São Paulo, 21/11/2024 – O projeto de criação de um mercado regulado de carbono no Brasil, que acaba de ser aprovado na Câmara e aguarda sanção presidencial, deve gerar impactos positivos para empresas que atuam no segmento já a partir de 2026, projetou o CEO do grupo de valorização de resíduos Orizon, em entrevista ao Faria Lima Journal e à Mover, unidade de notícias do TC Investimentos.
No terceiro trimestre, a Orizon teve receita de R$37,4 milhões com venda de créditos de CO2, ante receita líquida de R$249 milhões no período. Mas as operações ocorreram em mercados voluntários de carbono, enquanto mercados regulados, como pretende se criar no Brasil, geralmente permitem negociações em melhores condições.
Além disso, um acerto anunciado agora na COP-29, em Baku, deve permitir que empresas com a Orizon voltem a negociar créditos de CO2 com outros países em um ambiente regulado criado pela ONU, como ocorria até um desentendimento sobre o artigo 6.4 do Acordo de Paris que travou essas operações da Orizon desde 2022.
“Com esse travamento, ficamos impossibilitados de comercializar os créditos de CO2 no mercado regulado, e tivemos todo um processo de migração de projetos para o mercado voluntário. Aí tem dois pontos. Primeiro, a demora para essa migração dos projetos. E, segundo você tem alguns que nem podem migrar para o mercado voluntário, por questões como idade do projeto”, explicou o CEO, Milton Pilão.
“Quando recebemos essas notícias, que são muito boas, de aprovação do projeto de lei do mercado de carbono e conjuntamente de um acordo sobre o Artigo 6.4 lá em Baku, passamos a ter a perspectiva de liberação para comercialização no mercado regulado dos créditos de aterros que antes não poderiam. E toda minha base também poderá operar no mercado regulado, com possibilidade de arbitrar um preço maior”, explicou.
Para o CEO da Orizon, a legislação deve passar agora por sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e uma fase de regulamentação que deve levar “pelo menos 12 meses” para ser concluída. “Então esperamos ter impactos positivos advindos dessa nova regulação, na prática, em números para nós, no ano de 2026”.
Outra regulamentação vista como “importante” pela Orizon foi a recente aprovação no Congresso do projeto Combustível do Futuro, que estabelece incentivos como um mandato de 1% de gás natural renovável para os volumes de gás natural comercializado, produzido ou importado a partir de 2026, que deve chegar a 10% até 2034.
“É um impulso na demanda”, disse Pilão. “Com mais demanda, tem mais clientes, e talvez até mais valor pelo gás natural renovável”.
A Orizon, que já produz gás natural renovável em aterros sanitários, e inclusive está expandindo a produção por meio da subsidiária BioE, tem visto uma demanda “muito maior que a oferta” pelo produto, segundo o CEO.
EXPANSÃO
Desde 2021, quando abriu capital na bolsa, a Orizon tem crescido em ritmo acelerado, de “dois dígitos percentuais altos”, e as perspectivas são “continuar crescendo em ritmo acelerado”, disse Pilão.
Porém, com a perspectiva de juros ainda elevados no Brasil, pelo menos nos próximos 1-2 anos, a companhia tem adotado uma dose de conservadorismo nos planos, para manter uma estrutura de capital saudável.
Na frente de fusões e aquisições, a Orizon avalia potenciais aquisições de aterros sanitários que poderiam ampliar em mais 30% a 40% seus volumes de resíduos, mas com ‘parcimônia’ e foco neste momento em aterros ´jovens´, cuja compra demanda menos recursos.
“Acho que é um pouco essa nossa estratégia em M&A, continuar fazendo operações que não tenham grande impacto na estrutura de capital, mas que tragam perspectivas positivas”, afirmou o CEO.
“Já fui muito questionado, uns meses atrás, sobre porque não aceleramos mais, não colocamos mais projetos, para construir mais plantas ao mesmo tempo. Mas nós temos um plano de crescimento contínuo e sólido, sem rompantes. Exatamente para ter sempre o pé no chão e uma estrutura de capital saudável”, comentou o executivo.
A Orizon reportou lucro de R$41,2 milhões no terceiro trimestre, salto de mais de 10 vezes ante os R$3,8 milhões do 3T23, e mais que o triplo dos R$11 milhões no 2T24. A alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e EBITDA em 12 meses, ficou em 2,71x, de 2,78x no trimestre anterior.
(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)
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