WeWork vê valor de mercado derreter nos EUA após alertar sobre risco de falência

Ações derreteram quase 40% no meio desta semana

Unsplash
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Por Gabriel Ponte

A WeWork, que chegou a ser considerada uma das startups mais valiosas dos Estados Unidos, viu o valor de suas ações derreter quase 40% no meio desta semana, após a companhia alertar aos acionistas na quarta-feira (9) que pode ir à falência, abrindo um possível capítulo final para o grupo criado em 2010, cuja história carrega as marcas de seu controverso fundador, Adam Neumann.

A companhia americana, que tem modelo de negócios baseado no aluguel de espaços para ‘coworking’ ao redor do mundo, disse na terça-feira haver “dúvidas substanciais” sobre sua permanência no mercado, disparando alarme entre investidores quanto à potencial descontinuidade do negócio. Segundo a WeWork, a situação atual decorre da menor geração de caixa após cancelamentos de assinaturas de aluguéis de seus escritórios.

“Espaços de trabalho flexíveis têm futuro no ecossistema de escritórios, mas a WeWork, na situação atual, talvez não”, afirmaram analistas do banco de investimentos BTIG em relatório publicado na última quarta-feira, rebaixando a recomendação dos papéis para “neutra”.

Não é a primeira vez que a WeWork enfrenta turbulências. A companhia começou a ser questionada pelo mercado ainda em 2019, quando se preparava para uma oferta inicial de ações (IPO na sigla em inglês). O estilo de gestão e governança de Neumann – que andava descalço pelos escritórios e instalou uma piscina em sua sala – gerou desconfiança entre acionistas e investidores, o que acabou por cancelar o plano de estrear na bolsa naquele ano, quando a companhia era avaliada pelo SoftBank em estrondosos US$47 bilhões, valor que depois se provou irreal.

O conglomerado financeiro japonês, que havia investido na WeWork e planejava mais aportes, também acabou alvo de questionamentos após despejar bilhões de dólares em uma série de aquisições em tecnologia vistas como infrutíferas.

No caso do WeWork, ao menos, a avaliação de analistas é de que o SoftBank poderia ter evitado a trajetória estelar seguida de derrocada da startup se tivesse entendido a companhia como um negócio imobiliário, e não como uma empresa tecnológica de alto crescimento.

Após a frustração inicial, a companhia conseguiu realizar seu aguardado IPO em outubro de 2021, porém, avaliada em US$9 bilhões. Mas os problemas continuaram, principalmente o maior deles: a dificuldade de apontar para lucro adiante. Hoje, a empresa detém valor de mercado de cerca de US$275 milhões.

´LEITURA RUIM´

Apesar dos contratempos, o CEO do SoftBank, Masayoshi Son, apoiou Neumann em diferentes oportunidades, inclusive injetando US$10 bilhões de dólares na companhia em 2019, após o fracasso da primeira tentativa de IPO.

Posteriormente, Son reconheceu que sua leitura sobre a empresa foi “ruim”. Mais tarde, Neumann seria obrigado a renunciar ao controle acionário da WeWork e ao posto de CEO.

O negócio da WeWork consiste em alugar espaços físicos, realizar reformas e sublocar posições para empreendedores e funcionários. A acelerada expansão na década passada foi impulsionada por um ambiente de juros zero e uma maciça injeção de recursos de investidores de risco, ou “venture capital”.

Em seu auge, em 2019, a companhia foi a maior ocupante privada de escritórios em Nova York e Londres. Mas a ambiciosa expansão acabou atrapalhada pela pandemia de Covid-19, que se espalhou pelo mundo no início de 2020.

Agora, tentando se reestruturar e evitar o pior, a WeWork informou que se concentrará nos próximos 12 meses na redução de custos de aluguéis, aumento de receita e captação de capital.

A companhia também tem realizado mudanças na composição do conselho, enquanto ainda segue à procura de um CEO permanente, após Sandeep Mathrani ter deixado o posto em maio.

Esta reportagem foi publicada primeiro no Scoop, às 14H32, exclusivamente aos assinantes do TC. Para receber conteúdos como esse em primeira mão, assine um dos planos do TC.