
FARIA LIMA JOURNAL
NO FIM DE SEMANA
> O boletim Faria Lima Journal no Fim de Semana, do portal Faria Lima Journal e da agência de notícias Mover, traz uma seleção de conteúdos e leituras para investidores dispostos a gastar algum tempo no sábado e domingo para leituras mais aprofundadas de boas histórias e materiais informativos.
Com popularidade sob pressão, Trump corre com medidas — e cheques, mostra Bloomberg
Em menos de 24 horas, o presidente Donald Trump anunciou uma série de medidas populares, como o envio de cheques de bônus de US$1.776 para militares da ativa — simbolizando o ano da independência americana —, a declaração de feriados federais nos dias antes e depois do Natal em 2025, e ordens executivas para flexibilizar regulamentações sobre cannabis e acelerar o retorno de astronautas à Lua. Além disso, o conselho do Kennedy Center, composto por aliados nomeados por Trump, votou para renomear o local como Trump-Kennedy Center, em um gesto visto como um “presente” ao presidente.
Essas iniciativas surgem em meio a desafios significativos: a aprovação de Trump caiu para 39%, segundo pesquisa Reuters/Ipsos, impulsionada por preocupações econômicas, com inflação persistente, aumento de mais de 10% nas tarifas de energia nos primeiros meses de 2025 e um relatório de empregos fraco. Republicanos expressam ansiedade sobre possíveis perdas nas eleições de meio de mandato de 2026, onde uma derrota poderia dar aos democratas poder para investigações e até um terceiro impeachment.
Na quarta-feira, em um discurso televisionado no horário nobre, Trump enfatizou temas econômicos, afirmando que praticamente não há inflação, e prometendo quedas drásticas nos preços de energia e eletricidade, além de um plano agressivo de reforma habitacional e vendas de medicamentos prescritos com desconto via site governamental. No entanto, dados mostram que preços continuam elevados, e analistas questionam a viabilidade de algumas promessas sem apoio congressional.
Outras notícias indesejadas incluem polêmicas sobre o chefe de gabinete, comentários controversos sobre a morte do diretor Rob Reiner e a liberação iminente de documentos relacionados a Jeffrey Epstein — centenas de milhares previstos para esta sexta-feira, com mais nas semanas seguintes, conforme o vice-procurador-geral Todd Blanche. Com pressões externas como tensões no mar do Caribe e na Ucrânia, Trump busca reformular a narrativa focando em otimismo interno, mas o descontentamento econômico persiste entre eleitores.
WSJ: Ford aprendeu lição brutal sobre veículos elétricos
Não faz muito tempo, as montadoras de automóveis promoviam os carros elétricos como o futuro. Agora, porém, elas estão pisando no freio com força, à medida que a realidade do mercado as atinge, alertou o Wall Street Journal nesta semana, em artigo de opinião, na esteira de anúncio da Ford, de que registrará uma provisão de US$19,5 bilhões em seu segmento de veículos elétricos, após decisão de reduzir expressivamente planos de produção.
“Em vez de investir bilhões no futuro sabendo que esses grandes veículos elétricos nunca darão lucro, estamos ”, disse o CEO da Ford, Jim Farley, ao explicar o plano da empresa de ampliar sua linha de carros a gasolina e híbridos. A Ford também vai descartar o F-150 Lightning totalmente elétrico, que era o favorito da imprensa entusiasta de EVs.
A Ford perdeu US$13 bilhões em seu negócio de EVs desde 2023, com perdas ainda maiores esperadas nos anos vindouros. No ano passado, a Ford perdeu cerca de US$50 mil por cada EV vendido. A verdade é que o caso de negócios para EVs sempre dependeu em grande parte de subsídios governamentais e mandatos. Agora que essa combinação de favoritismo e coerção governamental está em grande parte acabando, a maioria das montadoras tem muito menos motivo para fabricar EVs.
O governo Biden tentou forçar a transição para EVs com regras mais rigorosas de economia de combustível e emissões de gases de efeito estufa. As montadoras eram obrigadas a produzir números crescentes de EVs, que tinham de vender com prejuízo porque a demanda dos consumidores era fraca.
