Suspende investimentos, tira o pé em dividendos

Raízen fará ‘revisão bastante profunda’ em carteira de ativos, diz novo CEO

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São Paulo, 17/02/2024 – A Raízen, controlada pelo grupo Cosan e pela Shell, está adotando nova estratégia, com foco nas operações principais, venda de ativos — incluindo saída de alguns negócios — e redução dos investimentos, disseram executivos da companhia em teleconferência hoje.

Entre outubro e dezembro de 2024, a Raízen teve prejuízo de R$2,57 bilhões, revertendo lucro de R$793 milhões no ano anterior, segundo balanço divulgado na noite de sexta. A alavancagem ficou em 3x, em meio a investimentos de R$2,79 bilhões, avançando ante 1,9x em igual momento da safra passada.

O CEO da Raízen, Nelson Gomes, que completou 90 dias no cargo, disse que há “senso de urgência bastante grande” na reestruturação da empresa, que deverá se tornar mais simples, após uma “revisão bastante profunda” no portfólio e uma otimização da estrutura de capital.

Entre as mudanças, a Raízen vai tirar o pé de um ambicioso plano de investimentos em até vinte plantas de etanol segunda geração (E2G). Além de duas unidades operacionais e duas em comissionamento, a companhia apenas concluirá outras duas que estão em construção, que deverão exigir R$1,6 bilhão no ano-safra 2025/26.

“Etanol segunda geração segue sendo uma oportunidade importante para a companhia, essas plantas na maturidade vão gerar um caixa que vai nos beneficiar. Agora, reconhecemos que não é o momento de a gente iniciar novos projetos, é momento de digerir o portfólio que herdamos, e tomar as decisões de desinvestimentos”, explicou Gomes.

Grande mote para a abertura de capital da Raízen na bolsa, os negócios de E2G ainda não conquistaram a confiança dos investidores, e a preocupação com os retornos no setor aumentaram depois da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, que ameaça impactar uma agenda verde que poderia beneficiar a nova tecnologia da Raízen, com maiores prêmios nos preços.

LONGO CAMINHO

A Raízen também está revisando o patamar de investimentos para a próxima temporada, disse o diretor financeiro, Rafael Bergman, e há decisão de “não priorizar distribuições aos acionistas” no momento, para “preservar caixa”.

O CFO, no entanto, alertou que a reestruturação da Raízen “não será uma jornada de curto prazo”. Analistas do Itaú BBA mostraram visão semelhante em relatório, apontando proposta de risco-retorno “interessante” nos planos da Raízen, mas destacando que o balanço fraco e as incertezas sobre a reestruturação vão pesar sobre o otimismo dos investidores no curto prazo.

Questionado por analistas sobre notícias de um possível aumento de capital na Raízen, Bergman disse que “tem bastante coisa para fazer” antes de pensar nessa alternativa. “Momento é de organizar a casa para entregar essas eficiências, essa mudança de estratégia e de cultura”.

(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)