Por: Luciano Costa
São Paulo, 30/01/2023 – A americana AES passou a buscar um comprador para a totalidade de sua participação na geradora renovável AES Brasil, depois de ter avaliado inicialmente a possibilidade de atrair um parceiro para o negócio, disseram fontes à Mover.
Os planos da AES para sair do país foram divulgados no domingo pelo jornalista Lauro Jardim, em O Globo. Ontem, a investidora Louise Barsi pediu a acionistas que não entrem em “desespero” com a informação, defendendo que uma eventual negociação do ativo não ocorreria “a preço de banana”. O pai dela, Luiz Barsi, tem 5% da companhia.
Procurada, a AES disse que já havia comunicado antes ao mercado a intenção da controladora, AES Corp, de avaliar “alternativas para financiar o crescimento da companhia e melhorar sua estrutura de capital”.
Com valor de mercado de cerca de R$7 bilhões, a AES Brasil opera usinas hidrelétricas, eólicas e solares com cerca de 5 gigawatts em capacidade. A AES tem 47,3% das ações, e o BNDESPar tem 6,98%.
Embora possa estar aberta a outras alternativas, o foco da AES no momento é de fato o “desinvestimento” da operação no Brasil, disse uma das fontes, que falou sob condição de anonimato. “Pode surgir uma oportunidade no meio do caminho, mas o objetivo é esse”.
Pelo porte da potencial transação, grupos chineses são vistos como prováveis interessados, disse uma segunda fonte, lembrando que em 2016 a China Three Gorges investiu US$1,2 bilhão para comprar hidrelétricas da também americana Duke Energy no Brasil.
Para analistas da Genial Investimentos, a notícia não é necessariamente surpreendente, dado que a AES já vendeu operações locais como a Eletropaulo. “Achamos que o evento pode ser positivo, em relação aos últimos preços de fechamento, tendo em vista o possível exercício de prêmios de controle a serem pagos caso os planos de venda do ativo venham de fato a avançar”, escreveram em nota a clientes.
A acionista Louise Barsi também avalia que se a notícia for confirmada poderia gerar valor adicional para a empresa, segundo vídeo divulgado em redes sociais, no qual ela citou como exemplo a venda da Eletropaulo no passado, alvo de uma disputa entre Neoenergia e Enel que inflou o preço do ativo.
“Imaginemos que essa notícia seja verdadeira. Se coloque no lugar dos controladores da AES, que no últimos 4-3 anos despejaram bilhões nesse investimento. O que vocês gostariam, de vender barato, a preço de banana, às pressas, ou caro, para algum parceiro?”, questionou Barsi.
CENÁRIO PARA M&A
Os planos da AES podem ser atrapalhados, em tese, por uma conjuntura no Brasil de preços baixos no mercado de eletricidade, o que tem dificultado operações de fusões e aquisições de empresas de geração, segundo especialistas.
Mas ativos renováveis do Brasil seguem no topo do radar de investidores globais, disse à Mover o diretor-geral da consultoria Thymos Capital, Andre Fonseca, embora com a ressalva de que não pode comentar especificamente o negócio envolvendo a AES, sobre o qual não tem detalhes ou confirmação.
“Existe muito interesse pelo Brasil. Europeus, chineses, e empresas buscando descarbonização. E, falando em grandes empresas, quando elas querem vir para o país, geralmente preferem entrar comprando uma plataforma”, disse Fonseca. “Isso gera um prêmio na transação, e tem muita gente interessada em vir para o Brasil, em função da escala do nosso mercado e da regulação”, afirmou.
(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)