Cenário afeta estratégia da Vale

Descarbonização no setor de aço será mais lenta, impactando prêmios do minério, diz BTG

Reuters News Brasil
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São Paulo, 20/06/2025 – Investimentos do setor de siderurgia em descarbonização deverão acontecer com lentidão maior do que se esperava antes, o que impactará negativamente prêmios do minério de ferro de maior qualidade, como o produzido pela Vale em Carajás, no Pará, alertaram analistas do BTG Pactual em relatório hoje.

A avaliação do BTG vem após a ArcelorMittal anunciar que não seguirá adiante com projetos siderúrgicos na Alemanha envolvendo redução direta (DRI), que geram bem menos emissões de carbono, mesmo com um subsídio de 1,3 bilhão de euros do governo alemão.

“Para o mercado de minério de ferro, isso reforça a visão de uma mudança mais lenta que antecipado para produtos de maior teor”, escreveu o time do BTG, acrescentando que mesmo na China a conta para projetos de descarbonização na siderurgia não está fechando.

“Continuamos a esperar pressão contínua sobre os prêmios de qualidade e de pellets, junto com uma demanda relativa mais fraca por minério de ferro de alto teor. A narrativa de descarbonização no minério de ferro segue em xeque no curto e médio prazo, com siderúrgicas mudando para um ‘modo de sobrevivência’ e provavelmente cortando despesas e investimentos”, apontou o BTG”.

“Isso coloca um sinal de cautela no curto prazo para a teoria da “migração para a qualidade” (flight to quality) e qualquer recuperação imediata nos prêmios de qualidade”, acrescentaram os analistas.

Após um período de foco estratégico em minério de ferro de maior qualidade, buscando prêmios por produtos que permitem produzir aço com menores emissões, a Vale inclusive sinalizou uma mudança de rota recentemente, citando a desaceleração na estratégia de transição energética.

No longo prazo, a Vale segue acreditando na importância dos aglomerados e de produtos de alto teor para descarbonizar o setor de aço, mas no curto prazo a indústria está exigindo produtos mais competitivos, de menor custo, disseram diretores da empresa, durante o Vale Day, em Nova York, no final de 2024.

A Vale projetava produzir cerca de 100 milhões de toneladas de aglomerados de minério de ferro após 2030, número depois cortado para entre 60 milhões e 70 milhões. A alteração foi anunciada junto com a nomeação do vice-presidente de Minério de Ferro, Rogério Nogueira, como VP Comercial e de Novos Negócios, que destacou a demanda da indústria por produtos de menor custo neste momento.

“Não é que estamos abandonando a ideia de ser ‘high grade’. Acreditamos que essa é a direção. Mas como navegamos nisso… nossa ideia é não investir em aglomerados à frente do mercado. Vamos investir junto com nossos clientes ou com investidores que estejam indo para a rota de redução direta. Seguindo o ritmo deles”, disse Nogueira, durante o Vale Day.

O BTG avalia que a descarbonização da siderurgia enfrenta barreiras incluindo altos custos de energia, queda na demanda, preços baixos do aço e falta de prêmios pelo “aço verde” nos mercados.