Notícia gerou furor na Faria Lima

Grizzly Research acusa XP de ‘Esquema Ponzi’; plataforma de investimentos nega e ameaça processo

Grizzly Research acusa XP de ‘Esquema Ponzi’; plataforma de investimentos nega e ameaça processo

Brasília, 12/3/2025 – As ações da XP, cotadas na Nasdaq, recuaram 5,48% nesta quarta-feira, em meio à repercussão, nas redes, de recente relatório da Grizzly Research recomendando venda para os papéis, com tese que acusa a corretora brasileira de um “Esquema de Ponzi”, acusação rechaçada enfaticamente pela XP.

A XP disse que as informações divulgadas pela Grizzly são “falsas, incorretas, imprecisas” e que tomará “medidas legais cabíveis” contra a empresa, acrescentando cumprir todas as normas do mercado, segundo nota enviada à Mover.

A Grizzly Research é uma casa de análises financeiras americana focada em teses de venda, ou “short”, para companhias de capital aberto. Sediada na Pensilvânia, atende principalmente clientes institucionais, como hedge funds, family offices e bancos de investimento. Em seu site, diz “não ter medo de publicar suas visões de venda” para ativos investigados.

No relatório sobre a XP, amplamente comentado na Faria Lima hoje, a Grizzly alegou que a companhia operaria um esquema financeiro no qual dois fundos com significativa rentabilidade — Gladius (+2.419% em cinco anos) e Coliseu – utilizariam novos aportes de clientes em Certificados de Operações Estruturadas (COE) para pagar lucros. Os analistas dizem ter se baseado em relatos de ex-funcionários da XP e fontes locais.

Em seu relatório, em inglês, a Grizzly classificou o modelo de negócio da XP como “similar a Madoff”, em alusão a Bernard Madoff, ex-presidente da Nasdaq, e gestor de fundos, que foi condenado, em 2009, a 150 anos de prisão por confessar ter operado um esquema Ponzi que desviou cerca de US$65 bilhões de investidores ao longo das décadas, via uma divisão de gestão de ativos dentro de sua companhia, a Bernard L. Madoff Investment Securities LLC.

De acordo com a Grizzly, o Gladius registrou retorno médio anual de 93,3% desde 2019 – o que superaria em mais de 50 pontos percentuais o retorno anual médio após taxas do hedge fund quantitativo americano Renaissance Technologies, fundado em 1982 pelo matemático Jim Simons, cujo principal fundo gerido é o Medallion.

O elevado retorno do fundo Gladius, da XP, aliado a um suposto baixo risco, é atribuído ao seu papel como veículo que registra ganhos operacionais das atividades de formação de mercado e gestão de liquidez da XP, segundo a Grizzly. No Brasil, esse tipo de fundo, conhecido como “Retail Liquidity Provision” (RLP), é uma prática comum, proporcionando liquidez ao mercado e oferecendo vantagens fiscais às instituições financeiras.

A premissa da Grizzly é de que, caso novos aportes fossem interrompidos, o sistema colapsaria, uma vez que os altos retornos desses fundos refletiriam apenas o ingresso desse dinheiro, e não o desempenho genuíno. A Grizzly alega que a XP promove produtos financeiros de alto custo, como COEs, que beneficiariam os fundos Gladius e Coliseu às custas dos investidores individuais.

Em nota, a XP rechaçou enfaticamente a tese da Grizzly e disse que “cumpre com a lei e segue todas as normas estabelecidas por órgãos reguladores, como CVM, SEC, Banco Central, dentre outros”, com operações auditadas “regularmente”.

ATIVA VÊ ERROS EM RELATÓRIO

Em nota, a Ativa Investimentos disse discordar da tese de investimento da Grizzly Research e apontou falhas dos analistas. A Ativa argumenta que a Grizzly errou ao comparar os R$167 bilhões geridos pela XP Asset com os R$1,08 trilhão de ativos sob custódia do grupo, mostrando que os retornos dos fundos são plausíveis dentro do volume total de recursos da XP.

“O relatório cometeu um erro ao comparar os R$167 bilhões em ativos da XP Asset com o volume total de ativos sob custódia do conglomerado. Atualmente, os ativos de clientes assessorados pela XP somam R$1,08 trilhão, o que torna totalmente factível que os fundos tenham gerado essa contribuição de receita, especialmente devido à alta penetração de produtos predatórios em sua base de clientes, como o próprio relatório mencionou”, comentou a corretora.

A Ativa também pontuou que os fundos Gladius e Coliseu funcionam como “ferramenta contábil” da XP para apresentar alíquota efetiva de Imposto de Renda significativamente inferior aos 34% padrão para companhias locais, com alíquota efetiva de apenas 1% em 2023.

Ao comentar o caso, no entanto, a Ativa destaca preocupações com a sustentabilidade do modelo de negócio da XP – via dependência de produtos de alto custo e a baixa tributação, como possíveis riscos à companhia.