Varejistas tradicionais devem trocar seu modelo de negócio, diz CEO da Shein

Marcelo Claure afirmou que quer abrir duas mil fábricas no Brasil

Divulgação/Shein
Divulgação/Shein

Por Bruno Andrade

“Sugerimos para as varejistas tradicionais trocarem seu modelo de negócio”, disse o presidente da Shein, Marcelo Claure, em entrevista ao Faria Lima Journal (FLJ) nesta quarta-feira (23).

A fala de Claure ao FLJ aconteceu após o CEO ser questionado sobre como ele vê a situação do varejo no Brasil, visto que as empresas tradicionais apresentaram prejuízos recordes e anunciaram reestruturação.

O primeiro exemplo é a Marisa (AMAR3), com prejuízo de R$63,4 milhões no segundo trimestre de 2023 e o fechamento de 88 lojas. O anúncio mais recente foi o da Via (VIIA3) com prejuízo de R$492 milhões e o fechamento de até 100 lojas.

Outra empresa que vem sofrendo no varejo tradicional é o Magazine Luiza (MGLU3), que tem e-commerce desenvolvido e focado em bens duráveis. A empresa apresentou prejuízo líquido ajustado de R$ 198,8 milhões somente entre os meses de abril e junho de 2023.

Claure explicou que a diferença entre o modelo de negócio da Shein e do varejo tradicional é que o da sua empresa é “super intuitivo” e traz uma melhor experiência para o cliente, visto que a inteligência artificial do aplicativo sugere exatamente aquilo que o cliente busca comprar.

Outro ponto que ele disse acreditar ser fundamental para o funcionamento da empresa é a velocidade entre a fabricação e a venda do produto, o que, na visão dele, não acontece no varejo tradicional.

“A Shein é a única empresa no mundo que tem a capacidade de fabricar e vender o produto em sete dias”, afirmou Claure. Atualmente, a empresa tem 45 milhões de clientes no Brasil.

Claure também lembrou que a companhia está com 200 fábricas espalhadas pelo país e que possui a meta de expandir esse número. Para Claure, isso deve trazer a geração de empregos dentro do Brasil, algo que o governo local tanto exige.

“Temos o compromisso de ter duas mil fábricas. Inicialmente, vamos começar a fabricar só para o Brasil. Mas depois, vamos vender o produto feito aqui para toda a América Latina e o resto do mundo”, afirmou.

O Faria Lima Journal (FLJ) questionou Claure sobre como a companhia pretende manter o produto com a mesma qualidade e preço, visto que o trabalhador chinês custa menos e trabalha mais horas por dia que o brasileiro.

Segundo Claure, com o aumento da nacionalização da produção, a Shein será capaz de manter o mesmo patamar de preços já praticados pela marca.

“O equilíbrio dessa balança se dará por meio da redução dos custos com logística. Com a produção local aumentando, é natural que se diminua os produtos vindos da China – uma logística cara para todos que operam no setor. Produzir localmente para envio dentro do mesmo território nos dará essa eficiência e a certeza da manutenção dos nossos preços”, disse Claure ao FLJ.

Taxação do governo sobre produtos da Shein

Durante a palestra no Digitalks, Claure comentou os bastidores sobre como foi a negociação com o governo para que não houvesse uma taxação dos produtos vendidos pela empresa.

“Falamos para o governo que as pessoas que viajam para fora poderiam estar viajando pelo Brasil e gerando renda pelo país, mas o governo não cobra imposto de quem viaja para fora do país. Já as pessoas que compram o nosso produto são normalmente de baixa renda. Então, se não faz sentido cobrar imposto para quem viaja para o exterior, qual seria o sentido de cobrar imposto de quem compra nossos produtos”, questionou Claure.

O governo federal havia proposto taxar pacotes internacionais de até US$50, cerca de R$250, enviados de pessoa física para física. A medida foi uma tentativa de evitar o não pagamento de impostos por parte das empresas asiáticas, como Shein, Shoppe e AliExpress.

No entanto, o governo voltou atrás após forte pressão popular e também da reunião com os representantes da Shein, que prometeu a criação de fábricas e empregos no Brasil.