Por: Luciano Costa
A Eletrobras (ELET3) decidiu recuar da recém-anunciada intenção de vender parte de suas ações na transmissora de energia Cteep, após descobrir tardiamente uma restrição a alienações de ativos que, na prática, limitaria muito o tamanho da operação, disseram à Mover duas fontes com conhecimento do assunto.
A Eletrobras tem 35,7% da Cteep, o que poderia movimentar mais de R$5 bilhões se toda a fatia fosse vendida. Mas diversas debêntures da companhia possuem cláusulas que restringem a vendas de ativos de máximo 2% do patrimônio líquido a cada 12 meses, o que só foi “descoberto” nos últimos dias pela empresa, disseram as fontes, que pediram anonimato para falar livremente sobre o assunto.
Caso a Eletrobras prosseguisse com a oferta total, a companhia ficaria em situação de descumprimento dos covenants dessas emissões. Assim, a empresa só poderia negociar uma fatia pequena da participação na Cteep e ainda ficaria limitada em outras operações de fusões e aquisições.
No comunicado sobre a suspensão da potencial oferta de ações da Cteep, a Eletrobras disse que o volume de papéis “disponível para ser ofertado no momento estaria muito aquém do esperado para o seguimento imediato da operação”, sem detalhar.
A suspensão oferta, comunicada hoje pela manhã pela Eletrobras, causou desconforto dentro da empresa, e também no mercado financeiro. A decisão motivada por um “erro interno” gerou impacto sobre o valor de ações negociadas em bolsa. Procurada, a companhia não comentou.
As ações da Eletrobras subiram após a companhia ter aprovado em 31 de outubro a estruturação de operação para desinvestir da participação na Cteep, mostrando avanços em sua reestruturação pós-privatização, enquanto os papéis da Cteep estavam sob pressão negativa diante da potencial negociação dos ativos.
Agentes do chamado “buy side”, que assessoram a compra de ações por fundos, por exemplo, ficaram bastante insatisfeitos com o recuo da Eletrobras dias após a divulgação de comunicado sobre a potencial oferta, o que foi visto como “amadorismo” por investidores, disse uma das fontes. “Deviam ter visto isso antes”, disse uma fonte do mercado próxima do negócio.
Dentro da Eletrobras, a informação também caiu como “uma bomba”, e investiga-se agora “se há como superar isso de maneira rápida”, disse a segunda fonte. A “trava” encontrada para vendas de ativos limitaria essas operações a cerca de R$2,2 bilhões em 12 meses, diante do patrimônio líquido de R$111 bilhões da Eletrobras.
Por volta de 10h30, as ações ON da Eletrobras recuavam 0,87% na B3, cotadas a R$35,59. Os papéis ON da Cteep subiam 4,26%, a R$32,31.
(LC | Edição: Machado da Costa | Comentários: equipemover@tc.com.br)
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