O crédito fiscal de US$7.500 para EVs da Inflation Reduction Act impulsionou a demanda, mas não o suficiente para tornar os carros lucrativos. Já este ano, o projeto de lei fiscal republicano eliminou o crédito fiscal em outubro, fazendo a demanda despencar. As vendas de EVs da Ford caíram cerca de 60% em novembro em comparação com o ano anterior.
Uma baixa contábil de US$19,5 bilhões será dolorosa, mas é melhor do que gastar dezenas de bilhões de dólares a mais na fabricação de carros que não são desejados por um número suficiente de americanos. A Ford pode concentrar seus investimentos em caminhonetes e SUVs a gasolina, que são populares entre os clientes e geram — ousemos dizer a palavra proibida — lucro, alfinetou o WSJ.
Financial Times mergulha em turbulenta aposta de Zuckerberg em IA
Mark Zuckerberg está fazendo uma aposta agressiva para transformar a Meta em líder de IA, competindo com OpenAI e Google. Ele investe bilhões em infraestrutura, como data centers, e oferece pacotes salariais astronômicos para atrair talentos rivais, incluindo gestos pessoais como entregar sopa caseira a um pesquisador doente. O objetivo é desenvolver “superinteligência pessoal” em dispositivos portáteis, focada em relacionamentos, criatividade e companheirismo, com integração futura em óculos inteligentes para substituir smartphones.
Após o fracasso relativo do Llama 4, lançado em abril de 2025 e criticado por desempenho inferior em tarefas complexas, Zuckerberg reestruturou a empresa. Criou o Meta Superintelligence Lab, contratou Alexandr Wang (ex-Scale AI) como chief AI officer e outros líderes como Nat Friedman. O caminho não veio sem turbulências — houve demissões, saídas de executivos veteranos (como Yann LeCun) e tensões internas, com acusações de microgerenciamento e fragmentação de equipes.
A estratégia inclui gastos massivos em capex (até US$100 bilhões previstos para 2026), financiamento criativo como joint venture de US$27 bilhões para o data center Hyperion na Louisiana, e possível mudança para modelos fechados. O novo modelo Avocado, em desenvolvimento no TBD Lab, é esperado para o início de 2026, usando destilação de modelos rivais e visando competir com Gemini 3 (lançado em novembro de 2025).
Investidores estão nervosos com os custos elevados e falta de clareza na monetização, causando quedas nas ações. Apesar dos riscos internos e externos — incluindo preocupações com segurança, regulação e confiança do usuário —, Zuckerberg defende a agressividade, argumentando que o maior perigo é ficar para trás na “tecnologia mais importante da história”. O sucesso de Avocado em 2026 definirá se a visão vai se concretizar ou falhar, mostrando-se uma perda de tempo e dinheiro como já ocorreu com o “Metaverso”.
China trabalha em segredo em busca de chips de IA com seu próprio “Projeto Manhattan”
Cientistas chineses conseguiram construir um protótipo de uma máquina capaz de produzir semicondutores de última geração, depois de contratar em sigilo engenheiros da holandesa ASML, que chegaram a ganhar documentos falsos com pseudônimos para viabilizar o recebimento de polpudos bônus durante as atividades, mostrou a Reuters em reportagem especial que comparou a iniciativa ao “Projeto Manhattan” americano, de busca secreta pela bomba atômica.
A meta da China é que os esforços permitam produzir chips funcionais em 2028, embora pessoas próximas ao projeto digam que seria mais realista pensar nisso em 2030 — ainda assim antes do prazo no qual analistas esperavam que a China conseguisse alcançar o Ocidente na tecnologia. O projeto chinês envolve a compra de máquinas usadas da ASML, desmontadas para “engenharia reversa”, e a contratação de ex-funcionários da companhia, após o presidente Xi Jinping ter colocado a autossuficiência em semicondutores como uma das maiores prioridades.
