Governo aceitará desaceleração?

Temor de medidas para aquecer economia pesa sobre ações do BB, diz Mansueto, do BTG

Temor de medidas para aquecer economia pesa sobre ações do BB, diz Mansueto, do BTG

São Paulo, 25/02/2025 – Há uma preocupação no mercado financeiro de que o governo do presidente Lula se recuse a “aceitar” a desaceleração da economia nos próximos meses e lance medidas para aquecer o PIB, com eventual uso de bancos públicos, o que pesa sobre o sentimento com as ações do Banco do Brasil, por exemplo, disse hoje o economista-chefe do BTG, Mansueto Almeida.

Nas últimas semanas, Lula tem prometido um programa de crédito consignado ao setor privado, uma medida estruturalmente boa, mas que gera dúvidas pelo “timing”, disse Mansueto, ao lembrar que há um diagnóstico de sobreaquecimento da economia, pressionando a inflação e obrigando o Banco Central a subir juros para tentar conter o avanço dos preços.

“Fica também uma incerteza com relação à política para os bancos públicos. Se a gente tivesse certeza hoje que o governo não ia mexer com banco público, estaria comprando as ações do Banco do Brasil, está muito barata”, comentou o economista do BTG, em evento promovido pelo banco.

As ações ON do Banco do Brasil acumulam variação positiva de 5,6% em 12 meses. Elas negociam abaixo do valor patrimonial, a múltiplo P/VP de 0,88, enquanto o banco teve resultado líquido de R$37,9 bilhões em 2024, alta de 6,6% ante 2023. A rentabilidade medida pelo ROE superou rivais privados como Santander e Bradesco.

“Está muito barata perto do que o banco gera de lucro”, disse Mansueto, sobre a ação do BB na bolsa. Mas é que tem essa incerteza no mercado. O governo vai fazer algum tipo de programa de expansão parafiscal ou não?”, questionou.

“O governo vai aceitar uma desaceleração da economia que deve acontecer com o juro tão alto, ou não? O governo vai colocar novos programas, que vão fazer a política fiscal trabalhar contra a monetária?”, questionou.

Para Mansueto, “hoje não conseguimos responder de forma muito clara essa pergunta”, inclusive porque “toda semana” o governo promove anúncios de novos programas. “Do ponto de vista da expectativa, acaba machucando essa crença de que a política monetária vai funcionar”.

O economista-chefe do BTG disse que o juro real caminha para 9% e ainda assim não deverá levar a inflação à meta ainda neste governo. A trajetória poderia ser facilitada por sinais de esforço adicional no fiscal, mas hoje esse cenário não está colocado, acrecentou.

(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)