Ações do Bradesco abrem em forte queda após balanço visto como fraco

O Bradesco foi pressionado por um provisionamento de R$4,85 bilhões para cobrir 100% da exposição à varejista Americanas

Bradesco/Divulgação
Bradesco/Divulgação

Por: Gustavo Boldrini e Luciano Costa

As ações do Bradesco despencavam nesta sexta-feira, após divulgação do balanço do quarto trimestre de 2022 que mostrou tombo histórico na rentabilidade e projeções para 2023 vistas como negativas por analistas.

Perto das 10h25, os papéis preferenciais caíam cerca de 7%, a R$12,83, tocando mínimas desde maio de 2020, enquanto os ordinários recuavam 6%. No mesmo momento, o índice Ibovespa operava quase estável, com alta de 0,09%. Pouco depois da abertura, os preferenciais chegaram a tombar 8,6%.

Os recibos de ações também tinham desempenho negativo no mercado americano, recuando 3,8% em Nova York por volta do mesmo horário, depois de terem chegado a baixa de mais de 10% no pré-mercado.

O Bradesco foi pressionado por um provisionamento de R$4,85 bilhões para cobrir 100% da exposição à varejista Americanas, mas analistas destacaram que esse não foi o único problema dos resultados, vistos em geral como fracos.

O segundo maior banco privado do Brasil registrou lucro líquido recorrente de R$1,60 bilhão entre outubro e dezembro, muito abaixo do consenso Mover de R$4,35 bilhões, com o menor ROE da série histórica iniciada em 1987, de 3,9%, segundo dados da TC Economática.

A equipe do BTG Pactual, liderada por Eduardo Rosman, destacou que, mesmo desconsiderando os impactos da crise da Americanas o resultados antes de impostos ficariam 20% abaixo do projetado por eles.

A capacidade do banco de gerar lucros “se deteriorou bastante”, e provavelmente o resultado antes de impostos deve ficar 50% abaixo dos principais rivais em 2023, segundo os analistas do BTG. “Uma recuperação provavelmente levará tempo”, afirmaram.

O balanço “também foi pressionado por uma deterioração na qualidade de crédito para pessoas físicas e pequenas e médias empresas”, disseram analistas do Safra. Eles ainda disseram que as projeções do próprio Bradesco para 2023 “sugerem mais um ano duro pela frente”.

O time do BB Investimentos também destacou o aumento da inadimplência de PMEs e pessoas físicas, “um quadro que mostra deterioração preocupantemente acima dos demais representantes do setor bancário”.

“Mesmo isolando o provisionamento massivo de Americanas, vimos uma escalada significativa nas despesas com provisões, resultante de índices de inadimplência que evidenciam piora em praticamente todos os segmentos”, afirmou o BB-BI em relatório.

O diretor-presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr, disse em coletiva de imprensa que o banco está trabalhando para retomar a rentabilidade e mira atingir meta de ROE de 18% ao longo do ano, com perspectiva de que provisões comecem a cair no segundo semestre.

Além do resultado, as projeções do banco para este ano também desagradaram analistas. O Bradesco prevê novo avanço nas provisões para créditos de liquidação duvidosa e desaceleração nas concessões de crédito em 2023, em linha com a manutenção da trajetória de alta dos níveis de inadimplência observada ao longo de 2022.

“Apesar do banco já sinalizar estar tomando medidas em direção a uma safra de crédito mais salutar, ponto chave para uma descompressão da inadimplência, entendemos que o desafio é grande, dado o perfil de clientes do banco, mais suscetível a ciclos econômicos desfavoráveis”, avaliou o BB-BI.

O lado positivo do resultado ficou por conta da arrecadação com tarifas bancárias e pelo desempenho da unidade de Seguros, que superou expectativas, destacou o Safra.