Banco do Brasil, por ser mais conservador no empréstimo, acaba tendo uma carteira mais conservadora também. Isso se reflete no menor nível de provisionamento nesse momento”, afirmou.

O BB registrou lucro líquido ajustado de R$31,8 bilhões em 2022, com R$9 bilhões no quarto trimestre, superando consensos e apresentando rentabilidade recorrente, medida pela chamada ROE, de 23%, contra 19,3% do Itaú e 4% do Bradesco.

O Banco do Brasil ainda deve reportar o lucro líquido mais forte do setor bancário do país no primeiro trimestre, de cerca de R$8,5 bilhões, alta de mais de 20% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo a projeção de analistas do BTG Pactual em relatório publicado em 19 de abril.

“Ele já vem desde o segundo trimestre do ano passado entregando uma rentabilidade muito próxima aos seus pares privados, e no quarto trimestre foi o banco que apresentou o melhor retorno sobre o patrimônio livre”, afirmou Daltozo, da Eleven.

A forte presença de servidores públicos e do agronegócio na carteira de crédito do BB é outro fator positivo, segundo o analista-chefe do TC Matrix, Carlos André Vieira. Ele projeta que boa parte dos funcionários públicos deve ter aumento salarial neste ano e que o setor agrícola crescerá em ritmo acima do Produto Interno Bruto em 2023.

Por outro lado, pressões políticas sobre a instituição financeira estatal não estão descartadas, em especial relacionadas ao crédito, enquanto o governo federal desenvolve o programa Desenrola, que visa facilitar a renegociação de dívidas a pessoas físicas com renda de até dois salários mínimos.

“Pode haver alguma pressão para que o Banco do Brasil absorva parte dessas perdas que serão esperadas em operações de crédito, especialmente para limpar o nome de pessoas inadimplentes. Então a questão é: qual a magnitude dessa perda? Isso ainda traz incerteza para o investidor”, disse Vieira.

Por volta das 10h45, as ações ordinárias do BB caíam 0,67% na B3, a R$43,13. O Ibovespa operava em queda de 0,99%. Em 12 meses, os papéis do banco sobem 27,54%.

O TC Matrix tem recomendação de “compra” para as ações do BB, com preço-alvo de R$70, citando perspectiva “bastante otimista” projetada pela própria companhia para o ano, com meta que aponta para ROE de 20% a 23%.

A tese do TC Matrix para investimento no BB se baseia na rentabilidade elevada, carteira de crédito resiliente e proventos, embora analistas ressaltem que “incertezas políticas ainda se mantêm”, dados os planos do governo para o setor de crédito.