A gigante de eletrônicos Huawei tem um papel chave na coordenação de uma rede de empresas e institutos de pesquisa com milhares de engenheiros que têm participado do empreendimento, embora poucos empregados dentro da própria Huawei tenham conhecimento do objetivo final dos trabalhos. “Os times são mantidos isolados uns dos outros para proteger a confidencialidade… eles não sabem no que os outros estão trabalhando”, disse à Reuters uma das pessoas envolvidas.
O primeiro protótipo chinês para produção dos chips semicondutores está em uma laboratório de alta segurança em Shenzen e é muitas vezes maior que os sistemas mais avançados, que têm aproximadamente o tamanho de um ônibus escolar, pesando 180 toneladas, de acordo com a reportagem. “O protótipo chinês é bem cru comparado às máquinas da ASML, mas operacional o suficiente para testes”, disse uma das fontes citadas pela Reuters.
Em março, um instituto de fibra ótica, mecânica e física da Academia Chinesa de Ciências publicou uma chamada online para recrutar pesquisadores PHd oferecendo bônus de até US$560 mil, mais US$140 mil em subsídios pessoais e salários “sem teto”, de acordo com a reportagem. Fontes dizem que a China não conseguiria avançar suficientemente na tecnologia e na “engenharia reversa” sem recrutar ex-empregados de empresas como a ASML, cujas máquinas são indispensáveis para produzir a maior parte dos chips avançados desenhados por companhias como Nvidia e AMD, e produzidas por fabricantes de chips como TSMC, Intel e Samsung.
Empresas ainda aguardam revolução prometida por IA, mostra Reuters
Três anos após o lançamento explosivo do ChatGPT, as empresas ainda lutam para extrair valor real da Inteligência Artificial generativa, revelam pesquisas e relatos de executivos, de acordo com reportagem da Reuters. Uma sondagem da Forrester com 1.576 líderes empresariais no segundo trimestre indicou que apenas 15% registraram melhora nas margens de lucro graças à IA. Já a BCG, ao consultar 1.250 executivos entre maio e julho, concluiu que só 5% perceberam benefícios generalizados.
Apesar do otimismo persistente quanto ao potencial transformador da tecnologia, muitos reavaliam o ritmo de adoção, com a Forrester prevendo adiamento de 25% dos investimentos planejados para 2026.Problemas técnicos inerentes aos modelos de IA explicam parte das frustrações. O viés de “bajulação” faz os chatbots priorizarem respostas agradáveis em detrimento de críticas honestas, como no caso do sommelier virtual de vinhos da CellarTracker, que demandou semanas de ajustes para recomendações francas.
Inconsistências também abundam: na Cando Rail, um chatbot falhou em resumir regras de segurança ferroviária de forma confiável, levando ao abandono temporário do projeto após US$ 300 mil investidos. Essa “fronteira acidentada” – excelência em tarefas complexas, mas tropeços em simples – exige reformatação de dados e engenharia de prompts intensiva. No atendimento ao cliente, área inicialmente vista como madura para disrupção, empresas recuam ao constatar limites da automação total. A Klarna, que em 2024 lançou um agente IA equivalente a 700 funcionários, elevou o número para cerca de 850 em 2025, mas o CEO, Sebastian Siemiatkowski, admitiu excesso na redução de humanos, reinvestindo em pessoas reais para questões complexas.
A Verizon segue caminho similar, priorizando empatia humana e usando IA apenas para triagem e tarefas rotineiras. “A empatia ainda nos impede de delegar tudo à IA”, afirmou Ivan Berg, líder de IA na empresa. Fornecedores como OpenAI, Anthropic e Google intensificam esforços corporativos, focando em projetos de alto impacto e baixo custo inicial, com equipes dedicadas a clientes. No entanto, o risco de um colapso similar à bolha da internet paira, caso os investimentos massivos em infraestrutura – chips, data centers e energia – não gerem receita e inovação concretas. Executivos alertam: a ilusão de facilidade propagada pelas big techs não reflete a realidade da mudança organizacional humana.
