Quadro de reabertura da China favorece metais básicos com demanda por descarbonização, diz gestor

No Brasil, gestor prefere aços longos a planos e vê desafios para Usiminas

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Por Beatriz Lauerti

Diante de uma grande demanda por descarbonização e do otimismo com a reabertura chinesa, o cenário atual é mais favorável às empresas do setor de mineração que estiverem inseridas em metais básicos, como alumínio, cobre, níquel e zinco, avalia Paschoal Paione, sócio da Persevera Asset.

Além da retomada da atividade dos setores convencionais resultante da reabertura da China, “a grande questão é a demanda por descarbonização, que está muito forte”, disse Paione em entrevista ao FLJ.

Apesar de otimista com os metais básicos no primeiro semestre de 2023, Paione destaca que detém posicionamento ainda pequeno no setor de siderurgia e minério de ferro. Paione é gestor multimercado focado em commodities na Persevera Asset. As siderúrgicas, avalia, enfrentam um momento de incerteza pela expectativa de retomada da demanda na China após o ano novo e com as incertezas do mercado doméstico.

Recentemente, o Morgan Stanley revisou a projeção de crescimento do PIB do país asiático de 5,0% para 5,4% diante de um abandono mais rápido que o esperado das políticas de “Covid-Zero”. Paione destaca que a mobilidade na China já retornou aos patamares pré-pandemia, o que traz uma perspectiva positiva para o complexo de commodities em 2023.

Em relação às empresas brasileiras do setor, Paione revela preocupação com a Usiminas, que está mais exposta à indústria automobilística e, portanto, à crise dos semicondutores. A Volkswagen, por exemplo, estimou que a oferta de microchips só atenderá plenamente sua produção a partir de 2024. Sem chips para produzir automóveis, cai também a demanda por aço plano – produto da Usiminas.

Além disso, a Usiminas não é autossuficiente e diversificada, como a CSN. A siderúrgica mineira depende da importação de placas para fechar a conta da produção do aço final, e por isso está com um custo adicional de aquisição, segundo Paione.

Em relação à Gerdau, Paione avalia que o momento é mais adequado, diante das revisões de crescimento do PIB chinês. A China investe entre 20% e 30% do seu Produto Interno Bruto anualmente no setor de construção civil e infraestrutura.

Nos últimos doze meses, as ações preferenciais da Gerdau (GGBR4) sobem cerca de 30% enquanto as da Usiminas caem mais de 52%. Os papéis ordinários da CSN recuam 20% no mesmo período.

“Uma das coisas mais importantes é observar para quem a empresa vende”, afirma o gestor, com mais de 25 anos dedicado à análise do mercado de commodities. “Acredito que o momento é excelente para os metais básicos como cobre, alumínio, níquel e zinco”, explica Paione, que destaca a participação importante desses materiais na construção civil na China. “Esses produtos têm participação importante no setor de construção da China. São utilizados na finalização das obras, que é o que está crescendo atualmente”, disse.

Em relação à mineradora Vale, Paione entende que suas ações podem ainda ter um bom momento este ano, diante da retomada das atividades na China – compradora de cerca de 70% do minério de ferro produzido globalmente. No entanto, Paione alerta para o momento mais difícil de crescimento no resto do mundo, em meio ao ciclo de alta dos juros nos Estados Unidos.

O panorama atual vem após um cenário de “muita demanda e pouca oferta” no mercado de commodities no ano passado, que foi agravado pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia.  

Os russos são importantes fornecedores de matérias-primas, e o conflito também gerou um choque na oferta de energia. Assim, a produção de cobre e de alumínio foi afetada pelos custos elevados. A demanda elevada por baterias para veículos elétricos desenha um quadro para metais básicos, portanto, de oferta limitada e demanda em alta.

Paione alerta para um momento importante para se analisar a continuidade da melhora dos preços de commodities. É que cerca de quatro a cinco semanas após o feriado de Ano Novo Lunar na China (que acabou em cinco de fevereiro), há tradicionalmente um pico de estoques das commodities metálicas na China.

É esperado, portanto, que a análise do quadro global de oferta e demanda por esses produtos esteja mais clara a partir do final do primeiro trimestre.

Em perspectiva, o minério de ferro subiu entre outubro de 2022 e janeiro de 2023 cerca de 50%, de US$80,00 para US$120,00 por tonelada. No mesmo período, o níquel saiu de cerca de US$20.000,00 para US$30.000,00 por tonelada, aproximadamente.

“Os investidores querem saber se a reaceleração vai chegar de fato”, pontua Paione, que reforça que a perspectiva é positiva para as commodities.

Mesmo assim, Paione reitera que o segmento de metais básicos parece ser o mais resiliente. “A China está retomando o crescimento, e o resto do mundo está com a demanda convencional fraca, mas a demanda por descarbonização é alta, então por isso teremos mais um ano forte para os metais básicos”, disse.

Paione detém posições compradas em cobre, alumínio e short em níquel e zinco, principalmente, utilizando-se do mercado futuro das commodities. “Além disso, também estamos comprados em ações de mineradoras globais de cobre e produtoras de petróleo europeias”, afirmou.