Exclusiva do FLJ e da Mover

Na mira da Aneel, MEZ Energia, de herdeiros da Eztec, pode perder contratos

Marcos Zarzur e Mauricio Zarzur, sócios da MEZ
Marcos Zarzur e Mauricio Zarzur, sócios da MEZ | MEZ/Divulgação

São Paulo, 15/1/2024 – A MEZ, empresa de transmissão de energia criada por herdeiros da construtora Eztec, entrou na mira de fiscalizações da Agência Nacional de Energia Elétrica, o que poderá resultar até em recomendação ao governo para revogação de contratos com a companhia, e possivelmente multas, segundo fontes e documentos vistos pelo Faria Lima Journal e pela Mover, área de notícias da plataforma para investidores TC.

Criada por Marcos Zarzur e Mauricio Zarzur, que são filho e neto do fundador do grupo da Eztec, Ernesto Zarzur, a MEZ surpreendeu investidores do setor elétrico quando estreou em 2010, vencendo a disputa por diversos projetos de forma arrasadora em um leilão do governo na B3. Depois de levar diversas outras concorrências, o grupo começou a enfrentar dificuldades para entregar boa parte dos empreendimentos.

Embora a transmissora de energia não tenha nenhuma ligação direta com a Eztec, o mercado avalia que as dificuldades da empresa chegaram a pesar sobre a construtora antes, em parte dos anos de 2023 e 2024. Na época, Marcos Zarzur vendeu parte de suas ações na Eztec, pressionando os papéis, o que foi atribuído pelo mercado à necessidade de “cobrir passivos da MEZ”, segundo reportagem do Brazil Journal em julho passado.

A Aneel informou, em nota à Mover, que há processos administrativos em andamento para apurar falhas de transgressões da legislação pela MEZ em cinco contratos decorrentes de leilões, em função principalmente de descumprimento de marcos de cronograma, “bem como o baixo avanço físico dessas obras”.

Segundo a agência, os processos poderiam resultar na recomendação, ao governo, de “caducidade” do contrato, ou seja, de cancelamento.

“Os processos ainda estão em fase instrutória e deverão ser deliberados em reunião colegiada assim que possível”, acrescentou a Aneel. Os casos terão como relatora a diretora Agnes da Costa.

Em um dos processos, referente a um projeto em São Paulo, primeiro arrematado pela MEZ, a previsão era de entrada em operação em setembro de 2025, por contrato, mas documento do Ministério de Minas e Energia admite que as obras “poderão sofrer atrasos significativos” e que a Aneel avaliará eventual recomendação de caducidade como punição à empresa pelo descumprimento das obrigações.

Mas, em paralelo, o ministério solicitou estudos técnicos sobre a real necessidade das instalações atrasadas, para avaliar eventual substituição do projeto ou relicitação.

Não foi possível falar de imediato com representantes da MEZ Energia. No ápice dos negócios, em 2020, a companhia chegou a projetar investimentos de mais de R$3 bilhões, atrapalhados depois pela pandemia e pela consequente desaceleração da economia.

Nos bastidores, fontes de mercado confirmaram à Mover que a MEZ enfrenta problemas para cumprir cronogramas. Uma alternativa para a empresa evitar punições maiores por parte da Aneel ou do governo seria renegociar os prazos tendo como contrapartida compromissos de venda dos ativos, o que já ocorreu em outros casos no setor, avaliou uma das fontes.