Acionista vê conflito de interesse em diretoria da Saraiva e ‘zera’ posição

A acionista indica ter alertado a diretoria sobre tal questão

Facebook/Saraiva
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Por: Artur Horta

A acionista Alyssa Nunes Bruscato Costa, que chegou a deter mais de 15% das ações ordinárias da Saraiva, reduziu sua participação para 0,15% dos papéis, após acusar a diretoria da rede de livrarias de conflito de interesses e de ser responsável pela “situação extremamente delicada” que a companhia tem enfrentado.

A redução foi anunciada em um comunicado da Saraiva publicado ontem à noite. No documento, há uma carta endereçada a representantes da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) onde a Bruscato discorre sobre os motivos que a levaram a deixar de ser uma acionista relevante da empresa.

“A lei das sociedades anônimas determina que os administradores não podem votar a aprovação das próprias contas. O conflito de interesses na hipótese mencionada é tão claro que a lei societária decidiu por proibir o exercício do direito de voto. Não obstante a gravidade do referido conflito de interesses, o mandamento legal foi deliberadamente violado durante a última assembleia geral ordinária da Companhia realizada no dia 23 de agosto de 2023 pela Saraiva”, disse Bruscato.

A acionista indica ter alertado a diretoria sobre tal questão, mas que a controladora e presidente do conselho da companhia, Olga Saraiva, votou para aprovar as contas da administração da qual ela mesma participa. Sem o voto, as contas seriam reprovadas “e a atual administração poderia sofrer uma ação de responsabilidade”.

Procurada, a Saraiva não retornou imediatamente ao pedido de comentário.

Bruscato apontou outros atos que “levaram a companhia a uma situação extremamente delicada”, com o fechamento de mais de 20 lojas e atraso para aprovação das contas da administração.

Segundo a acionista, a contratação da KR Capital, empresa ligada ao antigo presidente da Saraiva, ocorreu “em condições mais vantajosas do que aquelas normalmente praticadas pelo mercado”. Um laudo pericial concluiu que uma ata de reunião do conselho “foi forjada para dar veracidade à contratação da KR Capital e agora o Ministério Público instaurou inquérito policial”, acrescentou.

A Saraiva é uma das maiores livrarias do Brasil e entrou em recuperação judicial em 2018, em meio à concorrência crescente de livrarias online, mudanças nos hábitos de compra dos consumidores e um endividamento elevado. Os papéis ordinários da companhia derretem cerca de 95% desde o início do processo e fecharam a sessão de ontem a R$3,96.

Bruscato contou no documento que, no passado, se tornou a segunda maior acionista da Saraiva por acreditar no plano de recuperação judicial e na capacidade da empresa de se reerguer. Porém, diante de “fatos tão graves”, a acionista disse ser “inviável manter qualquer posição acionária relevante na companhia”.