Arcabouço e contaminação política do BC foram discutidos na última reunião do Copom

Comitê acredita que não deve acelerar a magnitude do corte de juros

Agência Brasil
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Por: Machado da Costa, Leandro Tavares e Juliana Machado

Uma questão notável que emergiu das discussões do Comitê de Política Monetária (Copom) foi a incerteza em torno da aprovação do arcabouço fiscal e uma possível contaminação política do Banco Central, mostra a ata da última reunião do grupo, divulgada nesta terça-feira. O Comitê mencionou que, embora tenha retirado essa incerteza de seu balanço de riscos, a dinâmica fiscal ainda é considerada relevante no cenário-base.

Especificamente, observou-se que algumas divergências entre as expectativas de resultado primário estabelecidas pelo governo e as expectativas do mercado podem estar impactando a ancoragem das expectativas de inflação em prazos mais longos. 

Para mitigar essa situação, o Comitê destacou a importância de ancorar as expectativas em torno das metas previstas no novo arcabouço fiscal, demonstrando compromisso fiscal sólido e reduzindo incertezas associadas a medidas tributárias.

Outro fator que foi debatido é o cenário global de inflação elevada. Alguns membros do Copom apontaram que a reancoragem das expectativas fica mais difícil em um contexto de inflação globalmente alta, visto que existe a possibilidade de uma inflação externa persistente em níveis elevados. Essa influência externa pode dificultar o controle das expectativas de inflação no âmbito doméstico.

Além disso, a ata revela que foi mencionada a possibilidade de que os agentes econômicos percebam o Banco Central como mais leniente em relação ao combate à inflação no futuro. Essa percepção poderia impactar as expectativas de inflação e desancorá-las ainda mais.

A despeito das diferentes opiniões apresentadas, o Copom deixou claro que há um consenso entre os membros do Comitê sobre a importância de preservar a credibilidade e a reputação do Banco Central, independentemente da composição da diretoria ao longo do tempo.

Outro ponto discutido foi que a evolução do cenário desde a última reunião, em junho, permitiu acumular a confiança necessária para iniciar um ciclo gradual de flexibilização monetária com um corte de 0,50 ponto percentual na semana passada, segundo ata divulgada nesta terça-feira. O órgão ainda destacou ser pouco provável uma aceleração do ritmo de cortes. 

Para o Comitê, entre os itens analisados, destaca-se o comportamento positivo das expectativas de inflação após a definição da meta pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e o anúncio da mudança para o sistema de meta contínua. Além disso, a ata ressalta que houve clara melhora nos índices de inflação cheia, enquanto a inflação de serviços segue desacelerando na margem. 

Diante disso, com relação aos próximos passos, “os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.

Segundo a ata, os dados relativos ao crescimento no Brasil seguem compatíveis com o cenário-base de moderação da atividade antecipado pelo Copom. “Nota-se que o processo de reequilíbrio da cesta de consumo e, consequentemente, dos preços relativos, entre bens e serviços prossegue, com moderação no consumo de bens em prol de maior demanda no segmento de serviços”. 

Em relação ao cenário internacional, o Comitê avalia que a conjuntura se mostra incerta, mas que notou uma resiliência da atividade e do mercado de trabalho nas economias avançadas, ainda que se observe alguma acomodação na margem, assim como um menor crescimento projetado para a economia chinesa.