Será a maior do mundo

Mega hidrelétrica de US$170 bi da China empolga mercados de minério de ferro e aço; BTG sugere ´cautela´

Mega hidrelétrica de US$170 bi da China empolga mercados de minério de ferro e aço; BTG sugere ´cautela´
Xinhua

São Paulo, 22/07/2025 – O anúncio de um megaprojeto hidrelétrico na China orçado em cerca de US$170 bilhões animou investidores dos mercados de minério de ferro e aço, que viram o empreendimento não somente como uma importante fonte de demanda, mas também como sinal de compromisso do governo chinês em apoiar a economia e investimentos em infraestrutura.

Os contratos futuros do minério de ferro negociados na bolsa de Dalian avançaram hoje para o maior nível em quase cinco meses, atingindo US$114,67 por tonelada, após terem avançado forte também ontem, quando saíram as primeiras notícias oficiais confirmando a barragem no Tibete. O movimento apoiou as ações da Vale e da CSN Mineração, enquanto papéis de siderúrgicas como Gerdau, Usiminas e CSN também mostraram desempenho positivo.

O destaque fica por conta das ações ON da Vale, que acumulam alta de quase 6% desde o anúncio, registrando um volume de negociações acima da média dos últimos 50 pregões e alcançando níveis de preço não vistos desde abril de 2025. O índice de Materiais Básicos da B3 acumula uma alta de 4,50% no mesmo período.

“Essa nova iniciativa hidrelétrica da China é mais que uma jogada em energia verde – é um sinal de que os formuladores de políticas estão intensificando estímulos fiscais, exatamente como os mercados esperavam”, escreveu a plataforma financeira Finimize, citando analistas da ANZ que veem a notícia como potencial reavivadora da demanda por aço.

Ações de empresas de construção chinesas, como CSI Construction & Engineering, Power Construction Corporation of China e Arcplus Group, também saltaram com o anúncio do projeto, e papéis de outras companhias locais vistas como potencialmente beneficiadas também avançaram.

O primeiro-ministro Li Qiang anunciou a usina no rio Yarlung Zangbo, que será três vezes maior que Três Gargantas, hoje a líder mundial em capacidade hidrelétrica, como “o projeto do século”.

O projeto será tocado por uma estatal recém-criada, a China Yajiang Group, a princípio sem envolvimento de outras gigantes do setor elétrico local, como State Grid e Three Gorges Corporation.

A demanda gerada pelo megaempreendimento poderia apoiar o consumo de aço e consequentemente de minério de ferro em um momento em que há preocupações com impactos da guerra comercial lançada pelos Estados Unidos sobre essas indústrias.

Mais recentemente, a China tem falado em combater o excesso de capacidade em diversos setores, incluindo no siderúrgico.

BTG CÉTICO

Analistas do BTG Pactual, no entanto, recomendaram “cautela” a investidores, avaliando que o rali nos preços do minério de ferro e do aço pode ser sido mais uma questão de especulação baseada nas notícias do que uma “mudança de jogo” na indústria.

Se Três Gargantas gerou uma demanda adicional por aço de entre 460 mil e 510 mil toneladas durante seus 15 a 20 anos de construção, o projeto no Tibete pode exigir 1,4 milhão a 1,9 milhão de toneladas, uma vez que teria cerca de 60 gigawatts, quase três vezes a da atual recordista global. A efeito de comparação, Itaipu tem 14 gigawatts.

Hidrelétrica de Três Gargantas, na China, a maior do planeta (por enquanto)

“Isso representaria menos de 0,5% da produção total de aço bruto chinesa por ano. Com isso em mende, embora o projeto possa gerar impactos positivos para a economia chinesa, não acreditamos que ele alegra a sobrecapacidade estrutural no setor siderúrgico chinês– um importante peso que deve continuar sobre os preços do minério de ferro e aço”, escreveu o time do BTG.

O projeto chinês terá capacidade suficiente para abastecer um Reino Unido, com proporções gigantescas que já geram preocupações nos vizinhos Índia e Bangladesh- ambos expressaram preocupação de que a barragem diminua a água disponível para suas regiões.

Autoridades não indicaram quantas pessoas serão deslocadas pelo empreendimento. No caso de Três Gargantas, onde empreiteiras e consultores brasileiros tiveram participação nas obras, devido à expertise com Itaipu, foi necessário a retirada de cerca de um milhão de pessoas. O projeto gerou número similar de empregos, segundo a mídia estatal.

(LC | Edição: Luca Boni | Comentários: equipemover@tc.com.br)