Por Machado da Costa e Artur Horta
A Via (VIIA3) está buscando um alívio de até 50% de uma dívida bilionária junto a bancos credores, em meio às necessidades de reforçar o balanço que já levaram a empresa controladora das Casas Bahia e do Ponto a anunciar um potencial aumento de capital no mês passado, disseram à Mover duas fontes com conhecimento do assunto.
Segundo as fontes, que pediram anonimato para falar sobre o tema, além da redução da dívida bancária, a Via busca o alongamento de prazos de pagamento. As fontes também relataram que a estratégia permitiria impedir uma recuperação judicial da companhia, algo que os bancos também tentam evitar.
De acordo com o balanço da Via do segundo trimestre, o mais recente divulgado, empréstimos e financiamentos somavam R$8,69 bilhões, enquanto a dívida relacionada a operações de crédito direto ao consumidor, o famoso crediário, somava R$5,03 bilhões. Os juros que a Via paga sobre este valor são de 17,56% ao ano.
Para se ter uma ideia de comparação, o Ebitda do segundo trimestre foi de R$469 milhões, tão fraco que, se anualizado, estoura os limites dos covenants da Via. A companhia não pode se alavancar acima de 3,25 vezes o Ebitda Consolidado Ajustado. Ou seja, se a geração de caixa operacional não crescer, o limite de endividamento seria de cerca de R$6,10 bilhões, segundo cálculos apurados pela Mover.
Caso a companhia feche mais três trimestres acima do limite de covenants, os financiadores podem exigir a quitação da dívida, o que, segundo uma das fontes, forçaria uma recuperação judicial.
Uma terceira fonte, ligada a um dos bancos credores, disse à Mover que a Via vem tendo conversas ainda em estágio preliminar, mas que dificilmente conseguirá o chamado “haircut” de 50% da dívida total.
A fonte relata que ainda existem dúvidas sobre o real endividamento da companhia e que seria necessário um profundo trabalho de reconhecimento da situação da Via.
Um dos pontos elencados pela fonte deste banco é o volume de gastos financeiros com dívidas, arrendamento mercantil e risco sacado. Somente no segundo trimestre, a Via gastou R$1,87 bilhão com o pagamento de juros – ou seja, um valor substancialmente alto para uma dúvida total de R$8,69 bilhões. Isso representaria um juro médio de 83% ao ano sobre a dívida informada no balanço.
“A dívida bancária é de cerca de R$5 bilhões. Mas, o que vai significar 50% de haircut dessa dívida, quando, na verdade, acreditamos que o tamanho da alavancagem da Via é de quase 10 vezes isso?”, afirmou a fonte do banco credor. “Precisamos saber a real saúde financeira da companhia para engajar em uma negociação como essa.”
No final de agosto, a Via anunciou a contratação de bancos para uma potencial oferta de ações primária no valor estimado de R$1 bilhão, em meio a um plano de reestruturação que também inclui corte de custos, demissões, fechamento de lojas e um novo direcionamento estratégico traçado pelo CEO, Renato Franklin.
Perto das 13h05, as ações ordinárias da Via subiam 0,78% na B3, a R$1,30. No ano, os papéis tombam 45,83%. Procurada, a Via não pode comentar imediatamente.
Esta reportagem foi publicada primeiro no Scoop, às 13H14, exclusivamente aos assinantes do TC. Para receber conteúdos como esse em primeira mão, assine um dos planos do TC.