O que aconteceu com os Treasuries?

Coluna TradingView no FLJ: Crise nos títulos públicos americanos, é para se preocupar?

Coluna TradingView no FLJ: Crise nos títulos públicos americanos, é para se preocupar?
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Por: Gabriel Fauth, do TradingView

Tivemos semanas cheias de emoções e quiçá teremos ainda mais pela frente. Vimos um dos movimentos mais disruptivos em Treasuries recentemente, que pode ter relação com falta de colateral e com fuga de capital dos EUA, visto a alta no Iene/Dolar e Euro/Dolar, mas vou começar pelo básico.

Os títulos americanos são basicamente pré fixados e pagam cupom semestral, isto é, quando você compra, você está atrelado àquela taxa de rendimento (yield) e receberá um pagamento semestral definido pela regra do Tesouro (cupom). Caso seja familiar para você, é como nossa NTN-B.

Ativos de renda fixa têm uma volatilidade em seus preços um tanto previsível, principalmente se tratando de títulos públicos, mas cuidado, pois eventos macro-econômicos ou geopolíticos afetam a percepção de risco de estar apostando naquele país.

O QUE ACONTECEU COM OS TREASURIES?

A percepção de risco dos investidores veio com o tarifaço de Trump, fazendo que os participantes do mercado percebecessem um risco endógeno no futuro dos Estados Unidos cortando os laços completamente com a China.

Os títulos de longo prazo são mais sensíveis a fatores macro e consequentemtente mais voláteis, e vimos no dia 07/04 o mercado precificando risco país nos EUA. O que ninguem esperava era que veriamos um aumento de risco de contraparte no mercado de títulos. Os fundos que arbitram esse mercado precisaram estopar posições alavancadas o que ocasionou um movimento forte e direcional por falta de colateral.

 

MAS O MERCADO DE RENDA FIXA NÃO ERA LIVRE DE RISCO?

Não existe mercado livre de risco. Até em casa você corre risco.

Títulos longos, como os de 30 anos, naturalmente incorporam um risco maior que os de curto prazo, uma vez que consideram um horizonte mais incerto e sujeito a eventos imprevistos. O investidor que compra um papel de 30 anos está, na prática, apostando na estabilidade do país por três décadas, um intervalo em que muita coisa pode mudar. Já os títulos de 10 anos têm uma previsibilidade relativamente maior.

E QUAL A CHANCE DE UM COLAPSO NO MERCADO DE TÍTULOS? 

Marginal, para ficar com o pé no chão.

A hipótese de um colapso generalizado do mercado de treasuries é considerada improvável. Há interesses econômicos significativos, como os detentores estrangeiros Japão e China, que juntos somam quase US$ 2 trilhões em títulos e que atuam como “âncora de estabilidade” para o sistema. Um colapso significaria prejuízo bilionário para esses países, tornando implausível a ideia de que a China despejaria seus títulos apenas por retaliação política.

Adicionalmente, o próprio Tesouro e o FED possuem capacidade de intervenção por meio de compras emergenciais e operações de swap, como foi observado no episódio do SVB, onde o resgate girou entre US$ 400 e 500 bilhões. O balanço do FED caiu de US$ 9 trilhões para cerca de US$ 6,7 trilhões, demonstrando ainda haver espaço para ação.

É PARA SE PREOCUPAR?

É sempre bom estar com um pé atrás. Ainda assim um colapço no mercado de titulos é, nessa imagem do momento, não realista — e isso é apenas a minha opinião.

No mais, já vemos a Casa Branca voltando atrás com medidas de tarifação recíprocra, dando pausa de 90 dias, e ainda ventila-se que os EUA poderiam retirar a tarifação sobre smartphones. O passo atrás é um alívio importante ao meu ver e em breve deve-se precificar um executivo dos EUA menos arrojado.