UBS vê ´grave desancoragem´

Focus passa a projetar inflação acima do teto da meta em 2025

Reuters News Brasil
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São Paulo, 09/12/2024 – A mediana de projeção de economistas para a Selic ao fim de 2025 avançou acima do teto da meta, após semanas mostrando expectativas de IPCA superando os limites também neste ano, de acordo com o boletim Focus, divulgado mais cedo pelo Banco Central.

A mediana das previsões para o IPCA em 2025 subiu para 4,59%, de 4,40% há uma semana, e acima da meta de 3% para 2024 e 2025, com intervalos de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Neste ano, a mediana de projeção para o IPCA fixou-se em 4,84% no mais recente Focus, contra 4,71% na semana anterior, e 4,62% há um mês, mostrando forte aposta do mercado em estouro da meta.

No mais recente Relatório Trimestral de Inflação, de setembro, o Banco Central calculava 36% de chance do estouro do teto da meta neste ano, ante 28% calculados em junho.

A chefe de macroeconomia do UBS Global Wealth para o Brasil, Solange Srour, destacou que houve altas no IPCA projetado para 2024, 2025, 2026 e 2027, com aumentos de entre 8bp e 18bp. “Não se trata de uma revisão de curto-prazo, causada por uma inflação corrente pior e mais inércia. Estamos presenciando uma grave desancoragem significativa de médio e longo prazo, certamente resultado da perda total da âncora fiscal”, escreveu ela no Linkedin.

A economista do UBS acrescentou que o Copom não tem alternativas que não continuar aumentando a Selic, uma vez que “é tarefa do BC tentar segurar as expectativas”, mas admitiu que a autoridade monetária, sozinha, não conseguirá trazer a confiança de volta, dadas as preocupações fiscais. “A situação é grave. Estamos vivendo uma crise de confiança na política econômica como um todo”, disse Srour.

CARTINHA

A meta de inflação é definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e cabe ao BC adotar medidas monetárias para alcançá-la, essencialmente por meio do controle da taxa básica de juros, a Selic. Quando a meta é descumprida, o presidente do BC precisa enviar carta aberta com explicações ao ministro da Fazenda.

Assim, ao menos de acordo com as projeções de economistas de mercado consultados pelo Focus, o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, pode encerrar sua gestão à frente da autarquia com mais uma carta de justificativas — ele precisou escrever duas dessas, em 2021 e 2022.

Mas o próximo presidente do BC, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Gabriel Galípolo, assumirá o cargo em janeiro de 2025 já pressionado por projeções de IPCA acima do teto para o ano, e com a maior parte do mercado também indicando aumento significativo da Selic à frente. Também a partir de janeiro, a meta de inflação se referirá à inflação acumulada em doze meses apurada mês a mês, conhecido como “meta contínua”.

Nesse cenário, caso a inflação fique fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos, é considerado descumprimento da meta. De acordo com o BC, a substituição da meta “ano-calendário” por “meta contínua” evita a caracterização de descumprimento em situações de variações temporárias na inflação, como em um choque em preços de alimentos que provoque uma alta temporária, de alguns meses, da inflação.

PRESSÃO E SELIC

Enquanto nomes do partido de Lula, como a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, insistem em ataques a Campos Neto pelas elevações de juros, economistas elevaram a mediana de projeção para a Selic ao fim deste ano a 12%, de 11,75% antes, denotando um aperto de 75 pontos-base na decisão de juros do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira.

Para 2025, a mediana de projeção dos agentes de mercado avançou a 13,50%, ante 12,63%. A Selic encontra-se, atualmente, em 11,25%.

O Copom se reúne nesta terça e quarta-feira, e parte do mercado já aposta em aceleração do ritmo de aperto monetário, caso da XP, que projeta altas de 100 pontos-base na Selic.