Ata do Copom traz mensagem dura sobre inflação e autonomia, dizem analistas

Ata do comitê mostrou tom mais duro sobre comprometimento do Banco Central com a conversão da inflação à meta e a autonomia da autarquia

Agência Brasil
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Por: Clara Guimarães

A ata do encontro da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta manhã, mostrou um tom mais duro sobre o comprometimento do Banco Central com a conversão da inflação à meta e sua autonomia na condução da política monetária, avaliaram analistas consultados pela Mover.

“Trata-se de uma ata bem austera, não só em relação ao compromisso com a inflação, mas também com relação à autonomia. De certa forma, ela delimita o campo de atuação, deixando claro que não haverá interferências”, afirmou o especialista em renda fixa da Quantzed, Ricardo Jorge.

Na ata, o colegiado ressaltou especial preocupação com a deterioração das expectativas de inflação de prazos mais longos, citando, entre os motivos, a possibilidade de mudanças nas metas atuais deste indicador – que tem sido fala recorrente em discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Acho difícil que Lula queira comprar essa briga porque o mercado está todo do lado do Banco Central”, disse Jorge, apostando que apostura da autarquia deve se manter assim enquanto Roberto Campos Neto estiver no comando.

E, mesmo com o reconhecimento do comitê de que a execução do pacote de medidas apresentado pelo Ministério da Fazenda atenuaria os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação, a expectativa no cenário ainda é de piora da alta de preços no longo prazo.

“A principal mensagem continua sendo que, dado o estímulo fiscal que está colocado no cenário, e considerando as projeções, o espaço para o corte de juros é pequeno, na verdade, inexistente até o fim do ano”, disse o economista-chefe da Monte Bravo Investimentos, Luciano Costa.

O economista-chefe da XP, Caio Megale, também chamou a atenção em relatório para o entendimento do Copom de que os acontecimentos recentes – principalmente do lado fiscal – podem atuar no sentido de elevar a taxa de juros neutra, o que exigiria uma elevação nominal da Selic ao longo do tempo.

“A mensagem final (hawkish) é clara: o Copom irá atuar para garantir que a inflação convirja para as metas”, escreveu Megale.