BC deve manter ritmo de cortes da Selic apesar de desaceleração da inflação, dizem economistas

O principal fator impeditivo neste momento é o risco fiscal, na visão dos especialistas

Agência Brasil
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Por: Luana Franzão e Fabricio Julião

Um aumento no ritmo de cortes da Selic para 75 pontos-base é improvável, apesar dos dados recentes de inflação abaixo do esperado e da desaceleração da atividade econômica brasileira. Especialistas consultados pela Mover não descartam a possibilidade de o Banco Central afrouxar a política monetária atual, mas riscos persistentes nos âmbitos doméstico e internacional afastam a hipótese de cortes mais abruptos da taxa de juros brasileira.

O principal fator impeditivo neste momento é o risco fiscal, na visão dos especialistas. O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, destacou que o imbróglio gerado nas últimas semanas com o debate sobre a flexibilização do déficit zero em 2024 adicionou incerteza às expectativas de inflação. Somam-se a isso as expectativas de uma nova ala “heterodoxa” que vai compor o BC.

“Além das incertezas sobre o controle fiscal, temos que observar a credibilidade que será passada pela nova diretoria do BC, se eles vão manter os esforços de atingir a meta de inflação ou não”, disse.

Desde que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu a Presidência da República, o governo já indicou quatro dos nove componentes do Comitê de Política Monetária do BC (Copom). No fim do ano que vem, Roberto Campos Neto termina seu mandato como presidente da autarquia.

Os últimos dois nomes indicados pelo governo – o de Paulo Picchetti, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), e de Rodrigo Alves Teixeira, servidor de carreira do BC – têm perfis diferentes. O primeiro é um acadêmico mais ortodoxo, em linha com o colegiado que sustentou o aperto monetário. Já o segundo é tido como alguém de características semelhantes às dos dois primeiros indicados do governo, Gabriel Galípolo e Ailton Aquino, atuais diretores de política monetária e de fiscalização do BC, respectivamente.

FISCAL E INFLAÇÃO

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), ganhou a queda de braço contra a ala mais política do governo e conseguiu manter a meta de déficit zero para o ano que vem. O objetivo, no entanto, vem sendo alvo de dúvidas por parte do mercado, especialmente sobre os meios de arrecadação para equilibrar as contas públicas.

Para o estrategista-chefe da Warren Rena, Sérgio Goldenstein, o risco de uma frustração fiscal segue como fator preponderante, mesmo diante de uma dinâmica de inflação “mais benigna” observada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

O arrefecimento da inflação propicia um ambiente favorável para a redução da taxa Selic, atualmente em 12,25% ao ano, ainda que a trajetória dos preços esteja acima da meta, com o IPCA nos últimos 12 meses registrando variação de 4,82%.

Embora a expectativa para os dados de novembro e dezembro pareça promissora, o economista da Garde Asset, Luis Menon, destacou que ainda não será suficiente para um alívio maior por parte do BC. Para todos os especialistas ouvidos pela Mover, é mais provável que a inflação encerre o ano acima da meta de 3,25%, ainda que abaixo da banda superior, de 4,75%.

“Mesmo se a inflação terminar abaixo do teto, o BC tem que ter o entendimento que o que vale mesmo é a meta estipulada, e não o intervalo de tolerância”, frisou Vale, da MB Associados.

O maior risco para a inflação em 2024 está na categoria de alimentos. Efeitos climáticos provenientes do El Niño podem afetar as plantações e reduzir a oferta de commodities, o que vai encarecer os produtos. “Se tivermos de fato um clima pior e isso impactar a safra do ano que vem, pode haver pressão em toda a cadeia de preços dos alimentos”, declarou Menon, da Garde.

Uma das variáveis que ocasionou maior atenção do mercado após o estouro da guerra entre Israel e Hamas no início de outubro, a taxa de câmbio tem se mostrado “comportada”, assim como o petróleo – itens que também têm efeito potencial para a inflação. “Começamos a ver um cenário mais positivo para emergentes e um câmbio mais controlado, o que impacta diretamente a inflação, e deixa o BC menos preocupado”, explicou Menon.

O Copom volta a se reunir em 12 e 13 de dezembro para deliberar a próxima Selic. O último TC Consenso, publicado pela Mover em 30 de outubro, mostrou que o mercado é unânime ao projetar uma nova redução em 50 pontos-base da taxa básica de juros brasileira, que deve encerrar o ano em 11,75%. No entanto, as expectativas divergem em relação a 2024, com as previsões variando entre 8,50% e 10,25%.

Esta reportagem foi publicada primeiro no Scoop, às 14h51, exclusivamente aos assinantes do TC. Para receber conteúdos como esse em primeira mão, assine um dos planos do TC.

(LF + FJ | Edição: Juliana Machado e Gabriela Guedes | Comentários: equipemover@tc.com.br)