Ações sobem com CFO falando em dividendo extra

Sentimento do mercado com Vale vai ao melhor nível em anos, com resultado forte consolidando otimismo

Reuters News Brasil
Reuters News Brasil

São Paulo, 31/10/2025 – Resultados sólidos da Vale no terceiro trimestre consolidaram mudança na visão do mercado sobre a mineradora brasileira, reforçando um maior otimismo que começava a surgir entre analistas nos últimos meses, à medida que a companhia avança rumo a retomar a liderança global em produção de minério de ferro, e com alívio mais recente em preocupações com uma guerra comercial entre Estados Unidos e China.

A Vale reportou lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) de US$4,4 bilhões entre julho e setembro, acima das expectativas de consenso, mostrando ainda redução de custos de produção além do esperado, com um balanço bem recebido por investidores em geral.

As ações subiam 0,74% por volta de 10h50 desta sexta-feira (31/10), após divulgação na véspera. No final da manhã, papéis aceleraram ganhos, para cerca de 2%, com diretor financeiro afirmando em teleconferência que está vendo espaço crescente para dividendos extraordiários. No mês, as ações acumulam alta de mais de 10% e avançam quase 20%% no acumulado de 2025.

Os números positivos ainda vieram após uma sequência de desempenhos operacionais melhores que o previsto nos últimos trimestres, e com os preços do minério de ferro, principal produto da companhia, mostrando resiliência bem acima das expectativas. O Goldman Sachs elevou a projeção para os preços da commodity em 2026 ainda nesta semana, admitindo um mercado com oferta bem mais apertada do que era esperado.

“Nossas conversas recentes com investidores sugerem que o sentimento quanto à tese de investimento na Vale está entre os níveis mais fortes vistos em anos”, escreveram analistas do Goldman Sachs em relatório, projetando reação positiva aos resultados do 3T25.

A equipe do Goldman destacou ainda que a Vale deve ter rendimento de fluxo de caixa (FCFy) acima de suas principais rivais, Rio e BHP, e ainda mostra uma estratégia de alocação de capital mais clara, com menos riscos associados a potenciais fusões e aquisições e melhorando o desempenho operacional.

No mercado doméstico, analistas da Genial elevaram o preço-alvo das ações da Vale após o balanço, pela segunda vez consecutiva em poucos dias, para R$75,00, de R$70,00 antes, enquanto a equipe do BTG Pactual elevou a recomendação dos papéis para “compra” nesta semana.

Por tempos entre os mais otimistas com a Vale, o BTG havia rebaixado a classificação da empresa para “neutra” em março de 2024, fazendo na época um “mea culpa” e admitindo que a aposta na mineradora vinha se mostrando “muito dolorosa há mais de um ano”.

Neste ano de 2025, as ações da Vale acumulam alta de mais de 25%, com ganhos de mais de 11% em outubro, à medida que avanços nas negociações comerciais entre Estados Unidos e China e dados resilientes da economia chinesa também ajudavam a sustentar visão melhor sobre o principal país comprador do minério de ferro da companhia. Mais recentemente, dados operacionais prévios do 3T acima do previsto ajudaram a fomentar um rali nas ações.

Para a Genial, os números do 3T divulgados ontem confirmaram que a Vale vem “vivendo um bom momento”, e aumentaram probabilidade de distribuição de dividendos extraordinários, uma visão também apontada pelo BTG nos últimos dias. Antes, mercado estava mais pessimista quanto aos proventos extras, devido a uma oferta da Vale para recomprar debêntures participativas que deve consumir bilhões em caixa.

AVANÇOS EM VÁRIAS FRENTES

Na parte operacional, a Vale tem avançado em produção e reduzido custos, enquanto pratica uma mudança na estratégia comercial, buscando ser um produtor “flexível” e apostando na “blendagem” de minério para entregar um produto mais competitivo em momento em que siderúrgicas operam com margens baixas, lançando novos produtos “de qualidade média”. A nova postura veio após alteração no comando da companhia, com o antes diretor financeiro Gustavo Pimenta assumindo como CEO há pouco mais de um ano, e com a nomeação do antes vice-presidente de minério de ferro, Rogerio Nogueira, como VP Comercial.

Antes, a mineradora vinha priorizando minérios de alto teor e produção de aglomerados de maior valor agregado, como briquetes e pelotas, visando demanda de siderúrgicas por redução nas emissões de carbono. Essa demanda, no entanto, vinha se mostrando abaixo do previsto, em meio aos desafios enfrentados pela indústria siderúrgica.

“Em minério de ferro há uma leve mudança, ou talvez uma mudança em relação ao que falávamos antes. É claro que os clientes todos querem transição para além dos combustíveis fósseis, mas isso vai levar um tempo. A trajetória de longo prazo está lá, mas precisamos ter certeza de que temos um portfólio resiliente para este momento de mercado”, explicou o CEO, Gustavo Pimenta, ao comentar a estratégia durante evento com investidores Vale Day, ainda no final de 2024.

Ainda no lado operacional, a Vale caminha para encerrar 2025 novamente na liderança de produção global de minério de ferro, superando a rival australiana Rio Tinto, para quem perdeu o primeiro posto depois da tragédia de Brumadinho, em 2019. Embora analistas na época vissem impacto marginal na oferta da empresa, a Vale viu um aperto nas exigências de reguladores e ambientais que afetou negativamente a produção, iniciando uma ampla reestruturação de operações. Mais recentemente, no final de 2024, a empresa também assinou um acordo definitivo de R$170 bilhões para encerrar disputas sobre outro desastre em suas barragens, o caso de Mariana, de 2015, o que foi lido pelo mercado como diminuição de riscos.

Outro fator que contribuiu para reduzir riscos foi a melhora nas relações com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que chegou a tentar interferir na escolha do CEO da companhia e em nomeações para o conselho, por meio da participação do fundo de pensão estatal Previ na empresa. Após assumir o cargo, Pimenta contratou um amigo pessoal de Lula, o jornalista Kennedy Alencar, que já foi assessor de imprensa do hoje presidente, para liderar área de Relações Governamentais, o que ajudou a reduzir atritos com o Planalto.

Durante a última viagem de Lula, à Ásia, o diretor da Vale publicou foto com o presidente no Instagram. “Tive a honra de celebrar meus 58 anos ao lado do melhor presidente da História do Brasil”, escreveu Alencar, na legenda.

(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)