Famílias ricas discutem como fugir de taxações e especialista vê “fuga de capitais” durante evento ao lado de Inhotim
As mudanças trazidas pela reforma da renda, com a taxação de lucros e dividendos na fonte em 10% para ganhos a partir de R$ 50 mil por mês em 2026, vão trazer como efeito colateral a liberação de uma liquidez extra para o setor de gestão de fortunas, avaliaram empresas especializadas nesse nicho, durante um encontro em Brumadinho, Minas Gerais, o Inhotim Offshore Investment Summit, abrigado em um hotel de luxo anexo contíguo ao famoso parque do Instituto Inhotim, que tem um enorme museu ao ar livre de arte contemporânea conhecido em todo o mundo.
Com a taxação dos proventos e outras alterações fiscais que afetaram o bolso dos mais endinheirados desde o fim de 2023, uma das tendências é parte desse dinheiro migrar para o exterior, segundo Thiago Lott, sócio da Lott Advocacia, falando em reportagem do Valor Econômico. “Vai haver uma fuga de capital a partir de janeiro, vai acelerar pela eleição e pela maior liquidez que o empresário vai ter na pessoa física”, afirmou . E, se antes esse investidor distribuía 60% dos recursos em Brasil e 40% para ativos no exterior, “como é extraordinário pode mandar tudo, aproveitando o dólar mais favorável. Em vez de R$ 4 milhões, manda R$ 10 milhões”.
As mudanças em série têm servido como provocação para as famílias revisitarem suas estruturas de investimentos, de capital e de retorno, segundo Maira Costa de Almeida Alves, sócia do mesmo escritório. “O Brasil é um dos últimos países a instituir a tributação dos dividendos, era um movimento inevitável, e ainda fala-se que pode vir a aumentar”, comentou. “A partir de 2026, o contexto de investimentos no Brasil é outro.”
A taxação do dividendo na fonte veio neste combo e mexe não só com as companhias listadas, como também com as sociedades limitadas.O dilema tributário foi um dos principais no evento em Brumadinho, que reuniu 40 grupos familiares com patrimônio médio de R$300 milhões, vindos do Brasil e do exterior, trazidos pela mineira Nau Capital e pela americana Avenida Investment Office, com sede em Lisboa. Pelo jeito, não são só as grandes empresas que estão fazendo o possível para fugir das taxações– a aprovação dos tributos sobre dividendos levou a um enorme fluxo de companhias antecipando proventos aos acionistas, ou aprovando distribuições já para os próximos três anos, incluindo com estruturas que buscam evitar usar reservas de lucros evitando taxas, como distribuição de ações especiais e bonifiações em ações.
Ataque “secreto” da Rússia à Europa mira infraestruturas de energia e desinformação, diz The Hill
Em abril de 2025, alguém tomou o controle da operação de uma hidrelétrica no sudeste da Noruega, em Bremanger, e abriu as comportas, liberando água do reservatório por horas. Meses depois, o serviço de inteligência do país chegou à conclusão de que os culpados estavam associados ao governo russo, revela o jornal americano The Hill, afirmando que a Rússia tem conduzido uma campanha silenciosa contra as engrenagens da economia europeia, com armas que não são tanques, mas malwares, mirando principalmente infraestruturas de energia e de telecomunicações.
Só em 2024, a Agência de Ciberssegurança da União Europeia registrou mais de 11 mil incidentes “sérios” no bloco, com ataques sobre sistemas de controle chegando a 20% do total. O artigo no The Hill, assinado por um especialista em política externa e segurança, também cita como exemplo um caso de 2022, em que a alemã Enercon perdeu o acesso remoto a 5,8 mil turbinas eólicas após um ataque, um dos primeiros desse tipo registrados.
Desde então, outras fornecedoras de turbinas eólicas como a dinamarquesa Vestas e a alemã Nordex também foram alvo, assim como operadores de rede elétrica na França e subestações de energia na Itália. Na Holanda, alguém tomou o comando rapidamente de sistemas de logística portuária em Roterdã e Eemshaven. A publicação cita ainda diversos incidentes de sabotagem e até de desinformação, classificando os casos como “o ataque secreto da Rússia sobre a Europa”.






