Por: Luciano Costa
São Paulo, 26/11/2024 – A Copel vai focar no curto prazo em “arrumar a casa”– cortando custos enquando direciona recursos a investimentos orgânicos, proventos aos acionistas e inéditas recompras de ações, e deixando para depois planos de expansão mais arrojados, disseram executivos durante o “Copel Day”, nesta terça-feira, reiterando uma estratégia pós-privatização cautelosa que tem agradado investidores e analistas de bancos e corretoras.
Desde que foi desestatizada, a Copel levantou quase R$2 bilhões com desinvestimentos, disse o diretor financeiro, Felipe Gutterres. As operações incluíram a venda da usina a gás Araucária, de fatia na Compagás; e a negociação de pequenas hidrelétricas e da termelétrica a carvão de Figueira, anunciada ontem.
Ontem, a Copel também aprovou juros sobre capital prórpio, de R$600 milhões, que serão pagos em 23/dez, e que ainda não consideram os ganhos com Compagás, que devem ser distribuídos como dividendos extraordinários com os resultados do quarto trimestre. Já o programa de recompras, primeiro da história da Copel, também aprovado ontem, será de até 100% das ações em circulação. As ações subiam 4,65% por volta das 15h04, a R$10,12.
“Lançamos a recompra porque em nosso entendimento nossas ações estão muito descontadas, e isso é uma oportunidade de alocação de capital, simples assim”, disse o CEO, Daniel Slaviero. As ações PN sobem 9% em 12 meses, mas estão praticamente estáveis no acumulado deste ano.
Sobre planos de crescimento, o CEO disse que a Copel manterá um programa de CAPEX já aprovado, e não avaliará aquisições ou grandes movimentos neste momento. “Mais para médio prazo, 2026, 2027, vamos olhar oportunidades inorgânicas. Estamos aqui para nos preparar para as oportunidades que eventualmente possam surgir.”
Quando concluída a venda de ativos de ontem, a Copel se torna uma empresa 100% renovável, acrescentou o CEO. “Além do valor que levantamos, R$450 milhões para esse tipo de ativos, que é muito respeitável, para dizer o mínimo, cumpre objetivo da otimização de porttólio. Vamos focar nas grandes usinas”, disse.
EXPANSÃO
A agenda de expansão de curto prazo da Copel compreende a participação em um leilão que o governo deve agendar brevemente para contratação de reserva de capacidade, no qual a empresa pretende concorrer com projetos de expansão das hidrelétricas Foz do Areia e Segredo.
Essas usinas foram construídas já com espaço para máquinas adicionais que não foram colocadas, o que permite à companhia “uma competitividade enorme” no leilão, disse o diretor de Estratégia, Diogo Mac Cord, ex-secretário especial de Desestatização do Ministério da Economia no governo Bolsonaro.
Ele destacou que eventual vitória no leilão permitiria gerar retornos com ativos que a empresa já possui, como Foz do Areia, em um exemplo do foco de curto prazo da companhia, de extrair valor de investimentos orgânicos e ganhos de eficiência antes de partir para uma expansão mais ousada.
“A pergunta que fazemos todo dia é: quantas Foz do Areia temos mais na Copel? Temos muitas, conseguimos extrair muito valor”.
RECOMENDAÇÃO E PREÇO-ALVO
O Itaú BBA tem recomendação de “compra” para as ações da Copel, com preço-alvo de R$13,30, ante fechamento de ontem, de R$9,67. Os analistas do banco avaliaram como positivos os anúncios de ontem, de vendas de ativos e proventos, “uma vez que destravam valor para a companhia e acionistas, otimizam a estrutura de capital e aumentam o dividend yield”.
Eles veem espaço para um dividend yield em 2024 de entre 7% e 8%, considerando um payout de 50% dos lucros.
“Vemos a Copel negociando com um atrativo retorno implícito (taxa interna de retorno, IRR, real de 12,6%), e baixos riscos de execução, e com potencial para entregar elevados dividend yields nos próximos anos”, escreveu o time liderado por Marcelo Sá.
PRIVATIZAÇÃO GERA VALOR
As ações da Copel sobem cerca de 9% desde a privatização, realizada por meio de uma oferta de novas ações precificada a R$8,25 por papel ON, em contraste com a Eletrobras, cujos papéis negociam hoje na casa de R$36, abaixo dos R$42 da desestatização.
Embora também avance em uma agenda de corte de custos e racionalização, incluindo venda de participações minoritárias e trocas de ativos, a Eletrobras vê as ações pressionadas por uma ação do governo federal no Supremo Tribunal Federal que questiona as regras da privatização e busca ampliar o poder estatal na empresa. Companhia e União negociam um possível acordo em moderação aberta pela corte.
No caso da Copel, que pertencia ao governo do Paraná, comandado por Ratinho Jr, o governo Lula chegou a criticar a operação, e avaliou medidas contra ela durante a fase de transição, mas ao final não tomou nenhuma ação efetiva para impedir o processo.