Ações de mineradoras sofrem com alertas da China sobre preços do minério

Governo chinês já deixou claro que em 2023 a produção de aço deve ficar igual ou menor do que o ano passado

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Por Giovanni Porfírio

As ações das maiores exportadoras de minério de ferro do Brasil, Vale e CSN Mineração caem na tarde desta quarta-feira, em linha com recuo da commodity na bolsa chinesa de Dalian, em meio a preocupações de investidores com a demanda pela matéria-prima e temores de possíveis intervenções da China no mercado.

Depois de um rali que levou as cotações de US$75,00 para US$131,00 em cerca de quatro meses, por perspectivas de reabertura da China após o fim das políticas Covid Zero, o minério de ferro tem caído nos últimos dias diante de declarações de autoridades chinesas questionando “preços irracionais” do material usado na fabricação do aço.

Hoje, as cotações fecharam em queda de 2,15% no pregão da bolsa de Dalian. As ações da Vale (VALE3), por sua vez, caíam 1,08% perto das 13h20, enquanto os papéis de CSN Mineração (CMIN3) cediam 0,22%. No mesmo horário, o Ibovespa caía 0,13%, a 100.876 pontos.

Segundo Gilberto Cardoso, CEO da consultoria Tarraco Commodities Solutions e contribuidor da Ohmresearch, o governo chinês já deixou claro que em 2023 a produção de aço deve ficar igual ou menor do que o ano passado, gerando dúvidas sobre a real demanda do país por minério de ferro após uma animação inicial com a reabertura.

“Realmente teve um rally grande de novembro para cá e isso foi só gerado pela expectativa. Não teve transformação real, de um aumento muito grande de produção”, afirmou.

“O movimento também está alinhado com a desalavancagem da indústria, além do ajuste ambiental. Acredito que o preço deve ficar um pouco volátil, no curto prazo, e agora o preço vai negociar realmente na expectativa de aumento de produção de aço”, acrescentou Cardoso.

Desde a última sexta-feira, a cotação do material tem sido penalizada, após a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China afirmar que analisará mais uma vez medidas para conter os preços “irracionais” da matéria-prima.

Sobre a questão climática, vale destacar que as cidades de Handan e Tangshan, que abrigam dois grandes centros siderúrgicos no norte da China, anunciaram restrições às siderúrgicas em 17 e 20 de março, respectivamente, após uma previsão de forte poluição do ar nos próximos dias.

Ontem, aqui no Brasil, o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço, Carlos Loureiro, afirmou em entrevista coletiva que a indústria brasileira de aço está encurralada diante de uma estagnação na demanda pelos produtos siderúrgicos e um aumento de preço dos principais insumos, o que tem pressionado fortemente as margens do setor.

A menor demanda por aço está associada ao peso do cenário de desaceleração da economia e juros altos, que pesam sobre segmentos que são importantes clientes das siderúrgicas, como a construção civil e a indústria automotiva.

General Motors, Hyundai e Stellantis, por exemplo, anunciaram que vão suspender linhas de produção e devem anunciar férias coletivas para funcionários nos próximos dias, segundo reportagem do Estadão, que citou queda na demanda e necessidade de adequar os níveis de produção no segmento.