Americanas (AMER3): Vazamento de relatório desmente versão de bancos

Instituições financeiras sabiam do risco sacado

Tânia Rêgo/Agência Brasil
Tânia Rêgo/Agência Brasil

Por Bruno Andrade

Um relatório sigiloso, vazado na madrugada de quarta para quinta-feira (23), mostra que os bancos sabiam que a Americanas (AMER3) fazia o risco sacado em suas operações financeiras. A prática da medida levou a varejista a ter um rombo de R$ 43 bilhões.

O documento, divulgado inicialmente pela CNN Brasil, comenta que houve um registro no sistema do Banco Central que comprova que todos os bancos envolvidos no caso sabiam da operação feita pela companhia do 3G.  O registro foi em um relatório enviado mensalmente pelas instituições para o Banco Central, o SCR.

“Dentre as informações disponibilizadas aos executivos, constava o Relatório de Informações Resumidas do Sistema de Informação de Crédito – SCR do Banco Central do Brasil que informa o endividamento da Companhia junto às instituições financeiras, para o período de setembro de 2022”.

Segundo o relatório, os bancos informaram nesse documento que tinham um total a receber de R$ 17 bilhões, todo o dinheiro era de operações com risco sacado. Sendo assim, o documento comprova que os bancos necessariamente sabiam que a Americanas trabalhava com essa prática, visto que as informações do SCR são postadas exclusivamente pelas próprias instituições financeiras.

Santander e Itaú reconheceram prática da Americanas em 2016

Para piorar a situação, o relatório mostra que dois bancos chegaram a reconhecer, em 2016, que fizeram esse tipo de operação com a Americanas. À época, Itaú e Santander disseram para a KPMG, empresa que cuidava da auditoria da Americanas na época, que faziam a operação risco sacado com a varejista. No entanto, as duas instituições financeiras se retificaram e passaram a negar as práticas.

“É possível observar que, em 2016, a KPMG informou em seu “Relatório de Recomendações sobre as Demonstrações Contábeis” que recebeu de duas instituições financeiras, respostas às cartas de circularização com saldo de operações de risco sacado junto às recuperandas, cartas estas que foram posteriormente retificadas/substituídas por outras cartas que segundo a KPMG “não apresentava uma linha para operação de cessão de crédito aos fornecedores (forfait)”, mostra o documento divulgado inicialmente pela CNN.

Em nota enviada à imprensa, o Itaú disse que as demonstrações financeiras são de responsabilidade exclusiva da Americanas e que as cartas em circulação são apenas uma ferramenta de auditoria.

“As cartas de circularização são apenas um instrumento, dentre muitos, que apoiam a auditoria no trabalho de verificação das informações fornecidas pela administração, e foram respondidas conforme as melhores práticas de mercado. Os saldos das operações sempre foram reportados no Sistema Central de Risco, mantido pelo Banco Central. Dessa forma, é leviana a tentativa de atribuir aos bancos qualquer responsabilidade sobre as práticas contábeis irregulares da empresa.”

O Santander disse que as cartas em circulação são apenas uma entre muitas fontes de auditoria da empresa e que qualquer fraude contábil é de responsabilidade da Americanas. “As alegações da companhia e de seus advogados não passam de uma tentativa de desviar a real responsabilidade dos administradores e conselho de administração da empresa”, disse o Santander.